FAMÍLIAS - Endividamento supera 45% da renda disponível

Quem planeja gastar neste fim de ano terá de encontrar uma brecha no já apertado orçamento doméstico. Isso porque o endividamento do brasileiro, que havia estacionado em setembro, voltou a subir em outubro, o último dado disponível da pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Banco Central (BC). Naquele mês, o montante das dívidas contraídas pelas famílias alcançou o patamar de 45,38% da renda disponível pelo período de um ano. Os dados sugerem que o endividamento recorde, apesar de crescente, é consequência do maior acesso ao financiamento imobiliário. Caso fossem descontadas as parcelas contraídas com a compra da casa própria, as dívidas das famílias cairiam, em outubro, para 30,08% da renda anual. O número apresenta leve recuo sobre o resultado de setembro, de 30,25%. Segundo informou o BC, essa comparação que exclui os débitos imobiliários atingiu, em outubro, o menor patamar já registrado desde julho de 2010. Não é motivo para comemoração, disse o especialista em finanças pessoas Silvio Paixão. Ele orienta o consumidor que já está endividado a não assumir novos compromissos este fim de ano, para evitar surpresas desagradáveis no orçamento. “Quem estiver pendurado no cartão ou no cheque especial tem que utilizar a segunda parcela do 13º para quitar essas dívidas, e não assumir novas despesas. O presente só é bom para aquele momento do Natal. Já a saúde financeira é para o resto da vida”, ele disse. O crescente endividamento das famílias, diz o economista Miguel Oliveira, da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), tem minado as expectativas para as vendas de fim de ano. “Este vai ser um Natal diferente do que tivemos no ano passado. Lá atrás, as expectativas eram melhores. Os juros estavam em queda e a inflação estava um pouco mais comportada. Tudo isso vai fazer com que o consumidor seja mais cauteloso nas compras”, disse. “Aquele lojista que esperava um bom fim de ano, que se entupiu de estoque, certamente vai ter um Natal frustrante. Nos shopping centers, há comerciantes fazendo promoções antes mesmo do dia 23, tudo para desovar estoques. Então, infelizmente, vai ser o
natal da decepção”, ele disse.
Juros
O já endividado brasileiro também terá um Natal mais caro. Em novembro, a um mês das festas de fim de ano, os consumidores que tomaram crédito já sentiram no bolso o peso da alta da Selic, que chegou, no fim daquele mês, ao patamar atual de 10% ao ano – em abril, a taxa estava na mínima histórica, 7,25%. Como consequência dessa elevação, os juros cobrados das pessoas físicas atingiram a casa dos 38,5% anuais. A última vez que as taxas subiram tanto foi em abril de 2012, para 39,4%, segundo informou o BC. O encarecimento do crédito tende a se manter nos próximos meses, acompanhando a elevação da taxa básica de juros, que pode chegar a 11% em fevereiro. A elevação da Selic afeta os custos dos bancos, que têm que pagar mais caro para tomar dinheiro emprestado no mercado financeiro. Isso já aconteceu ao longo de 2013, quando o chamado custo de captação subiu, em média, 2 pontos percentuais, para 8,5% ao ano. Quanto mais altos forem os juros cobrados do cliente, mais gordos tendem a ser os lucros bancários. De cada R$ 100 emprestados, os bancos lucraram, em média R$ 26,60. E, ao que tudo indica, os resultados contábeis dessas instituições deverão ser novamente impressionantes em 2014. “Em novembro, 12 das 17 modalidades de crédito com recursos livres ficaram mais caras”, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. Calote diminui Das linhas que mais pesaram no bolso do consumidor, o destaque, mais uma vez, foi o cheque especial. A alta de 1,9 ponto percentual em novembro fez as taxas médias dessa operação atingirem 146,4% ao ano. Igualmente elevados foram os juros do crédito pessoal. Mesmo tendo recuado 1,6 ponto no mês, as taxas médias dessa modalidade foram de 86,4% ao ano em novembro. As taxas do cartão de crédito, que, em alguns casos, podem ultrapassar os 600% ao ano, não são pesquisadas pelo BC. Já a inadimplência de quem recorre a essa linha foi de 15,6% das operações, queda de 0,6 ponto, segundo informou a autoridade monetária. Não por acaso, o rotativo foi a modalidade com o maior nível de calotes em novembro. Considerando todas as operações bancárias com recursos livres, a inadimplência foi de 4,8% em novembro. Foi o menor volume de atrasos já registrado desde abril de 2011.



Fonte: JC

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