Fraca economia global pode encolher classe média em 1 bilhão de pessoas, diz ‘FT’

Jornal analisou dados de 122 países em desenvolvimento do Banco Mundial e identificou grupo vulnerável que ganha entre US$ 2 e US$ 10 por dia, pouco acima da linha da pobreza.

A desaceleração da economia global pode fazer com que quase 1 bilhão de pessoas atualmente na classe média nos países em desenvolvimento passem à zona de pobreza, segundo cálculos divulgados neste domingo pelo jornal britânico “Financial Times”. De acordo com a reportagem, boa parte dos que ascenderam à faixa de renda superior nas economias em desenvolvimento ainda se encontram no segmento que analistas chamam de “classe média frágil”, ainda não consolidada e sujeita à diminuição de investimentos e queda no ritmo de crescimento, fatores que já começaram a ser sentidos no grupo de países que inclui o Brasil. A definição do que é classe média causa divergência entre economistas. Enquanto o Banco de Desenvolvimento da Ásia considera a linha de pobreza de US$ 2 por dia como a entrada para a classe social, economistas ouvidos pelo “FT” afirmam que o limiar de US$ 10 por dia é mais robusto para classificar o grupo. A chamada “classe média frágil” se situa justamente no intervalo entre esses dois limites e, além de serem as mais vulneráveis, são maioria entre a população global. Segundo dados do Banco Mundial, 2,8 bilhões de pessoas ganhavam entre US$ 2 e US$ 10 por dia em 2010 (ano com os dados mais recentes). Mais vulnerável ainda é o grupo de 952 milhões de pessoas situadas em uma faixa ainda mais estreita, com ganhos entre US$ 2 e US$ 3 por dia — a um triz de voltar a ficar abaixo da linha da pobreza. Segundo o “FT”, esse segundo grupo foi o que cresceu mais rapidamente desde 1970, ano em que começa a série histórica do Banco Mundial, que acompanha 122 países em desenvolvimento. A principal preocupação dos economistas é que o ritmo mais fraco diminua os investimentos, afetando o mercado de trabalho. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), os efeitos da desaceleração já começaram a aparecer, com o número de trabalhadores em extrema pobreza caindo apenas 2,7% em 2013, uma das taxas de diminuição mais baixas registradas na última década. Na semana passada, o FMI alertou que o mundo corre o risco de crescer abaixo da média nos próximos anos. Além disso, o Banco Mundial prevê que emergentes cresçam até 2,5 pontos percentuais a menos que a média registrada antes da crise global de 2008. O jornal destaca que os dados apontam para uma forte correlação entre redução da pobreza e crescimento. Em entrevista à publicação, o economista-chefe do Banco Mundial, Kaushik Basu, afirmou que muitos dos que emergiram da faixa de pobreza podem voltar a ficar abaixo da linha. Basu cita países como a China, que já espera crescer a uma taxa menor que a observada nos últimos anos — o que pode ter repercussão em outras economias emergentes, já que o gigante asiático é um dos principais parceiros comerciais da maioria dos países do grupo. Segundo Basu, mesmo que esse risco não se confirme, a atual taxa de crescimento não seria suficiente para fazer com que a taxa de redução da pobreza retorne ao patamar observado nas últimas décadas. — Governos precisam fazer mais, muito mais, em termo de reformas estruturais, em países em desenvolvimento — disse o economista. Caso essas medidas não sejam tomadas, o risco é de perder décadas de progresso na luta contra a pobreza e na criação de uma classe média vista como tão importante para o futuro da economia global, completou o especialista.



Fonte: O Globo

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