Disparada do dólar deve ter impacto imediato na inflação, dizem analistas.

Além do câmbio, tarifas e alimentos devem elevar taxa em janeiro e fevereiro.

A disparada do dólar nos últimos dias deve se refletir em inflação mais alta já neste mês de dezembro, segundo analista ouvidos pelo GLOBO. A maior dificuldade neste momento de grande volatilidade no mercado de câmbio, dizem os especialistas, é saber até onde vai esse movimento de aumento da moeda americana. A economista Alessandra Ribeiro, sócia da consultoria Tendências, estima que no atual cenário de um dólar a R$ 2,75, o impacto na inflação oficial anualizada seria de 0,12 ponto percentual. Se confirmado esse cenário, a previsão de inflação da consultoria para este ano passaria dos atuais 6,3% para 6,42%. — O efeito do câmbio na inflação é rápido e, no caso dessa alta mais expressiva, uma parte do aumento já será sentido na inflação deste último trimestre de 2014 — diz Alessandra, lembrando que a outra parte vai pressionar as taxas de janeiro e fevereiro. Pelas estimativas da Tendências, o reajuste nas tarifas de energia elétrica e transporte público devem elevar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anualizado a 6,84% nos meses de janeiro e fevereiro, bem acima da previsão de 6,4% para o final de 2015. — Nossa estimativa é que a inflação bata no pico no primeiro trimestre de 2015, puxada pelos ajustes nas tarifas públicas e pela alta do dólar — afirma a sócia da consultoria. Para Flávio Serrano, analista sênior do Banco Espírito Santo (Bes-Brasil), dólar alto mais a pressão dos reajustes nos preços administrados na virada de 2014 para 2015, devem levar a inflação para um percentual acima de 1% em janeiro. Segundo ele, mantidas as condições atuais do câmbio (R$ 2,75), o IPCA poderia alcançar no primeiro trimestre de 2015 uma taxa anualizada de 6,8%, atingindo a máxima do ano. — O ambiente atual é de muita volatilidade e é preciso esperar a moeda se acomodar em um patamar para se saber qual será o real impacto sobre a inflação — pondera Serrano, acrescentando que uma depreciação de 10% do real frente ao dólar, causa um impacto de 0,50 ponto percentual na taxa de inflação. Já Luís Otávio de Souza Leal, da consultoria ABC Brasil, considera prematura mensurar o real impacto dessa alta da moeda americana nos preços. Segundo ele, o mercado ainda não está trabalhando com um dólar a R$ 2,75. Segundo ele, é preciso aguardar pelo menos um mês para se saber se a moeda vai realmente permanecer neste patamar. — Nestes momentos de grande volatilidade, o mercado para e ninguém fecha contrato com esse valor — avalia Leal. Além disso, diz que o país vive um momento de economia em desaceleração, queda na renda das famílias e ameaça de desemprego. Nesse cenário econômico, segundo ele, o repasse do dólar para os preços é menor que o normal e demora mais tempo. — Num cenário de retração da economia, o mercado só reage depois de três a seis meses que o dólar se acomodar em um patamar alto. Se fosse em uma situação de economia aquecida, o repasse seria mais rápido — afirma o analista da ABC. Leal salienta ainda que, no atual momento da economia brasileira, o menor problema é o dólar. Segundo ele, com os reajustes já previstos para os preços administrados entre janeiro e fevereiro, mais os aumentos tradicionais de início de ano, como as mensalidades escolares, a inflação deve chegar muito próximo dos 7% no primeiro trimestre de 2015. — O que vai impactar mesmo a inflação na virada do ano são os reajustes nos preços dos alimentos, como a carne, e das tarifas públicas pelo governo, em especial da energia elétrica, e das mensalidades escolares em janeiro e fevereiro.





Fonte: O Globo

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