Brasil cresce menos, diz FMI.


Alta do PIB projetada para este ano é, agora, de apenas 1,8%, menos que a metade dos 4% previstos em abril do ano passado. Em janeiro, ou seja, há apenas três meses, estimativa era de 2,3%. Entre os emergentes, aumento pífio só não é menor que o da Rússia.


Enquanto o mundo retoma a curva do crescimento, o Brasil vai na direção contrária. Em relatório divulgado ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do País pela quarta vez consecutiva. A alta projetada para este ano é, agora, de apenas 1,8%, menos que a metade dos 4% previstos em abril do ano passado. Em janeiro, ou seja, há apenas três meses, a taxa prevista ainda era de 2,3%. Para 2015, a previsão caiu para 2,7%, ante 2,9% em janeiro. O documento "Panorama Econômico Global", elaborado pelo fundo, mostra que o Brasil avança em ritmo bem mais lento do que a média mundial. Entre os países emergentes, o aumento pífio projetado para a economia brasileira só não é menor que o da Rússia — que está à beira de uma guerra, enfrenta fuga de capitais e sofre sanções econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos por ter anexado a província ucraniana da Crimeia. Na América Latina, o País só está mais bem colocado que a Argentina e a Venezuela, dois países às portas de uma convulsão social. Pelas contas do FMI, a economia russa vai crescer 1,3% este ano, a Argentina não passará de uma alta de 0,5% e a Venezuela deve mergulhar numa recessão de 0,5%. "O Brasil não vive a crise econômica e política atravessada por Moscou. Isso mostra que é preciso se preocupar com a situação econômica brasileira. Esse ajuste da projeção do FMI reflete o aumento da desconfiança na economia do país pelos investidores e confirma que o problema maior é a falta de capacidade de gestão interna", analisou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Na avaliação do economista, o Fundo ratifica o que o mercado pensa em relação ao País. "O estudo do FMI reflete a gangorra do humor na bolsa por conta das aprovações ou desaprovações da presidente Dilma (Rousseff )", disse ele. "O corte da taxa de alta do PIB brasileiro simplesmente confirma o recente rebaixamento da classificação do país feito pela agência Standard & Poor’s", emendou. "Na verdade, a gente está colhendo o que plantou com a política errada de tentar estimular apenas a demanda doméstica", resumiu o economista Chefe do BES Investment Bank, Jankiel Santos. "É preciso que o governo tome uma atitude mais consistente para recuperar a confiança. O lado fiscal continua uma desgraça, a inflação está cada vez mais perto de 6% e o governo sinaliza que pode encerrar o ciclo de aperto monetário, o que está errado", acrescentou. Ao contrário do mercado, que prevê aumento mais acentuado no custo de vida este ano, o Fundo reduziu a perspectiva de inflação do Brasil de 6,3% para 5,9%, na comparação com o relatório de outubro de 2013. Para 2015, a expectativa é que esse índice seja ainda menor: 5,5%. "Essa redução ocorre porque a metodologia do FMI não contabiliza a expectativa de aumento dos preços que estão represados, como os de tarifas públicas e de combustíveis. A fórmula deles é mais simples e considera que, se há um corte no crescimento, haverá demanda menor, e isso ajudará a reduzir os preços", explicou Jankiel. Para ele, é cada vez maior a chance de o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuar próximo do teto da meta oficial, de 6,5%, ou mesmo superar essa marca. O relatório do FMI avalia ainda que o déficit nas contas externas do Brasil deve atingir 3,6% do PIB, neste ano e aumentar para 3,7% em 2015 – níveis superiores à média prevista para os países sul-americanos, de 2,8% e 2,9%, respectivamente. O desemprego, que ficou em 5,4% no ano passado, voltará a crescer, passando para 5,6%, em 2014, e para 5,8% no próximo ano.
Crescimento mundial
A recuperação global vai se fortalecer este ano conforme a produção em países mais ricos acelera, mas o FMI alertou para riscos em economias emergentes. No relatório divulgado ontem, o organismo informou que políticas melhores são necessárias para elevar a capacidade produtiva mundial e evitar período prolongado de crescimento lento. Para o FMI, a produção global deve crescer 3,6% este ano, levemente abaixo do que o previsto em janeiro, e avançar 3,9% no ano que vem. No entanto, o número esconde divergência cada vez maior entre os países. Enquanto menos austeridade fiscal deve ajudar a liberar o crescimento nos Estados Unidos e na Europa, os mercados emergentes devem crescer mais lentamente do que se acreditava apenas alguns meses atrás devido a condições financeiras mais apertadas, segundo o Fundo. Riscos geopolíticos também entraram no cenários devido ao conflito entre Rússia e países ocidentais sobre a Ucrânia. "O fortalecimento da recuperação da Grande Recessão nas economias avançadas é um acontecimento bem-vindo", informou o FMI. "Mas o crescimento não é igualmente robusto no globo, e mais esforços são necessários para restaurar completamente a confiança, assegurar o crescimento robusto e reduzir os riscos". Apesar da fraqueza relacionada ao clima no começo do ano, o FMI informou que os EUA devem aproveitar crescimento acima da tendência de 2,8% este ano graças ao corte orçamentário menos severo, ao mercado imobiliário em recuperação e à política monetária expansionista. O Fundo argumentou que não espera que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), eleve as taxas de juros até o terceiro trimestre do ano que vem. A atividade econômica na zona do euro deve se recuperar levemente conforme os países desacelerem o ritmo da austeridade fiscal, mesmo que a zona do euro continue sofrendo de fragmentação financeira e fraca oferta e demanda de crédito. O FMI repetiu alertas sobre o nível muito baixo de inflação na zona do euro e via risco de cerca de 20% de deflação prejudicar o crescimento na região. "Baixa inflação sustentada provavelmente não contribuiria para recuperação adequada do crescimento econômico", afirmou o Fundo, instando novamente o Banco Central Europeu (BCE) a afrouxar sua política monetária.
Emergentes
O organismo cortou as projeções para alguns dos maiores países de renda média, incluindo, além do Brasil, a Rússia, a Turquia e a África do Sul. Ele previu que os mercados emergentes no geral vão crescer 4,9% neste ano, 0,2 ponto percentual abaixo da estimativa feita em janeiro. "Nas economias de mercados emergentes, as vulnerabilidades aparecem em sua maior parte de maneira localizada", informou o FMI. "Mesmo assim, desaceleração geral ainda maior nestas economias permanece um risco". O potencial de crescimento já é baixo em economias avançadas e provavelmente caiu em mercados emergentes conforme a China muda a base de sua economia de investimentos para o consumo, segundo o FMI. "A política fiscal precisa ter um papel crítico se o crescimento permanece em níveis abaixo do adequado", informou. "Nesse caso, medidas mais ambiciosas visando elevar o potencial de crescimento devem ser contempladas." (Com agências)




Fonte: JC

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