Cinismo de Mantega não ajuda o resgate da confiança.

Ministro não entende direito a ética da responsabilidade.

Há uma visão equivocada do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, do que seja a ética da responsabilidade – aquela que costuma ser usada, mas também abusada e distorcida pelo homem público, que necessita administrar a verdade, ao pensar no efeito de suas ações e declarações. Por causa dessa visão equivocada, ele acha que pode tratar a imprensa do jeito que ele trata. Com desdém e cinismo. Mas a imprensa divulga o que ouve - e o que houve. Por isso, se não convém responder a todas as perguntas dos repórteres ao chegar a seu Ministério, que tal apenas acenar com um sorrisinho? Mas ele não perde a oportunidade de expressar desprezo pelo mercado. Perguntado se a queda da inflação poderia ensejar um possível reajuste de gasolina, soltou essa pérola do cinismo cultivada nos jardins do Planalto: "Isso não é assunto nosso. Reajuste da gasolina é com a Petrobras". Em tempo: o Ministro é o presidente do Conselho de Administração da estatal. Todo mundo sabe que a Petrobrás vem implorando ao Governo para aumentar os combustíveis que é obrigada a vender mais barato do que compra no exterior, para suprir a defasagem entre a produção interna e o aumento da demanda estimulada pelos carros (comprados em 60 meses) de Dona Dilma. O rombo que essa prática perversa vem provocando à saúde financeira da estatal prejudica seu plano de investimento e já levou ao rebaixamento da nota de crédito da agência de classificação de risco Moody's. Segundo a agência, o rebaixamento traduz a elevada alavancagem financeira da empresa. A Moody's ressaltou a expectativa – provavelmente se a Petrobras mantiver os absurdos subsídios aos combustíveis - de que a empresa deverá continuar a ter grande fluxo de caixa negativo nos próximos anos, à medida que conduz seu programa de investimentos para explorar a camada pré-sal. A perspectiva para a nota permanece negativa. Recai sobre a Petrobras um injusto peso de ajudar a conter uma inflação que o Governo sequer cogita em segurar quando se trata de afetar outros gastos que também prejudicariam seu projeto de eternização no Poder. O cinismo do Ministro em conexão com essa política de maquiar a inflação à custa inclusive da saúde financeira de uma das maiores empresas do Brasil só aumenta a desconfiança dos investidores privados no País. Tal custo não é computado pelas obstinadas e cegas cabeças petistas do Planalto. Segundo editorial do “New York Times”, esta semana, “o baixo investimento privado em é um dos obstáculos a serem ultrapassados pelo governo. O crescimento de 0,9% em 2012 resultaria, portanto, do fraco ímpeto do empresariado – a ausência do tal ‘espírito animal’”. Porém, figurativamente, animal se assusta e foge ao primeiro sinal de perigo. De verdade, ele precisa ser bem acolhido, pacificado, tranquilizado para não ter medo. Animal - e o capital - são espertos e sensíveis. Eu diria quase paranoicos. Temem riscos desconhecidos. O “espírito animal”, uma das figuras mais importantes do pensamento econômico, que traduz o desejo de empreender e de lucrar do ser humano, é equilibrado por um receio enorme de perder. Pois há evidências experimentais de que a dor da perda é bem maior do que a satisfação de ganhar. E o Governo, diante dos empresários, não atentou para o sábio ditado inglês que reza serem os tolos os que avançam impetuosamente onde os anjos teriam receio de pisar (Fools rush in where angels fear to tread).



Fonte: P.  Sternick   

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