Brasil só é menos vulnerável que Colômbia, Argentina, Indonésia e
Turquia. Para analista, estudo é 'cruel' e não há risco de crise financeira no
país.
Estudo
do Wells Fargo Securities divulgado recentemente aponta o Brasil como o quinto
país em desenvolvimento, entre 28 economias pesquisadas, mais vulnerável a uma
crise financeira, sendo "ultrapassado" neste ranking somente pela
Colômbia, Argentina, Indonésia e Turquia. O Wells Fargo criou um "sistema
de aviso prévio" sobre possíveis crises financeiras, que leva em
consideração, segundo a instituição financeira, pesquisas conduzidas nas
últimas duas décadas por diferentes pesquisadores. Pelo sistema, cinco
variáveis econômicas estão associadas com crises financeiras: o nível de
reservas internacionais na sua comparação com o Produto Interno Bruto (PIB)
nominal; a valorização da taxa real de câmbio; o crescimento do crédito ao
setor privado em sua porcentegem do PIB; o avanço do PIB propriamente dito; e o
nível do déficit em transações correntes (contas externas). "Países que
têm baixo nível de reservas internacionais, taxa de câmbio apreciada,
crescimento rápido do crédito e do PIB, além de déficits em conta corrente,
tendem a ter maior probabilidade de crises financeiras", avaliou o Wells
Fargo no estudo.
Brasil
Segundo
o estudo, o Brasil é vulnerável por ter registrado, nos últimos anos,
crescimento rápido do crédito ao setor privado, o que, segundo o Wells Fargo,
geralmente vem acompanhado de relaxamento dos parâmetros prudenciais de
empréstimos, além de ter apurado valorização da taxa de câmbio - que leva ao
aumento do déficit das contas externas - também registrado no Brasil (que tende
a ser financiado por ingresso de capitais).
Crises são evitáveis
"As
crises, entretanto, não são necessariamente inevitáveis nos países pesquisados
[10 primeiros colocados, entre eles o Brasil]. O país pode parecer 'maduro'
[pronto] para uma crise, mas pode eventualmente ser capaz de evitá-la. Os
mecanismos de auto correção de uma economia podem funcionar, ou as autoridades
podem tomar medidas para corrigir os desequilíbrios econômicos antes que uma
crise financeira se instale", avaliou o Wells Fargo em seu relatório.
Entretanto,
o documento também pondera que, caso algum evento econômico gere aversão maior
ao risco na economia global, os países que aparecem como sendo mais vulneráveis
no ranking estariam em "perigo maior" do que as economias que estão
mais estáveis econômica e financeiramente.
Avaliação de economistas
Segundo
Gilberto Braga, economista do Ibmec, a avaliação do Wells Fargo precisa ser
respeitada, pois não está "necessariamente errada", mas ponderou que
os modelos econômicos utilizados são apenas uma "ferramenta de
análise". "Não estamos tão ruins como eles estão observando. Nosso
nível de reservas [cambiais, acima de US$ 370 bilhões] é bastante positivo.
Temos estabilidade interna e política. Embora pouco façamos em termos de marco
regulatório, temos um país em paz, sem guerra, sem ditadura e sem governo
militar. Uma democracia, que ainda aos trancos e barrancos funcione, é um
diferencial da economia brasileira", avaliou o economista do Ibmec. Para
Celso Grisi, presidente do Instituto Fractal de Análises de Mercado, essa
avaliação da Wells Fargo é "um pouco cruel". "Tivemos expansão
do crédito e comprometimento da renda elevados, assim como o consumo das
famílias, o que produziu inflação. Mas isso se reduziu com a alta da Selic
[juros básicos] e com o ritmo menor de crescimento da economia. Os bancos estão
fazendo uma política mais seletiva de crédito. Não há nenhum risco de crise
financeira", declarou ele. De acordo com o economista, o passivo externo
brasileiro, por sua vez, também é "saudável". "Grandes
corportações buscam recursos lá fora e temos mais de US$ 370 bilhões em reservas
internacionais, suficientes para enfrentar oscilações do dólar. Se houver
redução de estímulos nos Estados Unidos em 2014, será gradual. Os riscos de
ruptura sao cada vez menos presentes", disse Grisi. Ele admitiu, porém,
que o risco de rebaixamento da nota brasileira, pelas agências de classificação
de risco, é "muito provável" no futuro por conta da política fiscal
(gastos públicos). O economista do Instituto Fractal recomendou que o governo
"pense em em elementos que tornariam ambiente de negócios mais atraente no
Brasil".
Fonte:G1
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