A
nova classe média deve passar ilesa pelo baixo crescimento econômico do País
projetado para este ano, com previsões se consolidando em patamar inferior a
2%. Na avaliação do secretário de Ações Estratégicas da Secretária de Assuntos
Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Ricardo Paes de Barros, nos
anos 2008 e 2009, marcados pela crise internacional, a classe média continuou
crescendo e a desigualdade seguiu em declínio. “Não há razão que explique, mas
parece que as políticas desenvolvidas são resilientes à conjuntura econômica”,
diz Paes de Barros. O secretário avalia ainda que a renda dos mais ricos, fortalecida
por ativos e investimentos, tende a ser mais sensível a cenários econômicos de
volatilidade, como o atual. Conforme estimativas feita pela SAE com base na
Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE entre 1999
e 2009, a fatia de pobres no País era de 38,7% em 2001, caiu a 28,1% em 2007, passou
por 2008 em 25, 3% e chegou a 2009 em 23, 9%. Ao mesmo tempo, o tamanho da classe
média, que era de 43% da população em 2001, chegou a 48% em 2007 e avançou para
50% em 2008, tendo ficado neste patamar em 2009. A partir de dados da Pnad, a
SAE projeta para que a classe média em 2012 será formada por 54% da população. O
estudo mostra, ainda, que a redução das desigualdades no País – em grande medida
gerada pela estabilidade econômica e as políticas de transferência – foi
responsável por dois terços da queda da pobreza verificada ao longo do período.
“A classe mais pobre cresceu a um ritmo chinês, de 7% ao ano, enquanto os mais ricos
estavam mais próximos de uma expansão alemã, de 1,5%. Os pobres de aproximam dos
ricos na mesma velocidade em que a China se aproxima da Alemanha” destaca Paes de
Barros. Mesmo mostrando resistência durante a crise de 2009, a estratificação
da Secretaria é feita essencialmente pela renda, que em grande medida está
associada ao emprego. Assim, seria necessário uma crise de emprego para alterar
a dinâmica registrada nos últimos dez anos. Dados do IBGE, no entanto,
mostraram na semana passada que a taxa de desemprego recuou de 6% em abril para
5,8% em maio, menor patamar para o mês desde 2002. No trabalho de definição da classe
média brasileira, a equipe da SAE analisou as componentes de formação de renda per
capita familiar – que pode derivar de trabalho remunerado, transferência de renda
e rendimento de ativos. Nesse recorte, é possível perceber que cerca de 20% da
classe média são beneficiários de transferências de renda seja ela de que tipo
for, incluindo Bolsa Família e Previdência Social Pública. Na nova classificação
do governo, feita essencialmente para desenvolver políticas públicas
preventivas e complementares, a classe média foi fatiada em três camadas
estabelecidas de acordo com a renda familiar mensal per capita: a baixa classe
média (R$ 292 e R$ 441) , média classe média (R$ 442 a R$ 641) e alta classe média
(R$ 642 e R$ 1.019). “Mas sabemos que as pessoas vivem com mais do que isso, pois
estão quase sempre num contexto familiar”, diz Diana Grosner, da equipe da SAE.
Considerando, então, a renda familiar média, esses três subgrupos da classe
média estariam enquadrados em famílias que ganhariam mensalmente R$ 1,540, R$
1,925 e R$ 2,813, respectivamente. A SAE não explicou o número de componentes dessas
famílias. Usando os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) para a renda
per capita familiar é possível ver que os limites também aumentam. O piso da classe
média, de R$ 292, passa a R$ 428 e o limite superior, de R$ 1.019, chega a R$
1.661. Se na Pnad a pesquisa domiciliar leva em conta a resposta a uma pergunta
direta sobre renda, na POF, a equipe analisa o perfil de consumo e de uso os
recursos em quatro visitas. Impacto nas eleições De acordo com Diana, essas novas
divisões da classe média são necessárias, pois trata-se de um grupo pouco
homogêneo, que cresce de modo diferente e tem necessidades diferentes. Para
detectar os pontos de vulnerabilidade das novas classes médias, a SAE fez
exercícios matemáticos com uma olhar voltado para a capacidade desses novos
grupos de planejar o futuro. Significa dizer que a Secretaria procurou com isso
identificar, por exemplo, em que ponto um recém emergido à classe média
correria o risco de retroceder à classe baixa. Foram consideradas três
hipóteses: chance de vir a ser pobre no próximo ano, chance de vir a ser pobre em algum dos próximos cinco anos e grau
de pobreza estrutural. Todos os testes resultaram no citado piso de R$ 292 e teto
de R$ 1.019 per capita.
Fonte: JC
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