A recente deterioração da economia e a crise
política ressaltam a armadilha que o Banco Central criou para si mesmo ao prometer
perseguir uma inflação de 4,5% no fim de 2016 a “ferro e fogo”, aponta o sócio
da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa. Para ele, a atual valorização do
câmbio indica que os próprios modelos econométricos do BC já projetam uma inflação
acima de 5% no próximo ano. Isso deixa a autoridade com apenas duas opções:
manter a promessa ou abrir mão desse compromisso. No primeiro caso, se o BC continuar
perseguindo a meta de 4,5%, terá de subir ainda mais os juros. Assim, estaria
“colocando lenha na fogueira”, prejudicando a atividade econômica e acelerando
a expansão da dívida pública, tornando mais difícil para o governo atingir as
metas de superávit primário. “Todos esses fatores juntos concluem o quadro cada
vez mais provável de rebaixamento da nota de rating do Brasil no segundo
semestre de 2016”, diz Póvoa em relatório enviado a clientes. Para o
economista, a segunda hipótese, de abandonar o compromisso com o centro da
meta, mesmo após todo o discurso mais duro, conservador, recente, é a mais
indicada. “Vão os anéis e ficam os dedos”, resume. Segundo Póvoa, medidas
recentes do BC, como a retórica contra o “exagero” na desvalorização do real e
retrocesso no processo de redução da rolagem dos swaps cambiais, mostram o evidente
desconforto da autoridade monetária com a armadilha em que se encontra. Ele diz
que, nesse contexto, o BC provavelmente suavizará aos poucos seu discurso duro
e manterá a Selic em 14,25% na próxima reunião. Na sequência, à medida que as
projeções de crescimento para 2016 caiam ainda mais, haverá certo alívio nas projeções
de inflação para o próximo ano. Já no fim de 2015, a autoridade começará a ser pressionada
a baixar os juros. “A correção de parte da elevação exagerada da Selic para
14,25% ao ano virá antes que o mercado projeta, frustrando as expectativas do
BC de deixar a taxa estável por longo período”, opina. Póvoa conclui lembrando que,
em determinadas situações, com uma enorme crise política, a economia se
deteriorando e chances crescentes de rebaixamento de rating, não há muito o que
a política monetária possa fazer. “Não ser pró-cíclica nesse momento delicado
já representa uma enorme ajuda”.
Fonte:
JC
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