Serviços essenciais e associados a bem-estar demoram mais a ceder.

Médico, transporte escolar e restaurante sobem acima da média do setor.

O choque de tarifas não é o único vilão da resistência dos preços dos serviços no Brasil. Apesar de o consumo estar em queda, alguns segmentos se destacam como os “queridinhos” dos brasileiros e são mais difíceis de serem excluídos ou substituídos no orçamento familiar. Segundo especialistas, não é por acaso que a inflação do transporte escolar, por exemplo, é a campeã do ranking, com alta acumulada de 14,6% em 12 meses. — Você não trocaria o transporte escolar do seu filho simplesmente porque a outra van está alguns reais mais barata. Você olha qual é a van, qual é o motorista, o tempo de relacionamento — analisa Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec-RJ. O economista aponta um padrão entre os itens que sobem acima da média. Serviços médicos, como fisioterapeuta, psicólogo e dentista, por exemplo, acumulam alta de dois dígitos em 12 meses. A inflação da consulta médica também está em alta, avançando 8,89%, acima da média do setor de serviços, que subiu 7,9% no período. Segundo Braga, a relação pessoal influencia em uma eventual troca, e, com menos pressão da concorrência, os preços tendem a cair menos. Para o economista Claudio Hamilton Matos dos Santos, diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea, alguns serviços já se tornaram essenciais no dia a dia e tendem a diminuir os preços mais lentamente. — Os que mais sobem têm em comum o fato de estarem associados ao bem-estar nas cidades brasileiras. É muito difícil viver numa metrópole do país e não comer fora de casa, por exemplo. Além disso, a ascensão pessoal numa grande cidade envolve, em geral, procurar acesso a serviços de saúde e educação privada — exemplifica. As hipóteses para os itens na parte de baixo do ranking, que sobem menos que a média da inflação no setor, são variadas. Uma das explicações é que há itens que são de substituição mais fácil. Sair menos para a boate, cuja inflação acumula só 5,41%, é menos doloroso que encontrar um mecânico que cuide bem do carro — o item conserto de automóveis sobe 11,55%.
CELULAR E MOTEL SOBEM MENOS
A concorrência maior também ajuda a conter os preços. Essa é uma das explicações para a baixa inflação do telefone celular, que avança 2,3%, e a do motel, que sobe 6,25%. Considerando os custos, os itens que sobem menos também têm em comum uma necessidade menor de mão de obra, escapando da pressão dos salários. André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), afirma ainda que há itens que já estão caindo em desuso, como o acesso à internet, cuja inflação está em zero, já que o segmento inclui o serviço de lan house. — Agora, com a popularidade dos telefones inteligentes, isso não faz sentido. Isso explica um pouco essa taxa zerada. O seguro de carro é até um setor necessário, mas há quem abra mão porque não tem alternativa. Uma saída é passar a usar o carro em ocasiões mais raras — diz. Mesmo com uma inflação acumulada de 10,14% em 12 meses, os preços de restaurantes começam a ceder. Em junho, a alta de preços do serviço foi de 0,49%, depois de subir perto de 1% ao mês desde o início do ano. Em alguns casos, os restaurantes têm reajustado preços de bebidas e sobremesa, mas não o do prato principal. André Braz, da FGV, propõe a receita para economizar: — São três etapas: substituir por opções mais baratas, reduzir a frequência e, finalmente, abrir mão do serviço.









Fonte: O Globo

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