Em linha com as
expectativas do mercado financeiro, Copom encerra ciclo de nove altas seguidas
da taxa básica de juros. Em comunicado, colegiado afirma que decisão ocorreu
depois de avaliação da evolução do cenário macroeconômico e das perspectivas
para a inflação.
O
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por
unanimidade, manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano, depois de
nove aumentos seguidos, encerrando, assim, o ciclo de aperto monetário. Em
breve comunicado após a reunião, que demorou mais de quatro horas, o colegiado
do BC informou que, "avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as
perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter
a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés". A decisão veio em linha com as
expectativas do mercado. Pesquisa do Jornal do Commercio e da agência de
notícias Bloomberg, publicada na edição de segunda-feira, mostrou que 37 de 43
economistas consultados esperavam a manutenção da taxa básica. A próxima
reunião do Copom está marcada para os dias 15 e 16 de julho. A Selic começou a
subir em abril do ano passado. Na época, estava em 7,25% ao ano, o menor nível
da história. A taxa Selic serve de base para o custo dos empréstimos a empresas
e consumidores. Um grupo de analistas entende, porém, que a inflação não
desacelerou o suficiente, o que forçará o início de um novo ciclo de altas
depois de outubro, após as eleições. Isso será necessário, especialmente, porque
o governo segurou os preços administrados, como combustíveis e energia, para
não acelerar ainda mais a inflação. Com a decisão, o mais recente esforço do BC
para conter os preços durou um ano e nove altas consecutivas. Em abril de 2013,
o início do ciclo de altas foi motivado pela alta da inflação, mesmo diante do
crescimento ainda fraco da economia. A inflação oficial, medida pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulada nos 12 meses até março
de 2013 tinha estourado o teto de 6,5% da meta do governo, chegando a 6,59%.
Mesmo dividido na época, o Copom decidiu aumentar a taxa porque, em geral, juros
mais altos desestimulam o consumo, o que reduz as pressões de alta nos preços. Dessa
vez, o fraco desempenho da economia brasileira foi preponderante para o fim dos
aumentos da Selic. Para os economistas, uma nova alta na Selic neste momento
deixaria o País próximo de uma recessão, o que poderia prejudicar a campanha de
reeleição da presidente Dilma Rousseff. O próprio BC estima que o Produto Interno
Bruto (PIB) crescerá apenas 2% neste ano. Houve também uma desaceleração, pelo
menos momentânea, na inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15
(IPCA-15) de maio subiu 0,58% ante alta de 0,78% em abril. Além de argumentar que
o choque de alimentos é passageiro, o BC afirma que os efeitos das nove altas seguidas
é defasado e cumulativo. Ou seja, ainda não foi totalmente sentido na economia.
De toda forma, a inflação ainda ronda o teto da meta do governo. O indicador de
12 meses acumula até abril alta de 6,28%. Pelas projeções de uma centena de
economistas ouvidos pelo BC na pesquisa Focus, a inflação fechará o ano em 6,47%,
bem próxima do teto, superior à do ano passado (6,91%). O BC é um pouco mais otimista
e acredita que a inflação fechará 2014 em 6,1%. "A economia desacelerou, o
mercado de trabalho está mais fraco, a inflação na margem desacelerou, a taxa
cambial está menos volátil. O quadro permite a manutenção dos juros
básicos", disse Antonio Madeira, economista da LCA Consultores.
Setor produtivo
A
Confederação Nacional da Indústria avaliou como "acertada" a decisão
do Copom juros Selic em 11% ao ano. Para a CNI, a medida é um indicativo de que
o período de aumento da taxa de juros chegou ao fim. "O término do ciclo
de alta dos juros é necessário para evitar que o custo da redução da inflação recaia
preponderantemente sobre o setor produtivo", afirma a entidade em nota. A
CNI destaca, no entanto, que as sucessivas elevações dos juros desde abril do
ano passado foram "insuficientes para colocar a inflação em patamares menores",
lembrando que o IPCA acumulado em 12 meses está em 6,28%. A avaliação da
entidade é que são necessárias outras ações para que a inflação volte ao centro
da meta, que é de 4,5%. "As iniciativas adotadas na política monetária
devem ser complementadas por medidas na área fiscal, para minimizar os efeitos do
aumento dos juros sobre a atividade produtiva", destaca. Para a Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a manutenção da Selic no atual
nível será prejudicial à retomada das atividades. "Indústria, comércio e
serviços já sentem a redução do volume de vendas, e nem a proximidade do início
da Copa traz reversão deste processo", disse o presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, em nota. Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan),
o fim do ciclo de aperto monetário foi uma decisão acertada. “Assim, será
possível avaliar seus efeitos sobre a atividade e a inflação. No entanto, para
que a inflação de fato arrefeça nos próximos meses, é imprescindível a
colaboração da política fiscal através da redução dos gastos públicos, em
especial os de natureza corrente”, disse a entidade, em nota.
Fonte:
JC
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