Exigente
e com vasto conhecimento sobre economia, o novo presidente do Banco Central,
Ilan Goldfajn, assume a autoridade monetária com as apostas crescentes de que o
início no ciclo de corte de juros se aproxima, sobretudo diante de suas
avaliações mais recentes como economista-chefe do banco Itaú, maior banco
privado do país, cargo que exerceu desde 2009. Mas agentes do mercado relutam
em classificá-lo como "dovish", ou seja, inclinado a uma política
monetária mais frouxa. "Ele é bastante equilibrado e suas argumentações
são muito bem embasadas", disse um economista próximo a ele, acrescentando
que não era possível enquadrar Goldfajn como "dovish" ou
"hawkish". Segundo a fonte, após anos à frente da equipe econômica do
Itaú, reunindo-se com clientes empresariais de diversos setores e portes,
Goldfajn passou a ter mais contato com a economia real. "Acho que essa
experiência com a economia real é algo que ele vai trazer para a análise",
acrescentou. No Itaú, Goldfajn vinha destacando que o quadro recessivo no
Brasil e o enfraquecimento do dólar sobre o real desde o início do ano estavam
entre os fatores que deveriam contribuir para gradual redução das expectativas
de inflação, abrindo espaço para o início do ciclo de corte de juros no
"segundo semestre, a partir de julho". Em recente relatório divulgado
à frente da instituição, Goldfajn melhorou suas projeções para a economia do
país em 2017, diante de cenário fiscal com alguma recuperação, elevando a
estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) a 1%, sobre 0,3%
anteriormente. A Selic está em 14,25% ao ano desde julho passado, mas a
inflação começou a perder força, também em meio ao cenário recessivo. Pesquisa
mais recente Focus do próprio BC, que ouve semanalmente uma centena de
economistas, mostra que as expectativas são de alta do IPCA de 7,0% neste ano e
de 5,5% em 2017. Goldfajn assumiu a diretoria de Política Econômica do BC em
2000, aos 34 anos, quando a autoridade monetária era comandada por Armínio
Fraga. Ficou até meados de 2003, já com o BC presidido por Henrique Meirelles,
hoje ministro da Fazenda. O economista, bastante reservado sobre sua vida
pessoal mas até informal com quem trabalha, é muito exigente e atento aos
detalhes em relação à qualidade do trabalho, demandando horas a mais de
dedicação dos que o cercam até que o resultado esteja a contento. Após sair do
BC, em 2003, Goldfajn foi sócio da Gávea Investimentos. Posteriormente,
sócio-fundador e gestor da Ciano Investimentos e também ajudou a fundar a Ciano
Consultoria, de onde saiu, em 2009, para assumir a cadeira de economista-chefe
do Itaú.
Currículo invejável
Goldfajn
também se destaca pela sua vida acadêmica, que lhe rendeu pelo menos um amigo
ilustre. O vice-presidente do Federal Reserve, banco central dos Estados
Unidos, Stanley Fischer, um dos orientadores de seu PhD no Massachusetts
Institute of Technology (MIT). Os dois continuam amigos e ainda se falam com
alguma frequência. "O lado acadêmico dele é muito evidente, o que é uma
qualidade", afirmou o economista de um banco, sob condição de anonimato. Antes
do PhD no MIT, Goldfajn concluiu seu mestrado em economia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, universidade onde também foi
professor. Em sua experiência internacional, Goldfajn foi economista do Fundo
Monetário Internacional (FMI) entre 1996 e 1999 e professor assistente na
Universidade de Brandeis, em Massachusetts.
Fonte: Exame
Nenhum comentário:
Postar um comentário