Obter
o valor de uma empresa tem sido prática bastante comum nos dias de hoje. Seja
para determinar o valor justo da participação no capital de um sócio que se retira da sociedade, para entrada de um fundo
de investimento que busca dinamizar os negócios ou para desenvolver iniciativas
estratégicas de criação de valor, as empresas são submetidas ao exercício de
avaliação. Mais que gerar lucros e pagar dividendos, já está amplamente difundida
a noção de que as empresas na realidade existem para elevar o patrimônio de
seus sócios. Também se compreende razoavelmente bem que finalizar um período com lucro líquido substancial
não aumenta o valor de uma empresa, mas sim a geração de caixa consistente e
com perspectivas concretas de crescimento. Acadêmicos de finanças e praticantes
de transações de fusões e aquisições desenvolveram inúmeros métodos para
avaliar empresas, dentre os quais o valor dos ativos, valor de liquidação,
valor de mercado para empresas de capital aberto, múltiplos de lucro
operacional antes de depreciação e juros (o já quase célebre EBITDA), múltiplos
de receita e valor presente líquido dos fluxos futuros de caixa. A determinação
criteriosa do valor de uma empresa deve levar em consideração quase uma dezena
de variáveis, que podem oscilar de acordo com as motivações da parte envolvida
na análise. Além disso, o critério mais adequado também variará de acordo com o
tipo de negócio e estágio de desenvolvimento da empresa. Por exemplo, há
critérios específicos para empresas em estágio inicial de desenvolvimento,
assim como alguns que melhor se encaixam em empresas nas quais a maioria dos
ativos é de natureza intangível. Vendedores buscam firmar o menor custo de
capital para descontar fluxos futuros, o maior valor para o fundo de comércio
(goodwill), o máximo crescimento do lucro nos anos futuros. Do outro lado, potenciais
compradores tendem a considerar com bastante atenção os possíveis passivos
futuros – denominados contingências – e aumentam o valor dos investi mentos
necessários para manter a capacidade produtiva. Os administradores internos,
por sua vez , se esforçam para domar os anseios dos proprietários acerca dos
compromissos de crescimento e rentabilização, muitas vezes
mantendo uma agenda oculta para inviabilizar a venda da empresa que irá
tirá-los de seus confortáveis cargos. O trabalho de avaliação, portanto,
demanda dos profissionais envolvidos habilidades que vão muito além da simples
capacidade de verificação do método mais adequado e sua correta aplicação. Devem,
também, estar preparados para lidar com todos estes outros fatores que – caso
não endereçados adequadamente – certamente irão afetar significativamente ou
até mesmo comprometer o resultado da avaliação. Como vemos, diante da
complexidade técnica e dos geralmente conflitantes interesses dos agentes,
podemos afirmar que o ingrediente “risco” é onipresente no processo de
avaliação de uma empresa. Risco do vendedor ao aceitar entregar os negócios por
um determinado valor e arrepender-se mais tarde vendo a empresa superar as expectativas, risco do comprador em descobrir
passivos que não foram identificados na due
diligence. Até mesmo os profissionais avaliadores, as firmas de auditoria e
advogados envolvidos correm o risco de imagem e reputação, por verem suas
técnicas profissionais questionadas, inclusive judicialmente, diante de
surpresas que o futuro pode trazer. Tome-se, como exemplo, a mais do que corriqueira
hipótese em que parte substancial do valor do investimento fica retida numa conta-garantia
para fazer frente a possíveis divergências entre as premissas assumidas pelas
partes e o verificado na realidade (aqui, observe-se, não falamos apenas de passivos
judiciais ocultos, mas também de outras premissas da negociação). Muitas vezes,
eventos absolutamente fora do controle das partes acabam por acarretar variação
na rentabilidade futura da empresa, levando o investidor a questionar a
metodologia e as informações utilizadas, como forma de impedir a liberação das
parcelas retidas do montante da transação. Longe de ser trivial ou intuitivo, o
processo de avaliação de negócios merece todo o cuidado das partes envolvidas.
Devemos lembrar que uma transação de venda de capital é sempre trabalhosa e quase
sempre desgastante no campo emocional. Um cuidado especial que se recomenda é
contar com profissionais de confiança, detentores de processo de trabalho bem
estruturado e disponíveis em todas as horas. Eles também contribuem para a elevação
do valor da empresa e para a mitigação dos riscos. Afinal, depois de assinados
os contratos, o que está em jogo é outro valor, bastante significativo: o valor
da paz de espírito.
Fonte: JC
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