Queda do PIB leva economistas a apontarem para uma recessão.


A queda de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre em relação aos três últimos meses de 2014 surpreendeu positivamente economistas, que esperavam recuo maior. Mesmo assim, a maioria das análises aponta para uma recessão. Na visão de economistas de diversas tendências, a retração revelada pelo PIB pode ter apenas começado. Pesquisa feita pela Agência Estado com 27 equipes de economistas após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o PIB aponta para um encolhimento de 1,5% da economia este ano, na média das projeções. Na última segunda-feira, o Boletim Focus, pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com analistas, apontava para retração de 1,24%. “A recessão no Brasil está apenas no começo”, disse a economista Monica Baumgarten de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington (EUA). “Como não vejo recuperação da economia no segundo semestre, por causa de uma série de fatores, acredito que o País deverá registrar retração entre 1,5% e 2% neste ano”, completou. O professor Reinaldo Gonçalves, do Instituto de Economia da UFRJ, chamou atenção para o fato de todos os componentes da demanda interna (consumo das famílias, consumo do governo e investimentos) estarem em queda. “Claramente o quadro é recessivo”, disse o economista, para quem o cenário vai piorar, “principalmente porque o gasto público vai cair mais”, e o Brasil poderá ter uma recessão de três anos, como de 1981 a 1983 e de 1990 a 1992. Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o primeiro trimestre do ajuste fiscal – quando o Tesouro fechou a torneira dos gastos de forma provisória, antes de aprovar medidas de cortes permanentes no Congresso e de anunciar o contingenciamento de R$ 69,9 bilhões, na semana retrasada – fez o consumo do governo cair 1,5% em relação aos três primeiros meses de 2014. É o pior desempenho desde o quarto trimestre de 2000.
Desemprego e renda
De acordo com o economista Bernard Goni, da Bozano Investimentos, o PIB do primeiro trimestre ainda não reflete todas as notícias ruins, como mais desemprego e renda em queda. “Foi a partir de abril que as pessoas começaram, de fato, a ter uma percepção melhor do impacto do ajuste econômico sobre o emprego e crédito mais restritivo”, lembrou Marcelo Allain, professor de MBA da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Ainda assim, há quem veja pontos positivos. A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, destacou a queda maior na demanda do que na oferta. No primeiro trimestre, o consumo das famílias e o do governo, componentes da demanda, caíram 1,5% e 1,3%, respectivamente, em relação ao fim de 2014. Já o PIB da indústria, pela oferta, caiu 0,3% na mesma comparação. “Isso é essencial para que a inflação recuar”, disse Zeina. Crítico tanto da atual equipe econômica quanto dos “erros” dos governos Lula e Dilma, Gonçalves, da UFRJ, classifica o atual ajuste como “ortodoxo clássico”. “O que essa turma quer fazer é levar o Brasil à recessão. Se todo mundo estiver morrendo de fome, não tem demanda e não tem inflação”, disse.




Fonte: JC

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