Estudo da Robert Half mostra que 62% dos gestores brasileiros
pretendiam contratar profissionais para estes departamentos no segundo semestre.
A
preparação para a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016 está gerando
impacto positivo no mercado de trabalho das áreas contábil e de finanças.
Pesquisa mundial da consultoria Robert Half mostra que o Brasil é a nação que
mais pretende contratar profissionais desses dois departamentos. Fatores como
investimentos em novos projetos e o crescimento dos negócios também justificam
a demanda por mão de obra qualificada, dizem especialistas em recursos humanos.
O estudo, que ouviu mais de dois mil executivos de 14 países, mostra que 62%
dos gestores brasileiros pretendiam criar vagas nas áreas financeira e contábil
no segundo semestre – na média global, o percentual é de 37%. Gerente da
divisão de finanças e contabilidade da Robert Half no Brasil, Alexandre Attauah
avalia que o crescimento do País, aliado ao grandes eventos previstos nos
próximos anos, contribuiu para a expectativa de contratação nesses
departamentos. “O Brasil tem uma economia estabilizada, bem como uma segurança
política que dá sustentação às empresas que querem investir por aqui. Eles
apostam nesse cenário positivo”, afirma. O desenvolvimento de novos projetos
foi apontado por 73% dos executivos brasileiros como principal motivo para o
aumento na contratação. Expansão de serviços e produtos e entrada em novos mercados
ocuparam o segundo e terceiro lugares como razões para a abertura de vagas, com
47% e 40%, respectivamente. Attauah explica que, analisando o histórico da
pesquisa, foi possível constatar que o País investiu muito na expansão do
mercado doméstico nos últimos anos, o que elevou a demanda por vagas nas duas
áreas. “Atualmente, com uma freada na economia, as companhias estão olhando
para dentro e arrumando a casa. Nestes momentos, as organizações privilegiam a
rentabilidade financeira, o que beneficia os profissionais contábil e de
finanças”, afirma o executivo da Robert Half, que aposta na manutenção do ritmo
de contratações nos próximos meses. “A expectativa é de aumento de 25% a 30% na
criação de postos de trabalho frente aos meses anteriores”, prevê. O Sudeste,
com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, continuará concentrando a maior
parte das contratações nas duas áreas, mas as regiões Sul e Nordeste estarão em
alta na expansão e na captação por mão de obra, principalmente na área
contábil, aponta o estudo. Um problema, no entanto, permeia essa busca por
profissionais. Segundo a pesquisa, 56% das companhias consideram desafiador
encontrar profissionais qualificados. “O mercado tem uma demanda recente por
profissionais dessas áreas, portanto a oferta desses perfis é menor que, o que
dificulta a procura por colaboradores com competências específicas”, afirma . Segundo
o levantamento, as empresas não buscam apenas qualidades técnicas, mas também
habilidades comportamentais como boa comunicação, trabalho em equipe e perfil
de liderança. Entre os setores analisados, os que mais sofrem com a escassez de
mão de obra nas duas áreas são os setores financeiro, comércio eletrônico, bens
de capital, agronegócio, óleo e gás e farmácia. Ao mesmo tempo em que os
executivos brasileiros são os mais otimistas em relação ao aumento de suas
equipes nas áreas contábil e de finanças, eles também são os mais preocupados
com a perda de profissionais para outras empresas. Segundo a pesquisa, metade
dos gestores do País afirmou estar muito receoso, enquanto outros 45% disseram
estar preocupados em perder seus talentos para o mercado. “O Brasil é um polo
de formação, de conhecimento e de tecnologia, e é natural essa movimentação no
mercado, o que se configura a retenção como um grande desafio para as
empresas”, avalia.
Portas abertas
Quem
está no mercado aposta em um cenário mais promissor no futuro. Ainda assim,
alguns desafios devem surgir pelo caminho. Sócio da área de consultoria da Crowe
Horwath Brasil, Fábio Farina explica que a demanda por profissionais de
contabilidade e finanças também está associada à mudança de perfil das empresas
brasileiras. “O País vive mudanças radicais na área de contabilidade. Em
paralelo, muitas empresas foram para o mercado de capitais, o que exigiu a
contratação de profissionais da área”, revela. Farina corrobora o dado da
pesquisa que mostra a preocupação da empresas em encontrar executivos que combinem
qualidades técnicas e comportamentais, principalmente trabalho emequipe e
perfil de liderança. Segundo ele, a Crowe Horwath Brasil tem dificuldade em selecionar
profissionais com essas características, o que explica a elevada margem de turnover
no mercado como um todo. “O que passamos aqui certamente é visto em outras
empresas”, avalia o executivo. “Não crescemos mais porque não tenho
profissionais qualificados. Infelizmente é a realidade, pois a demanda por
serviços é grande”, completa. O sócio da Crowe Horwath Brasil acredita que a
área contábil não é muito valorizada no Brasil, o que acaba influenciando a
formação de executivos. “É importante encontrar uma maneira de estimular o
interesse dos jovens pela profissão”, diz Farina, acrescentando que esses
profissionais são valorizados nas culturas norte-americana e europeia. “Para se
ter ideia, um trainee em Nova York ganha US$ 70 mil por ano e, na Inglaterra, o
certificado de contador é entregue pela rainha. Ninguém aqui sonha em ser
contador ou trabalhar na área de finanças”, afirma o executivo. “Para piorar,
as novelas brasileiras nos retratam como os responsáveis pelo desvio de
dinheiro nas empresas”, completa.
Caminho
Três
dicas são importantes, tanto para quem está na atividade, ou quem se interessa pela
área, avalia Farina. “A primeira é buscar atualização. A segunda é entender que
o mercado busca profissionais de relacionamento, que entendem a empresas e seus
negócios. Por fim, é necessários estar pronto para enfrentar barreiras e
desafios”, conclui. Supervisor de contabilidade da fabricante de embalagens Rexam,
Fernando Vieira analisa que o leque de oportunidades na área aumentou. “O
mercado não vê só aquele cara que faz o imposto de renda. Já perceberam que o
contador é aquele que analisa e ajuda a administrar os negócios”, enfatiza. Para
Vieira, a mudança de percepção está ligada às alterações na legislação
brasileira. “De 2008 para cá, o mercado como um todo se tornou mais rigoroso.
Antes, as empresas não tinham obrigações e, agora, não só existe uma
padronização, como passaram a exigir números mais confiáveis das companhias,
abrindo vagas para muitos profissionais”, avalia o executivo da Rexam. Com
experiência de 21 anos em contabilidade, o auditor destaca que a atividade é
uma alternativa promissora para quem busca uma profissão nos próximos anos. “O
mercado percebe que o profissional é necessário e tem uma função global para a
empresa. A partir de agora, as possibilidade na áreas de finanças e contábil serão
ampliadas”, acredita o executivo, destacando que os investimentos no pré-sal
devem elevar ainda mais a demanda por profissionais.
Fonte: JC
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