O
placar das expectativas sobre o desempenho da economia tem alta chance de
encerrar a semana com três resultados favoráveis e dois negativos, sendo que
estes podem complicar o saldo positivo. Dos três resultados positivos, um está
dado: a taxa de desemprego em outubro continuou baixa, oscilando de 5,4% em
setembro para 5,2% em relação à população economicamente ativa, PEA. O outro
resultado é altamente provável: a privatização dos aeroportos do Galeão e de Confins,
cujo leilão está marcado para esta sexta-feira. A previsão é que não haja
frustração. Se a comunicação do governo for eficaz, não aleatória como de
hábito, tal evento terá efeito multiplicador. O governo precisa de eventos
positivos concretos, não de marketing eleitoral, para convencer as agências de
rating sobre a solidez das contas fiscais, função, hoje, do impulso do
crescimento econômico e do controle do gasto público — preliminares da melhora
do superavit primário em relação ao PIB. O numerador e denominador dessa
relação não têm favorecido os prognósticos sobre as contas nacionais. Ainda
assim, um importante funcionário da área econômica ouviu do responsável pela
seção Brasil de uma das três grandes agências de rating a disposição de dar crédito
aos esforços fiscais do governo e adiar para 2015 a apreciação da nota da
dívida soberana do país. É o terceiro resultado positivo, embora condicionado a
um conjunto de circunstâncias e a seus desdobramentos, tal como o sucesso das
licitações encruadas de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos. Esse evento
ainda incerto é o que mais preocupa o governo: o risco de uma das agências de
rating rebaixar a nota da dívida soberana do país. O juro dispararia e a
liquidez encolheria, podendo tumultuar os mercados e a campanha à reeleição da
presidente Dilma Rousseff. O risco foi anunciado pelas agências Standard &
Poor’s e Moody’s, ao colocar a nota de crédito do país com viés de baixa.
Depois dos avisos, a presidente se mexeu. Desistiu do projeto que alterava o
indexador da dívida de estados e municípios, assinou um pacto com os partidos aliados
no Congresso para não levar a voto uma fieira de atentados orçamentários e,
pelo lado das receitas, aprovou três refinanciamentos de dívidas tributárias, os
tais Refis — dinheiro extra para reforçar o desmilinguido superávit primário.
O passado aqui é incerto
E
os eventos negativos? Ainda são potenciais. Um vem de lambanças anteriores a
2003. Outro, pós-2003. O mais antigo é o contencioso levado ao Supremo Tribunal
Federal por investidores contrariados com supostas perdas da correção monetária
na transição dos choques heterodoxos contra a inflação durante os planos Cruzado
I e II, o Verão e o Collor I e II. As perdas são atribuídas aos bancos — e
apenas ao Banco do Brasil o prejuízo potencial é da ordem de R$ 25 bilhões —,
embora devidas a fórmulas dos governos da época. O STF acaba de decidir por
seis votos em 11 que a base de cálculo do Imposto de Renda de 1989 devia ter sido
corrigida pela inflação oficial e não a expurgada. Semana que vem, aprecia as
demandas dos investidores. Se repetir o juízo da ação do IR, a banca vai sofrer
um tranco. E a parte da banca federal talvez sobre para o Tesouro.
Petrobras fica para trás
A
negociação de última hora do ministro Guido Mantega com o SFT é o real motivo
de ter sido adiada a reunião desta sexta do Conselho de Administração da
Petrobras, quando seria apreciada a fórmula para a correção do preço da
gasolina e diesel. Mantega preside o conselho da estatal, e ele tem dúvida
sobre o momento de desafogar via preço o caixa da Petrobras, gerando
implicações inflacionária e fiscal. A impressão é que velhos problemas
acumulados despontaram todos de uma vez e estão a morder o calcanhar de um
governo que assistiu ao aumento do gasto público nos últimos 10 anos ao ritmo
de R$ 46,3 bilhões ao ano (em dinheiro de hoje) — crescimento real de 106% —, e
hoje se vê com o caixa curto e demandas que não consegue cumprir.
PIB pequeno para o gasto
Por
tais razões o governo levou a sua base no Congresso a aprovar projeto de lei
que o desobriga de cumprir a meta fiscal frustrada de estados e municípios — uma
facilidade criada pela gestão Dilma que ela se vê obrigada a revogar. Na
prática, significa que o naco do gasto público economizado para o pagamento de
juros diminui, na contramão dos sinais esperados pelas agências de rating. O
governo petista alega que a disciplina fiscal, desde 2003, nunca foi
abandonada, conforme a trajetória da dívida pública bruta, que caiu de 70% do
PIB para 59%. É fato, mas assim foi com uma taxa de crescimento médio anual do
PIB de 4,4% entre 2004 e 2010, mais que o dobro da média no triênio de Dilma. A
arrecadação potencial caiu, mas a expansão do gasto continuou à base de 7%
real/ano. Acomodá-lo à meta fiscal é um desafio para as fórmulas usuais do
governo.
Fonte: JC
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