Ex-presidente do Banco Central e sócio da
Tendências Consultoria Integrada, o economista Gustavo Loyola, diz que a alta
do Bolsa e a queda do dólar que ocorreram nos últimos dias é uma reação de
curto prazo em relação aos recentes episódios políticos que aumentaram a
probabilidade de interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff. Para ele,
o cenário é incerto e os movimentos da polícia e da política vão determinar a
trajetória do mercado. “O mercado está refém da Lava Jato”, diz. A seguir, os
trechos da entrevista. Como o sr. vê o cenário econômico, depois dos episódios
políticos desta sexta-feira? O cenário continua bastante nebuloso. A diferença
dos últimos acontecimentos é o aumento da probabilidade da interrupção do
mandato da presidente Dilma (Rousseff) antes de 2018. Isso evidentemente mexe
com o preço dos ativos: dólar, juros, Bolsa. Os mercados reagiram.
Evidentemente, todos os olhos voltam-se para a questão política. Sem dúvida, o
início da solução do problema econômico passa pela política. O governo está
hoje com dificuldades para implementar uma agenda de ajustes, principalmente na
área fiscal, sem a qual não há como falar em reversão de expectativas e
possibilidade de melhora da conjuntura econômica. Nos últimos dias, o dólar tem
caído e a Bolsa subido. As expectativas estão se revertendo? Essa é uma reação
de curto prazo. Não há nenhuma segurança de que vá se manter. Até porque o
processo de impeachment da presidente e mesmo o processo no TSE são demorados e
não necessariamente sem turbulências. Acho que o mercado pode estar
subestimando as dificuldades. A verdade é que os cenários são muito medíocres
do ponto de vista econômico até 2018. E quando há a possibilidade de um fato
novo que possa vir com outra disposição, uma base de apoio político maior e com
uma outra agenda também – talvez mais forte e comprometida com reformas –
evidentemente os analistas se animam e passam a colocar fichas nesse cenário. É
claro que há questões técnicas do mercado. Tinham posições no dólar e na Bolsa
vendidas e agora essas posições estão sendo desfeitas porque elas ficaram mais
arriscadas. Enfim, tem também ajustes tipicamente de mercado. Mas acho que o
pano de fundo é esse. Tanto é que esse movimento vem ocorrendo desde a prisão
do marqueteiro. Essa tendência do dólar e da Bolsa vai continuar? Depende. Hoje
temos uma trajetória que é muito dependente de fatores não econômicos. Estamos
(o mercado) basicamente reféns da Lava Jato porque, de repente, acordamos com
uma delação premiada bombástica como aquela do senador Delcídio (Amaral). No
outro dia acordamos e temos a condução coercitiva do ex-presidente Lula. É isso
fundamentalmente que está trazendo muito mais volatilidade para os mercados.
Evidentemente que vemos, agora, alguns analistas políticos dizendo que
aumentaram as chances de impeachment. Mas isso não traz certeza, do ponto de
vista do mercado. É uma questão de aumento de probabilidade. O momento é muito
incerto. Os mercados financeiros vão ter muita volatilidade nas próximas
semanas. Acho que os movimentos da política e da polícia é que vão determinar a
trajetória do mercado financeiro.
Fonte:
JESP
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