As bombas de Levy

Novo ministro da Fazenda terá como herança erros do primeiro mandato de Dilma

Joaquim Levy, escolhido por Dilma Rousseff para ser o novo comandante da economia, vai encontrar um campo "minado" ao assumir o Ministério da Fazenda. Com fama de metódico e obstinado, ele vai precisar de sangue-frio para escapar das armadilhas criadas pelo próprio governo no primeiro mandato da presidente. Com a ajuda de especialistas, a Folha fez uma lista de seis "bombas" que podem explodir no caminho de Levy: BNDES, Caixa, desonerações tributárias, setor elétrico, FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador) e Petrobras. São assuntos politicamente delicados, que podem esconder contas bilionárias para o Tesouro. Esses temas têm potencial para atrapalhar os planos do ministro de promover o mais duro ajuste fiscal dos últimos tempos. Em seu primeiro discurso, Levy já apontou que está atento a uma das "bombas" mais perigosas: as transferências de recursos para os bancos públicos, que elevam a dívida pública bruta. Desde 2008, o BNDES já recebeu US$ 486,52 bilhões do Tesouro. Esse valor inclui os US$ 30 bilhões que foram repassados recentemente, mesmo após as críticas de Levy. O grande desafio do ministro será convencer parte do governo de que os repasses têm que acabar. "A visão deles é que crédito subsidiado é bom para a economia", diz Mansueto Almeida, especialista em contas públicas. Outra "bomba" que Levy precisa desmontar é a utilização dos bancos públicos para alavancar o crescimento. Por orientação de Dilma, Caixa e Banco do Brasil foram agressivos no crédito para clientes de perfil arriscado. Hoje o nível de alavancagem (crédito/patrimônio) dos bancos públicos é de quase nove vezes, muito acima do setor privado. "Se o desemprego aumentar e a inadimplência crescer, os banco públicos podem ter problemas", diz Miguel Santacreu, da Austin Rating. Esses bancos, particularmente a Caixa, também vêm sendo utilizados para salvar projetos mirabolantes do governo e de empresários "amigos". Não será tarefa fácil contrariar esses interesses. Levy também vai ouvir muita lamentação dos setores beneficiados pelas desonerações pontuais do governo, que pouco ajudaram a estimular a economia, mas custaram bilhões ao Tesouro. Para os especialistas, os erros do primeiro mandato de Dilma foram tantos que o ministro encontrará uma "bomba" em cada escaninho da Fazenda. E, para desarmá-las, terá que fazer escolhas duras.
CURTO-CIRCUITO
No setor elétrico, por exemplo, a redução forçada do custo da energia deixou uma série de contas não pagas, que colocam em risco a sobrevivência das empresas. Um cálculo do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) aponta que o passivo do setor para 2015 é de R$ 35 bilhões --valor que pode atrapalhar o ajuste fiscal se for bancado pelo Tesouro. Se o governo, no entanto, repassar tudo ao consumidor, o impacto nas tarifas de energia elétrica será de 39,6%. "Levy terá que escolher: prejudicar o ajuste fiscal ou aceitar ainda mais inflação", diz Adriano Pires, do CBIE. Outro rombo impressionante é o do FAT, calculado em R$ 80 bilhões. Nesse caso, o ministro terá pela frente o lobby das centrais sindicais. Por fim, a situação da Petrobras é calamitosa. Envolvida no maior escândalo de corrupção da República, a estatal representa 13% do PIB. Como fazer o país crescer com a Petrobras em frangalhos? "Joaquim é osso duro de roer e não tem problema em contrariar interesses. É a pessoa certa, no lugar certo", diz a economista Mônica de Bolle. A torcida do mercado é que ele não seja surpreendido por uma "bomba" no caminho.






Fonte: Folha SP

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