Valor total da
produção de bens e serviços do País tem o pior resultado desde 1990. Os
destaques negativos foram a forte redução do consumo das famílias, a crise da
indústria, que se aprofundou, e os investimentos, que caíram 14,1%.
A economia brasileira registrou em 2015 o
pior desempenho em 25 anos. A queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB,
valor total da produção de bens e serviços do País) foi a maior desde os 4,3%
de 1990, período marcado pelo confisco das poupanças pelo recém-empossado
governo de Fernando Collor. Em 2014, o PIB cresceu apenas 0,1%, número que não
foi revisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No
quarto trimestre de 2015, a economia encolheu 1,4% em relação ao trimestre
imediatamente anterior e 5,9% ante o igual período de 2014, totalizando R$
1,532 trilhão. Com esse resultado, o PIB de todo o ano passado somou R$ 5,904
trilhões. Além do número ruim de 2015, boa parte das projeções apontam para uma
queda superior a 3% este ano, o que garantiria o pior desempenho desde 1930 e
1931, quando o mundo vivia a Grande Depressão provocada pela quebra da bolsa de
Nova York. Naqueles anos, a economia brasileira recuou 2,1% e 3,3%,
respectivamente. Foi a única vez que o PIB caiu por dois anos seguidos.
Recordes
negativos
Os dados divulgados ontem pelo IBGE estão
coalhados de recordes negativos, mas a novidade da economia em 2015, segundo a
coordenadora de Contas Nacionais da entidade, Rebeca Palis, foi o tombo de 4%
no consumo das famílias, que vinha sustentando o PIB, mesmo em 2014. “O consumo
das famílias tem peso de mais de 60% na economia. A gente viu, em 2014, que a
taxa de crescimento tinha desacelerado bastante, mas continuava positiva”,
afirmou Rebeca. Juros e inflação mais altos, redução do crédito e as condições
ruins do mercado de trabalho, com aumento do desemprego e queda na renda,
explicam o recuo no consumo das famílias, segundo a pesquisadora. Enquanto
isso, a crise da indústria se aprofundou e os investimentos seguiram ladeira
abaixo. Consequentemente, o PIB de serviços, que vinha se sustentando, também
encolheu 2,7%. “Diferentemente de outros momentos de recessão no passado recente,
como em 1999, 2003 e 2008, desta vez poucas coisas se salvaram”, afirmou o
economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale. Para explicar
tamanha retração, economistas citam uma conjunção de fatores, como crise
política, desdobramentos da Operação Lava Jato (sobre a política e sobre os
investimentos em infraestrutura e no setor de petróleo), equívocos da política
econômica nos últimos anos, efeitos da correção iniciada em 2015 e a piora no
cenário externo, com queda nas cotações de matérias-primas. A indústria teve
retração de 1,4% no quarto trimestre sobre o trimestre imediatamente anterior,
mesma queda registrada pelos serviços. No ano, o recuo foi de 6,2% e 2,7%,
respectivamente, ambos também recordes. Apenas a agropecuária cresceu em 2015 e
no quarto trimestre: 1,8% e 2,9%, respectivamente. E o setor externo, por conta
da forte valorização do dólar frente ao real de quase 50% em 2015, também pesou
positivamente na economia brasileira, com contribuição de 2,7%, segundo o IBGE,
a primeira positiva desde 2005. Mas a demanda interna teve peso negativo de
6,5%, algo que não acontecia desde 2003. Investimentos Pedro Bastos, professor
do Instituto de Economia da Unicamp, chamou atenção para a queda nos
investimentos, impactada, em sua visão, pelo recuo nos aportes do governo por
causa do ajuste fiscal e pelos efeitos da Lava Jato. Em 2015, a Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF), uma medida dos investimentos, despencou 14,1%, levando
a taxa a 18,2% do PIB. “Até 2014, a taxa de investimento vinha se mantendo na
casa de 20%, a despeito da desaceleração do consumo e da economia”, disse
Bastos. Para Rebeca Palis, a retração dos investimentos é explicada pela
diminuição na demanda por todos os seus componentes, desde máquinas e
equipamentos até itens da construção. Com isso, a FBCF teve a maior queda da
série, iniciada em 1996. Embora generalizada, a retração acabou sendo puxada
pelo setor de máquinas e equipamentos, que encolheu de forma bastante intensa.
A queda foi de 26,5%, o que levou essa atividade a perder peso nos
investimentos, para 30,5%. “Houve retração tanto na importação quanto na
produção interna de bens de capital”, explicou a coordenadora. A construção
também deu contribuição positiva à FBCF, com queda de 8,5% no ano passado. Esse
é o segmento que detém o maior peso nos investimentos, com 55,5%. Por fim, os
outros itens ligados a investimentos registraram recuo de 2,5% na queda do
volume produzido em 2015.
Fonte:
JC
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