China busca
estimular desacelerada economia e as exportações do país. Medida afeta cotação
do dólar e empresas que vendem para a China.
A China surpreendeu os mercados ao
desvalorizar a sua moeda ante o dólar, em uma manobra para ajudar as
exportações, tornando o produto chinês mais barato no exterior, em um momento
de desaceleração da segunda maior economia do mundo. Em dois dias, o iuan
chinês caiu cerca de 3,5% em relação ao dólar, atingindo a mínima em quatro
anos. Trata-se da maior desvalorização desde que a China estabeleceu em 1994 o
sistema moderno de flutuação da moeda. Embora o Banco Central descarte a
possibilidade de uma desvalorização contínua da divisa, afirmando que a medida
é parte de uma reforma do sistema cambial, com o objetivo de aproximá-lo do
mercado, o movimento passou a alimentar temores de uma guerra cambial entre
países e acusações de que Pequim está concedendo vantagem desleal aos seus
exportadores. Além das turbulências geradas nos mercados financeiros
internacionais, a forte queda do iuan gera impactos no comércio internacional,
pois prejudica companhias focadas em exportação e que têm a China entre os seus
principais mercados. Analistas avaliam também que com uma possível maior
entrada de produtos chineses nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, banco
central americano) poderá aguardar mais tempo para aumentar as taxas de juros,
que estão próximas de zero desde o fim de 2008. O Brasil passa a ser afetado
pelo fator adicional de incerteza no câmbio e, do ponto de vista do comércio
exterior, a desvalorizarização da moeda chinesa pode prejudicar as empresas brasileiras
focadas em exportação, sobretudo de commodities - principais itens importados
do Brasil pela China.
Confira abaixo 10 perguntas e respostas sobre
a desvalorização da moeda chinesa:
Por que
a China está fazendo isso agora?
A questão de fundo é a desaceleração da
economia. A desvalorização da moeda pode impulsionar as exportações - setor
chave da economia chinesa, com peso de cerca de 40% do PIB do país -, que ficam
mais baratas para os compradores. A
China cresceu 7,4% em 2014, o pior resultado em quase 25 anos, e em 2015 a
desaceleração é ainda mais considerável, com um avanço de 7% no primeiro
semestre. Em julho, as exportações chinesas caíram 8,3%. "Alguns problemas
já vem se acumulando na China como a bolha imobiliária e a bolsa de valores
supervalorizada. A China pode até gerar um volume de produção maior, mas o fato
é que não tem consumo no mundo para absorver essa produção", explica
Carlos Stempniewski Economista e professor de Comércio Exterior das Faculdades
Rio Branco.
Quais
os efeitos diretos da desvalorização?
Para a China, a desvalorização pode
impulsionar tanto as exportações como o crescimento econômico. Em tese, os
Estados Unidos e outros países tendem a ser atraídos a importar mais produtos
da China. "A desvalorização da moeda faz com que os produtos deles fiquem
mais baratos ainda no mercado internacional, com isso desestabilizam
parcialmente alguns concorrentes mais próximos e conseguem vender um pouco mais",
diz Stempniewski.
Quem
ganha e quem perde?
Quem mais se beneficia com a medida são as
empresas chinesas, sobretudo as companhias com volume elevado de vendas fora do
país em dólar, que poderão conseguir até mesmo uma redução de seus custos. Do
lado dos que podem sair perdendo estão as empresas altamente dependente de
vendas para a China e multinacionais com operação dentro da China como a Apple,
uma vez que um iuan mais fraco significa menos receita quando as exportações ou
o faturamento em moeda local são convertidos em dólar.
Como os
mercados financeiros reagiram?
A desvalorização da moeda chinesa pegou o
mercado de surpresa e a escala da desvalorização resultou em quedas nas bolsas
de valores e na valorização do dólar. As ações mais afetadas foram as de
montadoras alemãs e empresas europeias de artigos de luxo, para as quais a
China é um importante mercado. Os mercados das commodities e do petróleo também
registraram queda. O Fundo Monetário Internacional (FMI) saudou a "etapa
positiva" inaugurada com os anúncios de Pequim sobre uma maior
flexibilidade de sua moeda, e afirmou que esta medida não terá
"implicações diretas" sobre sua decisão de integrar ou não o iuane às
moedas de referência internacional. Analistas acreditam em uma desvalorização
ainda maior do iuane, de forma mais gradual. A SG Global Economics prevê "uma
tendência de maior desvalorização", de até 5% nos próximos 12 meses.
Quais
as preocupações com a desvalorização do iuan?
Ainda que a medida possa representar um
estímulo às exportações, aumentaram os temores de uma maior desaceleração do
crescimento chinês, o que levaria a uma contração da demanda por
matérias-primas. "Boa parte do que eles produzem também depende de
importação. Se a China manter esse pretenso ritmo econômico e se isso gerar
inflação, o tiro pode sair pela culatra", avalia Jason Vieira,
economista-chefe da Infinity Asset Managemen. "O movimento deles foi meio
atropelado e isso pode ter consequências de longo prazo complicadas",
alerta. Alguns analistas acreditam que a desvalorização poderá desencadear
guerras cambiais, com a desvalorização da moeda de outros países emergentes, na
tentativa de se tornarem mais competitivos.
Pode
ter efeito na política de juros dos Estados Unidos?
Analistas consideram que com o dólar mais
valorizado frente ao iuan, o Federal Reserve (Fed, banco central americano)
pode aguardar mais tempo para aumentar as taxas de juros, uma vez que a alta do
dólar pode servir de entrave à recuperação da economia dos Estados Unidos. "A
desvalorização da moeda chinesa acabou por fazer artificialmente um aperto
monetário para os Estados Unidos, uma vez que em toda elevação de juros há
valorização cambial. E isso pode levar o FED a adiar o processo de alta dos
juros", diz Vieira.
A
medida afeta o câmbio no Brasil?
A desvalorização do iuan fez elevar a
incerteza em relação ao início do processo de elevação dos juros nos Estados
Unidos, trazendo mais instabilidade para a cotação do dólar no Brasil, que nos
últimos dias. Juros mais altos nos EUA tendem a atrair para o país recursos
atualmente aplicados em mercados como o Brasil, motivando uma tendência de alta
do dólar.
Como
ficam as importações e exportações do Brasil?
Os analistas avaliam que o real mais fraco
deverá compensar os impactos da desvalorização da moeda chinesa no comércio
brasileiro. No acumulado no ano, a moeda dos EUA já subiu cerca de 30% frente
ao real. Ou seja, a desvalorização do real foi bem maior que a do iuan. "As
importações podem aumentar, uma vez que seus produtos chineses tendem a ficar
mais baratos. Mas isso tudo depende de uma relação global de dólar que ainda
está instável", explica o economista-chefe da Infinity. "Não é
questão de vantagens ou desvantagens. Trata-se na verdade de um cenário repleto
de incertezas, por enquanto", completa. Para Stempniewski, o impacto maior
será sentido pelas empresas brasileiras que vendem para a China. "Como o
iuan passa a valer menos na relação com o dólar, a China vai passar a pagar
menos pelas commodities, afetando a lucratividade dos exportadores, que terão
que aumentar o volume de vendas ou o preço para conseguir a mesma quantidade de
dinheiro", explica.
O
resultado da balança comercial brasileira pode ser afetado?
No acumulado do ano até julho, as exportações
brasileiras superaram as importações em US$ 4,59 bilhões. O país também acumula
superávit no comércio bilateral com a China. As exportações para os chineses,
entretanto, recuaram 19% na comparação com os primeiros 7 meses de 2014, para
US$ 22,5 bilhões. Já as importações caíram 7,4%, para US$ 19,9 bilhões. Para os
anaçistas, o impacto da China no resultado da balança comercial brasileira será
mínimo. "A economia brasileira parou, não estamos importando praticamente
nada, então essa desvalorização do iuan não vai fazer nem cócegas na balança
comercial", diz Stempniewski. "O mais imediatamente afetados serão
aqueles que concorrem no mercado internacional diretamente com os produtos da
China. Nós não concorremos em praticamente nada. Ou seja, o impacto para quem
tem algo em torno de 1% do comércio mundial é praticamente nenhum",
completa.
Como
funciona o sistema cambial da China?
O Sistema de Comércio Exterior da China, que
opera o mercado de câmbio, e o Banco Central do país fazem uma pesquisa no
mercado a fim de estabelecer uma taxa de referência diária, também conhecida
como taxa de paridade central. Por esse sistema, permite-se que iuan pode subir
ou descer até 2% por dia. Até o momento, as autoridades chinesas afirmavam que
a cotação da moeda era baseada em informações dos operadores do mercado, mas na
terça-feira o Banco Central destacou que vai incorporar ao cálculo indicadores
como o fechamento do dia anterior, dados do mercado cambial e as cotações das
principais moedas.
Fonte:
G1
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