Doze anos seguidos de governo do PT, somados
aos que se acumulam desde a fundação do partido em 1980, deram aos brasileiros
uma ferramenta muito útil para resolver qualquer dúvida em questões de
interesse público. Seu emprego não requer prática nem habilidade. Basta
perguntar se o PT está a favor ou contra alguma coisa: se estiver a favor é
coisa ruim, se estiver contra é coisa boa. Pode haver um ou outro caso em que
não é exatamente assim — mas só, realmente, um ou outro caso. No mais, é fazer
a pergunta-chave e correr para o abraço. O PT, por exemplo, é a favor da
extinta CPMF, do pagamento das campanhas eleitorais com dinheiro do Tesouro
Nacional, do imposto sindical, da criminalização da homofobia, da censura à
imprensa por meio da criação de “controles sociais”, da invasão de propriedade
privada (desde que ela não seja de nenhum membro do partido ou de algum magnata
amigo), e por aí afora. Ao mesmo tempo, é contra a proteção legal aos
trabalhadores terceirizados, o projeto de lei de combate ao terrorismo, a
redução da maioridade penal para 16 anos, o Estatuto da Família ora em
discussão na Câmara dos Deputados, o fim do voto obrigatório — e por aí afora,
mais uma vez. Tudo o que está escrito no parágrafo acima é opinião — e dar
opiniões, pelo menos até o fechamento da presente edição desta revista, é
atividade plenamente permitida pela legislação em vigor na República Federativa
do Brasil. Opiniões, ao mesmo tempo, comportam necessariamente a existência de
pontos de vista contrários; não deveria haver nenhum problema, portanto, em
deixar que umas e outros flutuem livremente perante o público. Mas existe, sim,
um problema, que parece cada vez mais presente no debate nacional de hoje — a
tendência automática de atirar primeiro na opinião diferente e só depois
perguntar se ela tem algum mérito. É isso que está acontecendo no momento com a
indicação, após oito meses de espera, do magistrado que deve completar o quadro
de 11 ministros do Supremo Tribunal Federal. O nome apresentado pela presidente
Dilma Rousseff para aprovação do Senado, o advogado Luiz Fachin, é uma
obra-prima na arte de impedir consensos — na verdade, tem tudo o que é
necessário para promover a discórdia. Deu nisso aí, é claro: uma vigorosa
resistência ao nome proposto, e mais uma ofensiva do mundo oficial para
carimbar como inimigos da pátria, do povo e do bem todos os que discordam da
indicação. O doutor Luiz Fachin é um exemplo praticamente perfeito da
capacidade do governo e do PT de tomar, diante dos diversos caminhos possíveis,
sempre o pior de todos. O Brasil, pelos registros da OAB, o conselho federal da
profissão, tem quase 870 000 advogados; não deveria haver maiores
dificuldades, assim, em localizar nesse mundo de gente alguém
capaz de representar os valores básicos que hoje são
compartilhados pela maior parte da sociedade brasileira. Estamos falando do
STF, a instância mais alta do Poder Judiciário — é absolutamente essencial,
pelo menos, que seus ministros sejam isentos de compromissos políticos,
partidários e ideológicos. O nome escolhido pela presidente da República é
justamente o oposto disso. Nas eleições presidenciais de 2014, tomou partido,
em público, pela candidatura de Dilma. É um advogado militante do MST,
movimento que prega e pratica, abertamente, o desrespeito às leis. No campo dos
costumes, diz que o direito de família, tal como é praticado hoje no Brasil, é
vítima de “manualística rasteira”, baseia-se em preconceitos idiotas e
tornou-se obsoleto; seus defensores formam uma “gosma”, incapaz de compreender,
por exemplo, que a amante deve ter direitos de herança iguais aos da esposa
legítima. Escreve expressões como "quantum satis", achando que o uso
do latim é capaz de melhorar alguma ideia. Fala em “principiologia axiomática”
e outras aberrações de linguagem que pretendem transmitir seriedade, mas acabam
sendo apenas cômicas. Esse é o modelo de magistrado que o PT quer para o
Brasil. Fica impossível acertar agindo assim.
Fonte:
J.R.Guzzo
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