É o terceiro mês
seguido de contração do IBC-Br, divulgado nesta sexta-feira.
A retração da economia brasileira é maior que
a esperada pelos analistas. A atividade caiu 0,76% em agosto, informou o Banco
Central nesta sexta-feira, o terceiro mês seguido de queda. A expectativa dos
economistas do mercado financeiro era de baixa de 0,6% do Índice de Atividade
Econômica da autoridade monetária (IBC-Br) no mês. O indicador entrou numa
trajetória de queda desde o início do ano passado. Esse movimento ficou mais
acelerado neste ano. Agora, o índice chegou ao menor patamar desde março de
2012. Nas contas dos técnicos da autarquia, o IBC-Br de agosto foi de 140,01
pontos. Esse é o desempenho da economia na metodologia criada pelo Banco
Central. Esse número já foi muito maior. Chegou a 148,98 pontos em junho de
2013. A partir daquele mês, a economia passou a sentir os impactos do processo
político: as manifestações de rua contra a corrupção arrefeceram a atividade
econômica. Em novembro do ano passado, quando o desempenho já era de 146,92
pontos, a retração ficou mais forte. Neste ano, a economia cresceu somente em
fevereiro e maio pelos cálculos do BC. A expectativa do mercado financeiro para
este ano é de uma retração de cerca de 3%. Nas contas do BC, a queda é de 3,01%
no acumulado nos oito meses e de 2,28% nos últimos 12 meses. Diante desse
cenário, o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina,
Alberto Ramos, revisou sua projeção para o PIB no terceiro trimestre para recuo
de 1,1% sobre os três meses anteriores, contra retração de 0,6% prevista antes.
"Nossa projeção seria consistente com contração de 3% do PIB em 2015,
seguido de outra contração de 0,8% em 2016", destacou ele, em relatório. Octavio
de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, afirmou em
relatório nesta sexta-feira que o recuo de 0,76% do IBC-Br reforça a
expectativa de que o PIB tenha registrado contração de 1,1% no terceiro
trimestre. A economia brasileira entrou em recessão técnica no segundo
trimestre, quando encolheu 1,9% sobre os três meses anteriores. A retração em
agosto era aguardada por causa de indicadores ruins de praticamente todos os
setores. O impacto da crise econômica chegou até ao setor de serviços. Ontem, o
IBGE divulgou que o faturamento do setor teve uma queda real de 3,5%, ou seja,
mesmo descontada a inflação, a receita encolheu em agosto frente a igual mês do
ano anterior. Com a renda corroída pela inflação e com medo da alta do
desemprego, as famílias diminuíram os gastos. Foi o terceiro resultado negativo
para o setor de serviços, que teve o pior agosto da série histórica, iniciada
em 2012. A contração acumulada no ano é de 2,6%.
JUROS
PIORAM QUADRO
Já a produção industrial encolheu 1,2% em
agosto frente a julho: também a terceira queda mensal seguida. Mesmo no campo
negativo, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas, que
projetavam queda de 1,6%. O desempenho acumulado no ano é de uma retração de
6,9%. No entanto, o comércio teve um desempenho pior que o esperado no mês. Os
analistas apostavam em 0,6%, mas as vendas do comércio caíram 0,9% no país em
agosto, frente ao mês de julho. O varejo apresenta taxas negativas desde o mês
de fevereiro. Apenas em 2015, a queda acumulada do varejo é de 3%. A tendência
é que o quadro fique ainda mais frágil por causa das altas taxas de juros,
condições de financiamento desfavoráveis (os bancos estão mais exigentes),
inflação alta e deterioração significativa do mercado de trabalho. Na opinião
de Alberto Ramos, do Goldman Sachs, os "ventos contrários para a economia
brasileira" contam a crise da indústria, tarifas públicas mais elevadas,
alta de impostos, altos níveis de endividamento das famílias, fraca demanda
externa, preços baixos das matérias-primas, incerteza política e consumidores e
empresas extremamente deprimidos e sem confiança. "No lado positivo, uma
taxa de câmbio mais competitiva e fracas condições da procura interna deverá
gradualmente elevar a contribuição das exportações líquidas para o crescimento
e fornecer um piso para a contração esperada de PIB real em 2015", pondera
o analista.
DIFERENÇAS
NA METODOLOGIA
O IBC-Br foi criado pelo BC para ser uma
referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a
política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma
vez que o dado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) é divulgado pelo IBGE com
defasagem em torno de três meses. Tanto o IBC-Br quanto o PIB são indicadores
que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O indicador
do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores
para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).
Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos
na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria,
os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados
do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de
exportações e importações.
Fonte:
O Globo
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