PIB menor e juro estável.

Previsão para o crescimento do País em 2014 é rebaixada pelo Banco Central de 2% para 1,6%, enquanto expectativa sobre a taxa de inflação sobe de 6,1% para 6,4%, praticamente no teto da meta. Segundo economistas, tudo indica que Selic não será mexida tão cedo.

Ao mesmo tempo em que passou a ver a economia crescendo menos em 2014, com contração da indústria e do investimento, o Banco Central piorou suas contas sobre a inflação neste e no próximo no, mas argumentou que ela entrará em convergência para o centro da meta. Com isso, reforçou a ideia de que não deve mexer na taxa básica de juro, a Selic, tão cedo. Para boa parte dos especialistas, isso é consequência da preocupação da autoridade monetária de não afetar ainda mais a atividade. "(O BC) antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas que, mantidas as condições monetárias, tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção", afirmou o Banco Central por meio de seu Relatório Trimestral de Inflação de junho, divulgado nesta quinta-feira. A expectativa da autoridade monetária é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 6,4% em 2014 pelo cenário de referência, ante previsão anterior de 6,1% e praticamente no teto da meta do governo – de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Assim, o BC passou a ver chances praticamente iguais de a inflação estourar ou não o teto da meta neste ano. Segundo o relatório, a possibilidade de ficar acima do limite está em torno de 46%, frente aos 38% no documento anterior, divulgado em março. O BC vê ainda alta de 5,7% do IPCA em 2015, um pouco acima da projeção anterior (5,5%), e de 5,1% nos 12 meses até junho de 2016. Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada no início do mês, o BC já havia sinalizado que o ritmo de expansão da atividade tendia "a ser menos intenso este ano, em comparação ao de 2013", o que levou boa parte do mercado a acreditar que a taxa básica de juros não seria mexida até o início de 2015. No mês passado, o BC encerrou o ciclo de aperto monetário, que durou um ano e tirou a Selic da mínima histórica de 7,25% para o atual patamar de 11% ao ano. Mas, apesar do movimento, a inflação continua em patamares elevados. "O Copom avalia que pressões inflacionárias ora presentes na economia – a exemplo das decorrentes do realinhamento de preços administrados em relação aos livres; do realinhamento de preços domésticos em relação aos externos; e de ganhos salariais incompatíveis com ganhos de produtividade – tendem a arrefecer ou, até mesmo, a se esgotarem ao longo do horizonte relevante para a política monetária", informou o BC pelo relatório. O diagnóstico feito pelo Banco Central é de que a economia passa por transição e durante esse período o Produto Interno Bruto avançará abaixo do que poderia, o chamado PIB potencial. O BC ainda sinalizou que conta com o aumento do desemprego como parte da estratégia para derrubar o consumo e a inflação.
Recessão
Para José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimento, o Relatório Trimestral sugere ainda que há alta probabilidade de recessão no "horizonte relevante" do BC, ou seja, até o segundo trimestre de 2016, período máximo para o qual a instituição faz projeções. "Dependendo da política econômica do próximo governo, poderemos ter um ano que vem difícil em termos econômicos", argumentou o economista. Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do BC e responsável pela divulgação do documento, reforçou a percepção sobre o mercado de trabalho. "Há sinais de acomodação no mercado de trabalho. A taxa de desemprego não tem mostrado isso, mas ao se entrar na composição dessa taxa já se pode notar isso", disse. "Essa acomodação tende a repercutir nos salários que é o que interessa para a inflação." O relatório trouxe como novidade a percepção de que há um "realinhamento" das tarifas públicas em relação aos preços livres. Hamilton, na apresentação dos dados, chamou atenção para a mudança de visão do mercado entre março, quando foi divulgado o Relatório Trimestral de Inflação anterior, e este mês. O diretor afirmou que o mercado, ao revisar dados de crescimento e inflação, "vê uma abertura importante do hiato do produto". O hiato, citado pelo economista, é a diferença entre o que o País produz e o que consome; quando essa diferença é muito grande, com mais demanda do que oferta de produtos, a inflação aumenta. Para o Banco Central, quanto menor for essa brecha, melhor ele atua contra o custo de vida e mais facilmente cumpre a missão de manter a inflação na meta de 4,5%. Quando questionado se a melhora das condições econômicas depende de ajustes no início de 2015, primeiro ano do próximo governo, Hamilton respondeu que o País passa por transição econômica e que a atividade vai continuar a avançar a taxas mais baixas. "Observamos um rebalanceamento na economia. Nosso julgamento é que isso está ocorrendo e vai ter continuidade", frisou.
Focus
Diante dessas expectativas e de dados mais fracos observados no primeiro trimestre do ano, o BC revisou a previsão para o crescimento de 2014, de 2% para 1,6%. O número da instituição é mais otimista que o do mercado. No boletim Focus, publicação na qual a autoridade monetária reúne as projeções de mais de 100 analistas, a previsão para o PIB do ano está em 1,16%. O BC informou ainda que vê menor ritmo de crescimento em 2014 e também queda do investimento. Para a instituição, a contrapartida da moderação do consumo das famílias seria um aumento de investimento – seja do governo ou do setor privado. Na avaliação de Hamilton, é importante uma redução do gasto do governo. "Não significa que estejamos antecipando queda no consumo. É um consumo crescendo a uma velocidade menor que o investimento. Seria o consumo andando e o investimento correndo", comparou. O diretor não quis informar qual seria o potencial de crescimento do País atualmente, mas observou que a composição do crescimento de curto prazo é mais favorável à expansão potencial da economia brasileira. O relatório tentou trazer um pouco de otimismo mesmo depois de ter revisado a expansão do PIB para pior. Em um trecho, o relatório afirmou que o cenário de maior crescimento global, combinado com depreciação do real, tende a favorecer o crescimento da economia do País. Observou ainda que emergem condições mais favoráveis à competitividade da indústria e também da agropecuária. (Com agências)






Fonte: JC

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