Projeções econômicas para 2014 não encontram consenso.

Especialistas divergem acerca do crescimento do país e ajuste fiscal nos próximos anos.

A sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, recebeu nesta segunda-feira (18/11) o seminário Perspectivas da Economia Brasileira 2014, para que pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV/Ibre) apontassem projeções macroeconômicas para a economia brasileira e mundial. O debate em torno do crescimento não conseguiu chegar a um ponto de convergência. Economistas próximos ao governo defendem que haverá crescimento razoável, enquanto outros acham que haverá um crescimento menor. A discussão fica intensa também em relações às políticas econômicas do governo para que o crescimento seja alcançado, com economistas já apontando caminhos adotados e outros duvidando que ações mais efetivas sejam tomadas. Para o pesquisador do Ibre Nelson Barbosa, que deixou o Ministério da Fazenda em meados de 2013 depois de 10 anos de atuação no governo, o país deve crescer entre 2% e 3% no ano que vem, contra a expectativa de 1,8% do estudo desenvolvido pelo Ibre, sob responsabilidade da pesquisadora Silvia Matos. Ele separa as expectativas de crescimento em três grupos - a do mercado, que prevê crescimento de 2,2%, com base na desaceleração do investimento; a dos otimistas, de 3%, com base na recuperação do investimento pela infraestrutura, câmbio estável de R$ 2,30 e reajuste de energia e gasolina - que não devem, acredita, causar impacto muito grande na inflação; e, por fim, a dos pessimistas, de 1,5%, com base no aumento da inflação, aumento do câmbio e cancelamento das desonerações (taxa próxima da projeção do Ibre, ele ressalta). O resultado primário, ele acredita, deve corresponder a 1,5% do PIB, uma situação sob controle, apesar de estar um pouco abaixo das expectativas. O primário do setor público deve ficar em R$ 73 bilhões neste ano e em R$ 78 bilhões em 2014, considerando a retirada dos estímulos às termelétricas, que teve impacto de R$ 9 bilhões neste ano; o fututo reajuste da gasolina, que teve impacto de R$ 4 bilhões; e a discussão sobre abono salarial. Em relação aos desembolsos do BNDES, Nelson projeta que vai cair dos R$ 190 bilhões deste ano para R$ 150 bilhões em 2014, "o que deve gerar grande impacto na economia". Ele também reforça que uma retomada da produção de caminhões deve causar um impacto positivo. Ele lembra a queda de 41% em 2012, devido ao novo padrão de eficiência energética, em relação às 223 mil unidades produzidas em 2011. "Só isso explica maior parte da queda do investimento em 2012", diz. Neste ano, a projeção do pesquisador é que a produção cresça 45%. A inflação em 2014 deve ficar em 6%, no pior cenário, que ainda "é melhor do que o que vimos nos últimos anos". Já em relação ao salário mínimo, com o crescimento de 0,6% no ano que vem, o ritmo de crescimento do consumo deve ser um pouco mais lento. Silvia Matos, que abriu o seminário com as previsões do modelo macro econométrico desenvolvido pelo Ibre sob sua responsabilidade, ressaltou, todavia, que as incertezas para o próximo ano são "muito elevadas", levando em conta o cenário internacional, e que deve haver baixo crescimento e alta inflação, com crescimento do PIB de 1,8% em 2014. Ela destacou também sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho, com menor participação dos jovens, e menor confiança do empresariado. O cenário econômico dos Estados Unidos e Zona do Euro deve ser mais favorável para esses países, aponta, com um crescimento não tão bom quanto se esperava, mas, de qualquer forma, longe da recessão. O PIB dos EUA deve crescer 1,8% neste ano e 2,4% no próximo. Na América Latina e no México, contudo, a desaceleração é generalizada, com um quadro um pouco mais pessimista para o Brasil - já que os países da AL têm maior espaço para adotar políticas monetárias mais "acomodatórias", devido a inflação menos resistente. "O crescimento brasileiro parece que foi transitório. Não é uma tragédia, claro", disse Silvia. Ela acredita, todavia, que a política fiscal continuará expansionista, com "muitos riscos à frente". "Apesar do alívio temporário do câmbio, os riscos inflacionários persistem." De acordo com Silvia, a confiança de todos os setores da economia continua muito fraca, com desaceleração expressiva. Na indústria, a confiança seria ainda mais baixa. Com relação ao mercado de trabalho, ela explica que a população ocupada tem crescido, mas aquém do mesmo período do ano anterior. "Jovens estão participando menos do mercado de trabalho e a população ocupada está crescendo pouco." Ela ressalta, contudo, o bom crescimento da agropecuária neste ano, que deve contribuir com 0,5% do PIB. Quanto à porcentagem do superávit primário no PIB, Silvia prevê que deve ficar em torno de 0,4% em 2014, contra 1% em 2013 e 1,7% em 2012. Ela reforça o peso das desonerações, que significaram R$ 34 bi em 2012 e R$ 59 bi em 2013. "A expansão das desonerações alcança 1% do PIB e afeta capacidade de arrecadação." Nesse cenário, Silvia sugere que pelo menos três desonerações podem ser canceladas, melhorando a arrecadação. A inflação (IPCA), acredita, deve ficar em 6,1% em 2014, um pouco próximo da avaliação de Nelson Barbosa. Para este ano, ela projeta uma taxa de 5,7% ou 5,9% - caso haja o reajuste do preço da gasolina. Enquanto Nelson Barbosa aponta ações como redução dos desembolsos do BNDES e aumento do preço da energia elétrica, e Silvia fala que a política fiscal continuará expansionista e que existe a necessidade de cancelamento de três desonerações, o pesquisador do Ibre Samuel Pêssoa acredita "que algum ajuste fiscal deve ser adotado em 2014, mas que a maior parte deve ficar mesmo para 2015". Reforça ainda que uma posição sobre o contrato social e salário mínimo deve ficar mais para frente, em 2018. Já o pesquisador Armando Castelar apresentou a expectativa mais pessimista em relação à adoção de medidas para conter os gastos. Ele não acredita que essas ações sejam tomadas nem mesmo após as eleições, considerando que o custo delas é muito alto.



Fonte: JB

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