O BC entre a cruz e a caldeirinha.

O Banco Central foi criado para carregar a “cruz” da estabilidade da moeda. A jornada é complexa e infinita, já que a economia é dinâmica e sujeita a trancos e barrancos. Há pelo menos quatro anos que o BC vem suando a camisa para baixar a inflação e trazê-la para a meta de 4,5% ao ano. Não bastassem as “pedras naturais” do caminho, a autarquia encara agora, ao mesmo tempo, a “cruz” e a “caldeirinha”.  A “cruz” anda pesada, com os 6,3% do IPCA em abril e a previsão de fechar o ano em 6,47%, segundo analistas ouvidos pelo BC. Para segurar a alta, o Copom já subiu os juros de 7,25% para 11% ao ano, desde abril do ano passado. Na reunião desta quarta-feira (28), o Copom vai decidir se mantém ou calibra mais um pouco a taxa de juros para ver os preços reagem – para baixo. A maioria dos analistas não espera mudança: O BC vai parar nos 11%, apostam. E se ele resolvesse surpreender? Subindo ou parando, o que ainda não ficou claro é como o Copom enxerga a trajetória da inflação – em quanto tempo ele acredita que sua estratégia será capaz de reduzir os preços. E por preços, entende-se aqueles que são definidos pelo mercado e também os controlados pelo governo, ambos num claro descompasso. Se olhar para o lado, o BC dá de cara com “caldeirinha”. Os funcionários de nível médio do órgão decidiram por uma paralização de 24 horas, logo em dia de Copom. A reivindicação deles é por mais colegas de trabalho. Segundo reportagem do “Valor” desta semana, o quadro de funcionários do Banco Central do Brasil tem cerca de 2500 vagas a serem preenchidas por concursados. Um grupo de aprovados nos últimos concursos vem chamando atenção para o problema. Eles enviaram ao blog um estudo internacional feito em 176 países, que indica que o BC brasileiro está na 171o posição em número de servidores e o 167o em quadro de funcionários em relação ao PIB do país. Além da contratação abaixo do necessário, as aposentadorias também vêm enfraquecendo o corpo de analistas e técnicos da autarquia. O BC é considerado a elite do serviço público e faz jus a essa fama. A qualidade das análises, abrangência dos estudos, produção de conteúdo, sem contar no sistema de fiscalização do sistema financeiro, é reconhecido internacionalmente – mas parece ter perdido brilho entre os patrícios. Além de carregar a espinhenta “cruz” pelo combate à inflação, o BC está fervendo no caldo que ele mesmo receitou – o aperto nas contas públicas. Como o país anda sofrendo de crise de prioridades, a tesoura age às cegas. PS: a greve dos funcionários do BC não atinge o trabalho do Copom – esse mal poderá ser feito aos poucos, se a autarquia não estiver com musculatura (ou neurônios) suficientes para dar conta do recado.





Fonte: G1

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