Vilão da balança comercial no ano passado, o petróleo
não mostrou, até o momento, reversão satisfatória do desempenho negativo em
2014.
Com rombo de US$ 6,1 bilhões no
primeiro bimestre de 2014, a balança comercial brasileira pode ganhar fôlego
até junho com o aumento dos embarques de soja. Mas, embora o movimento deva
garantir alguns meses de superávit, as perspectivas para o ano são incertas.
Especialistas trabalham com a possibilidade de um pequeno superávit, a exemplo
do saldo de, aproximadamente, US$ 2,6 bilhões registrado em 2013, ou mesmo de
saldo negativo para este ano. Vilão da balança comercial no ano passado, o
petróleo não mostrou, até o momento, reversão satisfatória do desempenho
negativo em 2014. A conta-petróleo fechou 2013 deficitária em US$ 20,1 bilhões.
Nos dois primeiros meses deste ano, reduziu em US$ 1 bilhão o déficit na
comparação com o mesmo período do ano passado, de US$ 4,6 bilhões para US$ 3,6
bilhões. O governo tem manifestado expectativa de melhora. No entanto, para
Walber Barral, consultor e ex-secretário de Comércio Exterior, a questão pode
não ter solução tão rápida. “O Brasil aumentou muito a exportação de petróleo
[bruto] comparativamente a quatro, cinco anos atrás. Mas também está importando
muito [produtos] refinados. Você tem um atraso nos projetos de exploração [de
petróleo] e um aumento no consumo [interno] de produtos refinados. Como
aumentou muito o consumo de gasolina, por exemplo, o Brasil deve recorrer à
importação”, avalia. Outra dificuldade para melhora do desempenho da balança em
2014 é a queda de preço das commodities (Getty Images) Outra dificuldade para
melhora do desempenho da balança em 2014 é a queda de preço das commodities
(Getty Images) O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB),
José Augusto de Castro, destaca também a necessidade de acionamento das termelétricas
em função da baixa nos reservatórios de água. Ele ressaltou que isso levou a um
aumento nas importações de óleo diesel. “Quando fizemos projeção [para a
balança comercial] em dezembro, não se sabia que haveria uma queda tão forte
[nas exportações de petróleo e derivados]. Em janeiro aumentou, mas em
fevereiro caiu. O governo elevou a participação de etanol na gasolina, para
aumentar o consumo do álcool e reduzir o de gasolina [diminuindo, assim, as
importações do derivado de petróleo] mas não adiantou”, comenta. Outra
dificuldade para melhora do desempenho da balança em 2014, essa já esperada, é
a queda de preço das commodities. Em alguns casos, como o da soja, o volume dos
embarques compensou a redução de preços.
Os produtores brasileiros anteciparam o envio da soja para garantir os
preços atuais, o que contribuiu para o volume elevado registrado no início do
ano. Em fevereiro, por exemplo, foram embarcadas 2,79 milhões de toneladas,
190,7% mais que em igual período de 2013.
A expectativa é que, em abril, maio e junho, com o início efetivo da
safra, a quantidade cresça e garanta resultados superavitários para a balança,
mesmo com a estiagem no Paraná e as chuvas em Mato Grosso provocarem redução na
estimativa de colheita. Segundo Robson Mafioletti, assessor da Organização das
Cooperativas do Paraná (Ocepar) e da Expedição Safra, projeto do setor privado
que faz levantamentos sobre a safra de grãos, a aposta é que a projeção de
embarque de aproximadamente 45 milhões de toneladas não sofrerá grande
alteração. “Mesmo com essa quebra de safra, [a quantidade a ser exportada] é um
pouco maior que a do ano anterior [que foi 43 milhões de toneladas]”, destacou.
“Isso [a soja] deve garantir superávit para o meio do ano. Depois que acabar, é
outro problema”, acrescenta José Augusto de Castro, da AEB. Ele lembra que,
além do grão, o dólar valorizado pode dar fôlego às exportações. A alta da
moeda norte-americana teve início em 2013, mas o efeito desse tipo de movimento
na balança não é imediato. A redução nas exportações brasileiras para Argentina
e Venezuela, tradicionais parceiras comerciais, também deve afetar a balança em
2014. A Argentina enfrenta uma crise econômica e vem aplicando forte
desoneração cambial. Na Venezuela, há temor dos exportadores em fechar negócio,
pois tem havido atraso na liberação dos pagamentos. José Augusto de Castro,
projeta perda de aproximadamente R$ 3 bilhões no caso da Argentina e R$ 1
bilhão em se tratando da Venezuela. Ante tantas variáveis, não há definição
sobre como fechará a conta das exportações e importações brasileiras este ano.
A projeção oficial da AEB, ainda não alterada, é superávit de US$ 7,2 bilhões.
No entanto, José Augusto de Castro acha difícil um resultado positivo nesse
patamar. “Deve ser menor, podendo até ser déficit”, acredita. O consultor
Walber Barral acredita que o país repetirá o desempenho de 2013. “A perspectiva
é manter o quadro do ano passado. Provavelmente, um superávit muito pequeno”,
prevê.
Fonte: InfoMoney
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