Esta é a segunda vez
consecutiva em que o colegiado, por unanimidade, decide congelar a Selic.
Mercado financeiro também apostava que não haveria mudanças. Mais detalhes
sobre o que levou o Copom a definir pela estabilidade, só na quinta-feira.
No dia em que se soube que a inflação
acumulada em 12 meses superou a marca de 10% em algumas regiões do País, o
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica
Selic estável em 14,25% ao ano. Também sinalizou, no comunicado, que o IPCA não
irá convergir para a meta, que tem como teto 6,5%, nem em 2016. Esta é a
segunda vez consecutiva que o colegiado, por unanimidade, decide congelar os
juros. O mercado financeiro também apostava em peso que não haveria mudanças.
Para a diretoria do BC, o foco na meta não está mais em 2016, como pregava até
então. A diretoria já discutia internamente a possibilidade de rever esse prazo
de atuação. Em setembro, o recado foi o de que a manutenção desse patamar por
período “suficientemente prolongado” é necessária para a “convergência da
inflação para a meta no final de 2016”. Agora, o comunicado do Copom traz que a
manutenção por tempo prolongado é necessária para a convergência da inflação
para a meta no horizonte relevante da política monetária. Esse período, como é
sabido, é de dois anos a frente da data atual. Além disso, o comitê ressaltou
que a política monetária se manterá “vigilante” para a “consecução desse
objetivo”. Mais detalhes sobre o que levou o Copom a definir pela estabilidade
da Selic serão conhecidos na quinta-feira da semana que vem, quando o Banco
Central divulgará a ata da reunião. Antes disso, porém, o mercado financeiro já
mostrará sua reação por meio das previsões para inflação, juros e outras variáveis
econômicas no Relatório de Mercado Focus. Entre as duas reuniões, o cenário
econômico e político se deteriorou ainda mais e a questão fiscal continua como
a grande algoz da ineficácia da política monetária. Um dos pontos que mais
mostraram abalo foi o das expectativas para a inflação, que estão cada vez mais
distantes do centro da meta de 4,5% não apenas para o ano que vem como também
para os seguintes - as deste ano já encostam em 10%. A elite dos cinco
economistas que mais conseguem antecipar o resultado da inflação (Top 5) já
prevê estouro da meta também no ano que vem. A tarefa do BC é não deixar que o
IPCA ultrapasse a marca de 6,5%, mas esse grupo já calcula o índice em 6,72% em
2016. Isso é mais do que um “desvio significativo” que a diretoria escreveu nas
últimas atas como praticamente uma senha de que poderá elevar a Selic. O BC
nunca explicitou, no entanto, quanto um desvio tem de subir para tornar-se
significativo. Mesmo com a disparada dos preços, a decisão do comitê também
levou em conta a recessão econômica, que não permite alta dos juros. Até por
conta disso, as estimativas do mercado sobre a possibilidade de corte têm sido adiadas
semana a semana e também passam por redução de magnitude. O mais recente
levantamento revela consenso sobre queda em julho do ano que vem, para 14% ao
ano. Analistas já não acreditam mais que o BC conseguirá cumprir a meta também
no ano que vem. Até meados do ano, as instituições financeiras ainda consideravam
essa uma possibilidade, mas com a mudança orçamentária para 2016 e outras
notícias ruins das contas públicas jogaram por terra essa hipótese.
Internamente, a instituição já calcula os impactos positivos e negativos de
estender mais uma vez seu foco de atuação, para 2017, ainda que negue
oficialmente. O efeito do câmbio sobre os preços é outra variável que não pode
ser colocada de lado nos cálculos da autoridade monetária. A diminuição da nota
soberana brasileira pela Fitch foi mais um vetor negativo para o ambiente
macroeconômico, ainda que o Brasil não tenha perdido o selo de bom pagador por
essa agência de classificação. A perspectiva, porém, continuou negativa, como
temia o BC. Do lado externo, pesou na decisão a indefinição nos Estados Unidos
sobre os juros, que ainda podem aumentar a qualquer momento.
Fonte:
JC
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