Especialistas
recomendam passar pente-fino nas despesas do dia a dia.
Conta de luz mais cara, gasolina acima de R$
3 em diversas capitais e reajuste nos preços dos supermercados são apenas
alguns dos itens que estão esvaziando o bolso do consumidor. E, com a economia
crescendo menos, os ganhos de renda ficam mais difíceis. Um cenário que requer
cuidado redobrado com as finanças, afinal, se o ritmo de crescimento dos gastos
não for contido, a conta pode não fechar no fim do mês. Temendo essa
possibilidade, o analista de sistemas Luís Antônio Pestana Junior buscou um
consultor financeiro para aprender a controlar melhor suas despesas. O primeiro
passo foi detalhar os gastos mensais e estabelecer prioridades, mas sem deixar
de levar em conta objetivos futuros, que exigem um desembolso maior. A partir
daí, Pestana abriu mão de alguns confortos para manter o orçamento sob
controle. — Vi o que era supérfluo e onde dava para economizar. O melhor foi
aprender a pensar não só no que posso economizar, mas a ter uma visão de maior
prazo, do quanto aquela economia vai representar em um ano. Um corte de R$ 100
no mês vai resultar em R$ 1.200 ao final de um ano, que já é quase o valor do
IPVA do carro — explica.
É
PRECISO MUDAR HÁBITOS
Ao analisar seu orçamento, Pestana decidiu
com a mulher que era possível economizar com as saídas nos fins de semana. A
despesa não foi eliminada, apenas reduzida. Ele optou por ficar em casa um fim
de semana do mês, dedicando-se a projetos pessoais. Isso reduziu essa despesa
de uma média de R$ 1 mil para R$ 700 mensais. Pestana ainda aprendeu que, às
vezes, para economizar é preciso investir. A conta de gás, de R$ 180, era
considerada alta. A opção foi comprar, em julho do ano passado, um novo
aquecedor, de R$ 1.050, com sistema de controle de gastos. Após a mudança, a
conta caiu para R$ 60 ao mês, ou seja, o investimento já está praticamente
pago. Esse controle é importante, segundo especialistas, porque gastos acima da
renda podem levar ao aumento do endividamento, em um momento de alta dos juros,
ou mesmo à necessidade de resgatar dinheiro das aplicações para dar conta das
despesas cotidianas. Jansen Costa, planejador financeiro, conta que tem visto
crescer, entre seus clientes, o sentimento de que o custo de vida está
dificultando o controle do orçamento. A saída, explica, é passar um pente-fino
nas despesas. Isso não significa ser radical, apenas agir com racionalidade. —
Tem de fazer um raio-X para saber como se controlar. Alguns consumidores já
sentiram, por exemplo, o impacto na conta de luz e estão mudando hábitos, como
deixar o ar-condicionado ligado por menos tempo — diz. Costa lembra que é mais
difícil mexer nas contas básicas, como a de luz e transporte para o trabalho,
mas, nas demais despesas, sempre há espaço para economia. O consultor diz ainda
que, em alguns casos, a revisão de orçamento para lidar com o aumento de custos
só acontece quando se percebe que as contas não fecham. Ele cita o exemplo de
uma cliente, profissional liberal, que teve de recorrer às economias para pagar
as contas do mês. Isso aconteceu porque, além da inflação, ela ainda perdeu
alguns clientes no início do ano. — A reserva financeira serve para isso, mas
fazer esse tipo de resgate não pode ser recorrente — alerta Costa, lembrando
que é sempre bom ter alguma economia para lidar com imprevistos, como perder o
emprego. O consultor financeiro do Banco Mercantil Carlos Eduardo Costa lembra
que, para ter um bom controle financeiro, é importante que o consumidor saiba
fazer escolhas. Se optar por tudo, muito provavelmente a despesa vai ficar bem
acima da renda. Ou seja, endividamento à vista. — As escolhas são importantes,
porque talvez não dê mais para fazer tudo aquilo a que a pessoa estava
acostumada ou que gostaria de fazer — explica. Ele também defende a redução de
gastos, como mudanças nos planos do celular ou da TV por assinatura. Pesquisar
preços também é importante neste momento.
DEIXE O
CARTÃO EM CASA
Para os mais descontrolados, Luiz Rabi,
economista da Serasa Experian, sugere trocar as dívidas mais caras, com o
cartão de crédito, por exemplo, por aquelas de custo menor, como um consignado.
E recomenda sair de casa sem o cartão, cujo uso demanda planejamento: — O
cartão de crédito dá a sensação de que não é preciso desembolsar dinheiro para
comprar um bem, mas uma hora a fatura chega. E se não der para pagar essa
conta, a pessoa vai entrar no rotativo, e a dívida vai virar uma bola de neve.
SEIS
PASSOS PARA APERTAR O CINTO
LEVANTAMENTO: Comece fazendo uma lista de todos os gastos mensais
ESSENCIAL: Estabeleça quais são as prioridades, ou seja, o que não pode
ser cortado. Neste caso estão, por exemplo, mensalidade escolar e prestação da
casa própria
CORTES: Reavalie as demais despesas para ver o que pode ser reduzido
— dos planos de celular e TV a cabo a refeições em restaurantes e idas ao salão
de beleza
COMPARAÇÃO: Pesquisa de preços não se restringe ao supermercado. Pode
ser aplicada a todos os itens de consumo
PLANOS: Veja o que pode ser adiado, como a troca do carro. Com os
juros em alta, não é o momento para contrair novas dívidas
FINANCIAMENTO: Quem já tem dívidas deve trocar aquelas que são caras, como
parcelamento no cartão de crédito, por opções que apresentam uma taxa de juros
menor, caso do empréstimo consignado
Fonte:
O Globo
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