Juro sobe a 14,25% ao ano.

Em decisão unânime, Copom reajusta a Selic em 0,5 ponto percentual, no sétimo aumento consecutivo desde outubro. Taxa atinge o maior nível de agosto de 2006, mas para analistas, comunicado do BC sinaliza que ciclo de aperto monetário pode ter chegado ao fim.

O Banco Central (BC) elevou ontem a taxa básica de juros, Selic, de 13,75% para 14,25% ao ano, o maior nível desde agosto de 2006, confirmando a expectativa majoritária do mercado financeiro. Foi a sétima elevação consecutiva dos juros básicos. Numa ação inédita, um membro do Comitê de Política Monetária (Copom) deixou de participar da reunião de ontem do colegiado. A decisão do Copom revela que a alta recente do dólar e o abandono da meta de economia que o governo faz para pagar juros da dívida falaram mais alto do que a recessão que o País enfrenta na hora de o BC tomar sua decisão sobre o rumo dos juros. A decisão foi unânime dentro do colegiado. A última vez que não houve consenso entre os diretores foi na reunião de outubro do ano passado, quando o BC engatou a segunda parte do ciclo de aumento dos juros, iniciado em abril de 2013. Desde então, a taxa básica praticamente dobrou de tamanho, já que subiu de 7,25% para 7,5% ao ano naquele momento. O comunicado que se seguiu à decisão de ontem foi muito parecido com os últimos quatro. Desde janeiro, o BC justifica os aumentos levando em conta a avaliação do “cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”. Desta vez, os diretores acrescentaram também o “balanço de riscos”, que pode estar relacionado com a mudança da meta fiscal promovida pelo Ministério da Fazenda. O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, avaliou que a mudança no comunicado sinaliza que a instituição deve manter os juros nessa faixa até pelo menos o primeiro trimestre do ano que vem. “Ainda estou com cenário de mais uma alta de 0,25 ponto percentual, encerrando o ciclo de alta dos juros em 14,5% ao ano”, afirmou. “Eles devem esperar o primeiro trimestre para começar a cortar. Até lá, é mais provável que a inflação comece a ceder”, disse o economista, que estima uma Selic de 11,25% ao ano no fim de 2016. O aumento era amplamente aguardado pelo mercado financeiro, ainda que uma corrente minoritária apostasse em uma redução do ritmo, para 0,25 ponto percentual, justamente por causa da economia debilitada. Essa percepção chegou a ser alimentada pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Tony Volpon, ao longo de julho. Em conversas reservadas com alguns agentes do setor privado, ele teria relatado a surpresa da autoridade monetária com a anemia da atividade. Ontem, Volpon absteve-se de participar da reunião “a fim de evitar possíveis prejuízos à imagem do BC”.
Fim do aperto
Ao mudar o teor do comunicado que acompanhou sua decisão de ontem, o BC praticamente selou o fim do ciclo de aperto de juros. Essa é a avaliação do economista-sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, a partir do trecho em que a autoridade monetária diz entender que é preciso manter o juro básico no patamar atual para a convergência da inflação no fim de 2016. Com isso, os juros futuros de curto prazo devem passar por uma correção de baixa nesta quinta-feira, sobretudo entre os vencimentos para outubro de 2015 até janeiro de 2017. “No caso dos vencimentos curtíssimos, o recuo deve ser maior, com a retirada de boa parte da precificação que indicava um aperto adicional de 0,25 ponto percentual”, afirmou Serrano. Ontem, além do aperto ratificado pelo BC, de 0,5 ponto, os juros futuros embutiam mais 22,85 pontos-base de alta para a Selic em setembro. Para Serrano, o fato de o diretor Tony Volpon não ter votado é positivo para diminuir os ruídos causados por suas recentes declarações. “Acho que isso será bem-visto, para minimizar as críticas”, afirmou o economista do Besi em referência a Volpon. Na segunda-feira da semana passada, durante evento em São Paulo, Volpon disse que voltaria pelo aumento dos juros para que a inflação atingisse a meta em 2016. A declaração foi alvo de críticas, especialmente entre alguns senadores, que prometeram pedir explicações ao diretor.
Bradesco
Os juros sairão da mídia até 2016, disse o diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros, ao comentar a elevação da taxa básica de juros para 14,25% ao ano. Segundo ele, o BC encerrou com a elevação de ontem o ciclo de alta da Selic. “O BC encerrou e sepultou o ciclo de aperto, finalmente. Isso aumenta a previsibilidade de um parâmetro fundamental para a retomada gradual da confiança”, disse o diretor do Bradesco. Barros diz entender que o ciclo de baixa será iniciado logo no começo de 2016, considerando o cenário altamente preocupante da atividade. “Eu, que defendia que essa opção de ’manutenção por um período prolongado’ já teria sido possível de ser utilizada em reuniões anteriores, reconheço que agora é hora de olhar para a frente e não pensar mais em juros por um bom tempo. Na minha visão, a inflação convergirá para o centro da meta em um horizonte bastante próximo do final de 2016”. disse Barros. 
Indústria
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a decisão do BC, afirmando que o reajuste da Selic deve aprofundar a recessão. Em comunicado, a entidade considera que as taxas mais altas vão ter impacto sobre o investimento, o consumo e o capital de giro das empresas. “A elevação da taxa de juros básica da economia de 13,75% ao ano para 14,25% retrairá ainda mais a atividade industrial. Os juros altos encarecem o capital de giro das empresas, inibem os investimentos e desestimulam o consumo das famílias”, informou a entidade. A CNI defende a manutenção da austeridade fiscal e a adoção de medidas que estimulem a competitividade para destravar a indústria. “Em função da forte desaceleração da economia, a política monetária não deveria ser o único instrumento utilizado para controlar os preços. Para a CNI, é preciso combinar uma política fiscal austera com a adoção de medidas pró-competitividade para estimular o investimento e a gradual recuperação da atividade econômica”, destacou o comunicado. (Com agências)






Fonte: JC

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