Oferta de ação atrai fundo local




Investidores brasileiros já colocaram pouco mais de R$ 8 bilhões em ofertas de ações este ano. No ano passado todo, os brasileiros entraram com R$ 4,6 bilhões. O percentual em relação ao volume de ofertas aumentou de 41% para 49%, considerando as operações que detalham sua base de investidores - essas operações somaram R$ 11,2 bilhões em 2018 e R$ 17 bilhões em 2019. Para os gestores e bancos, o apetite por ações é crescente no mercado local. "Estamos vendo uma safra de ofertas mais dominadas por investidores locais do que era de costume. A indústria brasileira de fundos captou bastante, então é natural que busque onde alocar esse dinheiro novo", diz Marcos Peixoto, chefe da XP Asset, 

"Estamos vendo uma safra de ofertas mais dominadas por investidores locais do que era de costume. A indústria brasileira de fundos captou bastante, então é natural que busque onde alocar esse dinheiro novo", diz Marcos Peixoto, chefe da XP Asset, que gere R$ 36 bilhões. "Acho que esse tende a ser o novo normal, efeito da Selic baixa", complementa. 

O fluxo de dinheiro novo para fundos de ações foi de quase R$ 30 bilhões em 12 meses, superando as captações de fundos de renda fixa. Desde 2009, isso só aconteceu duas vezes - em 2018 e este ano, no acumulado até maio. Conforme dados da Anbima, a maior parte dos recursos levantados por gestores de ações tem ido para os fundos ativos - enquanto fundos de ações específicas ou fundos indexados têm mandato definido, os fundos ativos podem entrar em ofertas iniciais e subsequentes (IPOs e "follow-ons") com liberdade de escolha.

Na oferta de ações da Petrobras, encerrada esta semana, os estrangeiros ficaram com 55% dos papéis e os brasileiros com 45%. Para se ter ideia, em uma oferta anterior da Petrobras, em 2010, os locais ficaram com apenas 13% do volume. Na nova oferta também houve participação expressiva de investidores de varejo, que compraram pouco mais de 24% das ações. É a maior participação de pequenos aplicadores em uma oferta de grande porte desde junho de 2006, quando houve o follow-on do Banco do Brasil. Essa fatia relevante de varejo era, de início, uma intenção do acionista vendedor das ações da Petrobras, a Caixa. Para o banco estatal, pulverizar era uma forma de ajudar a segurar preço e popularizar a aplicação.

Nas ofertas da resseguradora IRB e da rede de restaurante Burger King, houve uma participação mais relevante de estrangeiros (de 70% e 80%, respectivamente), acompanhando a composição que as empresas já tinham em sua base acionária e definida pela estratégia dos acionistas vendedores. Já nas ofertas do banco BTG Pactual e da empresa de energia Eneva, os investidores locais ficaram com cerca de 65% do volume.

"Há liquidez nos fundos locais, de captação nova, e também de oportunidade de trocar posições. Como a bolsa subiu mais de 40% em 12 meses, alguns gestores preferem realizar esse lucro e entrar, seletivamente, em ofertas, que saem com desconto", diz o diretor de um banco de investimento.
O maior volume do ano é de follow-ons, que saem com desconto em relação à cotação em bolsa - desconto que para muitos investidores gera essa oportunidade de entrada no papel, em uma bolsa valorizada. Também nas ofertas iniciais, o critério de oportunidade de preço tem sido determinante para a entrada do investidor. O "re-IPO" da CPFL Energia foi viabilizado porque o acionista vendedor aceitou reduzir preço, abaixo do piso estabelecido inicialmente na faixa indicativa. O IPO da Centauro saiu um pouco acima do preço piso, mas com volume menos ambicioso de captação do que a varejista tinha tentado, sem sucesso, no ano passado. No IPO na Neoenergia, que será precificado nesta quinta-feira, o interesse também está condicionado a preço.

Os gestores aproveitam as ofertas para avaliar posições táticas, conforme Alexandre Cancherini, chefe de renda variável da Santander Asset. "Um follow-on é uma oportunidade de avaliarmos casos que estavam fora do radar, se a ação vale a pena, e fazer uma oxigenação da carteira", diz o gestor. "Temos um mix de posições de longo prazo, com análise fundamentalista, e de posições táticas, em que podemos ficar no curto prazo por ajuste de preço", complementa Cancherini.

Na média, quando somadas as ofertas, investidores brasileiros e estrangeiros têm participado de forma mais equilibrada nas ofertas de ações brasileiras - este ano, estão 49% com brasileiros e 51% com estrangeiros. Esse equilíbrio, iniciado desde as operações do ano passado, é incomum no histórico da bolsa brasileira. Até 2011, os estrangeiros ficavam com 60% a 70% das ofertas em média, enquanto os brasileiros só queriam saber da renda fixa. A partir de 2012, o ritmo menor da economia local e a valorização recorde das bolsas americanas fez com que isso se invertesse. 

Atualmente, o investidor estrangeiro tem feito aportes mais seletivos. "Tem sido mais difícil vê-los entrando com percentuais grandes, especialmente em novas histórias. E, com a liquidez local, muitos bancos acabam focando esforços de colocação das ofertas aqui mesmo", diz um executivo de banco de investimento.



Fonte: Valor

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