A política fiscal mais rigorosa ajudará o
Banco Central no esforço de levar a inflação de volta à meta. A afirmação foi
feita na sexta-feira pelo presidente do BC, Alexandre Tombini. Ao ressaltar a
complementaridade das políticas monetária e fiscal, ele admite que as medidas
recentes anunciadas pela equipe econômica devem elevar ainda mais a inflação no
curto prazo. O rigor fiscal, porém, tira um peso das costas do BC ao colaborar
com o trabalho de estabilidade de preços em horizonte mais amplo. "As
políticas fiscal e monetária são independentes, mas elas têm complementaridade.
Naturalmente, uma política fiscal consistente implementada de maneira rigorosa
acaba por ajudar no processo de convergência da inflação para a meta", disse
durante entrevista no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Após meses de
direções opostas das políticas fiscal (expansionista) e monetária (restritiva),
o discurso sinaliza que a chegada de Joaquim Levy ao Ministério da Fazenda
deverá aliviar a carga de trabalho do BC no esforço de conter a inflação. Dias
após aumentar o juro para 12,25%, Tombini ficou longe de comentar qualquer
influência do "efeito Levy" na taxa Selic, mas destacou positivamente
a queda das previsões de mercado para a inflação de médio e longo prazos.
"Temos visto algum impacto na expectativa de inflação de médio prazo com leve
recuo para 2016, 2017, 2018 e 2019. Esse recuo não víamos há muito tempo",
disse Tombini. As séries históricas da pesquisa Focus mostram que o recuo mais
significativo nas previsões para a mediana do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) ocorre no cenário para 2018. A mediana para a inflação
do último ano do governo Dilma caiu de 5,5% em 8 de janeiro para 5,2% oito dias
depois, em 16 de janeiro. Para 2019, a aposta dos analistas caiu de 5,06% em 9
de janeiro para 5%. As quedas, porém, pararam por aí. As expectativas de 2017 não
caíram ainda, e estão no pico de 5,5% desde maio de 2014. As expectativas de
2016 também estão praticamente estáveis. Eram de 5,56% no início de novembro, subiram
para 5,7% e continuaram nesse nível, com exceção de dois dias, 9 e 10 de dezembro,
quando tiveram uma pequena alta, para 5,75%. Tombini também disse que a queda
do preço do petróleo vai provocar impacto positivo no curto prazo. "O
Brasil será importador líquido do combustível até 2018. Portanto, no curto prazo,
os preços têm impacto positivo na balança comercial", disse Tombini. Após
"cálculo rápido", ele disse que "o Brasil teria uma economia de
até US$ 12 bilhões no ano". Nos seus compromissos em Davos, uma das
principais mensagens de Tombini tem sido a de que a maioria dos países da
América Latina está bem mais preparada hoje para um novo ciclo de elevação de
juros nos Estados Unidos – que se combina com uma queda do preço de commodities
e cria pressões de desvalorização cambial – do que esteve em eventos similares
no passado. "As perspectivas para a América Latina este ano são
desafiadoras, mas eu me mantenho cautelosamente otimista", disse Tombini.
Segundo ele, boa parte dos países latino-americanos exibe hoje arcabouços de
política econômica mais sólidos, indicadores fiscais preservados, câmbio
flutuante para absorver choques e reservas para evitar volatilidade excessiva
nos movimentos cambiais. "Ajustes antes de ser atingido por uma
turbulência não são um comportamento típico da América Latina - desta vez as
autoridades estão muito conscientes e isso é muito louvável, elas estão se
antecipando, tomando medidas antes do evento", analisou Tombini.
Fonte:
JC
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