FMI: ano do Brasil será duro, mas país está no caminho certo.

Segundo economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, retomada viria em 2016.

O ano do Brasil “será duro”, mas os apertos nas políticas fiscal e monetária estão na direção certa e criarão um ambiente propício à retomada da atividade econômica já em 2016, avaliou Olivier Blanchard, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), em entrevista coletiva esta manhã, em Washington. Na revisão trimestral das projeções do organismo multilateral, em nova edição do relatório Panorama da Economia Mundial (WEO, na sigla em inglês), a expectativa de retração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2015 foi ampliada de 1% para 1,5% e a recuperação no próximo ano foi reduzida de crescimento de 1% para 0,7%. De acordo com Blanchard, duas forças atuam na economia brasileira hoje acentuando a recessão. A primeira é a baixa confiança de empresários e famílias, que reduziu investimentos e consumo. A outra são as medidas de austeridade e contenção da inflação para reverter a trajetória da confiança, a partir do acentuado corte de gastos e elevação de impostos pelo governo federal e do aumento de juros pelo Banco Central (BC). Combinados, estes fatores estão deprimindo a demanda e derrubando o crescimento. — Este é claramente o conjunto certo de políticas, mas no curto prazo você fica com a confluência de baixa confiança afetando gastos e as medidas com o objetivo de resgatar a confiança também reduzindo as despesas. Por isso, nós achamos que o Brasil passará por recessão (em 2015) mas retomará (o crescimento) no ano seguinte —afirmou Blanchard, para o qual “este ano será duro”.


As dificuldades de implementação plena do ajuste fiscal não devem ser responsabilizadas pelo desempenho fraco do Brasil, acrescentou o vice-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI, Gian Maria Milesi Ferretti. É preciso dar tempo para que as medidas de austeridade façam efeito, defendeu o economista. E a capacidade de reação brasileira depende ainda da evolução de outros quesitos. — É muito difícil isolar o ajuste fiscal como não tendo sido eficiente em elevar a confiança quando há muitas outras coisas acontecendo, como Petrobras, a confiança do consumidor de forma mais geral, a desaceleração dos preços das commodities, pressões inflacionárias — disse Ferretti. — Achamos que é preciso dar tempo para o plano de ajuste fiscal se consolidar e exercer seus efeitos positivos sobre a confiança na economia brasileira de forma geral. A lógica é a mesma para os efeitos da política monetária implementada pelo BC. — As taxas de juros foram elevadas substancialmente nos últimos meses, de novo por muito boas razões, porque as pressões inflacionárias estavam realmente aumentando. No curto prazo, isso terá efeito negativo na demanda agregada, mas deverá reduzir as expectativas de inflação e criar o ambiente para uma recuperação mais saudável adiante — avaliou Ferretti. Blanchard afirmou ainda que o resultado do Brasil terá impacto negativo para a América Latina, uma vez que o país é sua maior economia. A região ficará quase estagnada em 2015, com expansão de 0,5%, 0,4 ponto percentual abaixo do projetado há três meses. Os números também foram revisados para 2016, com o crescimento estimado caindo de 1% para 0,7%. O economista-chefe do FMI alertou que é "impressionante" o fato de o organismo vir revisando para baixo as previsões para a América Latina por cinco anos consecutivos. Para Blanchard, é sinal de que as condições que propiciaram a expansão robusta da primeira década dos anos 2000 — boom das commodities e farto financiamento — ficaram no passado e a região precisa pavimentar um novo caminho para o crescimento. — Os países precisam se ajustar e isso será um desafios nos próximos anos — alertou Blanchard.








Fonte: O Globo

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