Embora os índices de inflação prossigam resistentes a uma queda
consistente, ata da reunião do Copom da semana passada, que elevou a Selic em
0,25 ponto percentual, para 11% ao ano, aponta para o encerramento do ciclo de
aperto monetário.
Em
um discurso mais ameno, o Banco Central deu indicações de a alta do juro básico
da economia (Selic) pode estar perto do fim. Na ata da última reunião do Comitê
de Política Monetária (Copom), o BC retirou a palavra "continuidade"
ao falar de ser apropriado ajuste nas condições monetárias. Na semana passada, o
Copom elevou a Selic para 11% ao ano, em um movimento iniciado em abril de
2013, na tentativa de conter a inflação. Embora os índices de inflação continuem
resistentes a uma queda consistente, na ata o BC preferiu apontar para o
encerramento do ciclo de aperto monetário, retirando também a palavra
"especialmente" ao falar da vigilância da política monetária. O corte
das duas palavras dirigiu a leitura do mercado de que o documento prepara
terreno para o Copom deixar de aumentar a Selic. Esta visão teve ainda o
reforço do comentário do BC, segundo o qual os efeitos de política monetária são
cumulativos e se manifestam com defasagem. A instituição chamou a atenção para
o choque de preços dos alimentos in natura e, assim como o presidente do BC, Alexandre
Tombini, já havia dito, garante que esse choque é temporário e tende a se reverter
nos próximos meses. "A intenção (do BC) é nitidamente dizer que não há
mais nada em curso (sobre a política monetária)", afirmou o economista-chefe
do banco Fator, José Francisco Gonçalves, para quem a Selic será mantida no
atual patamar de 11% em maio, na próxima reunião do Copom. O BC ressaltou na
ata que a inflação ainda é resistente, tem se mostrado "ligeiramente"
acima do esperado e que, nesse quadro, insere-se a expectativa de inflação dos
agentes econômicos. "Tendo em vista os danos que a persistência desse
processo causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos, na visão
do Comitê, faz-se necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido.
Dessa forma, o Copom entende ser apropriado ajustar as condições
monetárias". No documento anterior, o BC defendia que era "apropriada
a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso". Na
semana passada, ao completar um ano do início do aperto monetário para combater
a inflação, o BC elevou pela nona vez seguida. A autoridade monetária informou
naquele momento, e repetiu na ata agora, que vai "monitorar a evolução do
cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos
na sua estratégia de política monetária". "(A ata) corrobora a visão
de que eles estão preparando o final do ciclo de ajuste. A grande pergunta aqui
é se ela continua sendo atual e relevante depois da inflação (medida pelo IPCA em
março). Na minha opinião, continua sim", afirmou o economista do BBVA,
Enestor dos Santos. Ele também acredita que a Selic será mantida em 11% no mês
que vem. Em março, o IPCA subiu 0,92%, maior alta para o mês em 11 anos e acima
do esperado. O BC vê o IPCA neste ano em 6,1%, chegando mais próximo do teto da
meta oficial, que é de 4,5% com tolerância de dois pontos para mais ou menos. No
final da quarta-feira, o presidente do BC já tinha dado sinais de que mais
altas nos juros não devem ocorrem. Em entrevista ao Jornal Nacional, Tombini disse
que há mais equilíbrio entre oferta e demanda. O Copom também piorou sua perspectiva
para a inflação neste e no próximo ano, ainda permanecendo acima da meta, pelo
cenário de referência, que leva em conta o dólar a R$ 2,30 e Selic a 10,75% ao
ano. Sobre os preços administrados, a projeção é de alta de 5% tanto em 2014
quanto em 2015, como já havia calculado em seu último Relatório Trimestral de
Inflação, divulgado no fim do mês passado. Ainda de acordo com a ata, a perspectiva
é de reajuste de 9,5% na tarifa de eletricidade neste ano, mas o Copom retirou
desta vez as indicações sobre os preços da gasolina em 2014 que, até então,
eram de estabilidade. "Os choques identificados, e seus impactos, foram
reavaliados de acordo com o novo conjunto de informações disponível",
segundo o documento. O BC citou os preços de alimentos, mas de forma
temporária, e o câmbio como fontes de pressão inflacionária. Segundo a ata, a
"depreciação cambial, em que pese a acomodação recentemente observada, constitui
fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos". Só neste ano, até a
véspera, o dólar recuou quase 7% sobre o real, praticamente anulando metade do
avanço que a moeda norte-americana em 2013 todo, de 15%. "O BC mudou para
usar o câmbio como ferramenta para combater a inflação. A taxa de câmbio é, sem
dúvida, mais eficaz do que os juros para evitar que a inflação ultrapasse o
teto da meta antes da eleição de outubro", afirmou o estrategista do Citi,
Kenneth Lam, em relatório. (Com agências)
Fonte:
JC
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