O Brasil passou, nas últimas
duas décadas, por um processo de isolamento que o deixou desconectado das
grandes cadeias de produção em escala mundial. O país está atrasado,
"atrás da curva" na abertura comercial, segundo disse o economista
Fred Bergsten em entrevista a esta Folha. Com corrente de comércio (soma dos
valores exportados e importados) próxima a 25% do PIB, o Brasil destoa do
padrão dos principais países, em torno de 50% do PIB. É apenas o 24º
comerciante global, posição que não faz jus ao posto de sétima economia
mundial. A comparação com os casos mais bem-sucedidos de desenvolvimento é
gritante. Todos os países que se aproximaram da fronteira tecnológica e
elevaram depressa seu nível de renda per capita, notadamente na Ásia,
valeram-se da alavanca da integração comercial. O Brasil escolheu caminho
diferente. A rejeição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), durante o
governo Fernando Henrique Cardoso, veio como um passo defensivo, quando se temia
a invasão do mercado por empresas americanas. O foco regional era o Mercosul,
que vivia bom momento. Em termos gerais, o país sempre apostou na abertura dos
mercados por meio da OMC (Organização Mundial do Comércio). Com a paralisia da
Rodada Doha, contudo, diversas nações buscaram compromissos de menor amplitude.
Celebraram-se centenas de pactos bilaterais e regionais nos últimos anos, sem a
participação brasileira. A globalização produtiva e comercial deu novo salto,
também em função da ascensão chinesa. A falta de compreensão desse fenômeno foi
trágica para as empresas brasileiras. Com baixa competitividade, mal conseguem
se proteger nas fronteiras nacionais. Tal isolamento viu-se reforçado por uma
política industrial que pretendia substituir importações. Pressionado pelo
câmbio valorizado e pelo aumento das compras externas, os governos petistas,
sobretudo no mandato de Dilma Rousseff, aumentaram tarifas, definiram regras de
conteúdo nacional e fecharam ainda mais o país. Não perceberam que não há
competitividade sem integração. O padrão produtivo atual é de especialização e
alta escala. Sem importar insumos a baixo custo e em prazo curto –o que requer
impostos baixos e boa logística–, muitas empresas não conseguem exportar. Abrir
a economia e inserir as companhias no comércio exterior é crucial para ampliar
a produtividade e a renda interna.
Fonte: Folha SP
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