As exportações brasileiras de bens
industriais ainda estão distantes do seu ápice, atingido no primeiro semestre
de 2008, antes de a quebra do banco americano Lehman Brothers detonar a crise
financeira global. A diferença nas
exportações desses produtos é significativa tanto no volume vendido quanto nos
valores obtidos com os embarques. Até junho deste ano, foram exportados 21,8
milhões de toneladas de manufaturados, os bens de maior valor agregado
produzidos pela indústria, o que rendeu US$ 38,1 bilhões em vendas. Nos
primeiros seis meses de 2008, as vendas do Brasil com essas mercadorias somaram
US$ 44 bilhões (25,2 milhões de toneladas). Em valores, o resultado obtido nos
primeiros seis meses deste ano é 13% inferior ao obtido seis anos atrás. Os
embarques da indústria caíram de forma expressiva no início de 2009, seguindo a
retração das principais economias do mundo. Desde então, o volume de vendas não
voltou ao patamar pré-crise. Para piorar, a exportação destes bens na primeira
metade de 2014 ficou aquém da registrada no ano passado, uma redução de 4% no
total de toneladas vendidas. "O volume é um indicador que poucos olham,
mas importante na compreensão do momento vivido pela indústria. Consegue-se ver
a quantidade exportada de um bem", diz Carlos Abijoadi, diretor da CNI
(Confederação Nacional da Indústria). O Brasil foi um dos primeiros países a
sair da crise, com a retomada do crescimento econômico no segundo trimestre de
2009. Para que isso ocorresse, o governo incentivou o consumo interno. Foram
aplicadas medidas "contracíclicas", permitindo o aumento do crédito
disponível às famílias. A indústria voltou-se, assim, para o mercado doméstico.
Tal receita ajudou o empresariado a recuperar-se mais rapidamente, mas trouxe
efeitos indesejados, como o aumento dos preços. A inflação de matérias-primas e
o real valorizado, que torna os produtos brasileiros mais caros em dólar,
fizeram com que a indústria sofresse mais dificuldades para colocar seus
produtos no exterior. A balança de manufaturados até junho, que mostra a
diferença entre a exportação e a importação destes bens, ficou negativa em US$
56 bilhões, mais de três vezes o verificado na primeira metade de 2008.
Vendeu-se menos ao estrangeiro, enquanto as compras do exterior subiram. "O
crescimento da economia nos anos que se seguiram à crise não foi apropriado
pela indústria nacional, mas pelos importados", diz Welber Barral,
ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da consultoria BarralMJorge.
SALDO
Por causa do fraco desempenho dos
manufaturados, a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) revisou para
baixo nesta terça (15) sua estimativa para as exportações do país em 2014. A
projeção agora é de saldo comercial de US$ 600 milhões ao fim do ano, ante os
US$ 2,6 bilhões registrados em 2013. Em dezembro do ano passado, a AEB havia
projetado saldo positivo no comércio exterior de US$ 7,7 bilhões para 2014. O
governo segue mais otimista. O Banco Central, por enquanto, estima superavit de
US$ 5 bilhões.
Fonte:
Folha SP
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