Daqui
a pouco mais de três meses, o Brasil realizará o primeiro turno das eleições
municipais. Eleitores de 5,6 mil municípios escolherão prefeitos e vereadores,
mas a maior parte irá às urnas contrariada, apenas para cumprir uma obrigação legal.
Afinal, quem não comparecer nem justificar a ausência estará sujeito a multa e
a enfrentar dificuldades, por exemplo, na hora de se inscrever em concurso e de
tirar passaporte, duas entre tantas providências em que estar em dia com a Justiça
Eleitoral é exigência da lei. O voto é obrigatório para todo cidadão com mais de
18 anos e facultativo para analfabetos, maiores de 70 e pessoas na faixa etária
dos 16 aos 18. A obrigatoriedade do voto é questão controversa sempre em pauta na
vida política nacional. Para alguns críticos da imposição, a consciência
incrustada nessa ótica é a de que o pobre não sabe votar, vende o voto, é
interesseiro e, portanto, elege pessoas sem base política, paraquedistas
indesejáveis. E não é só a alta escolaridade e a posição econômica confortável
que garantem boa participação na política. Essa, para muitos, é uma concepção
elitista e antidemocrática da sociedade e da vida comunitária. Com esse
enfoque, não chegaremos a bom termo. O tema deve ser discutido sim, mas com
base na liberdade de cada brasileiro de decidir sozinho sobre ir às urnas e
votar, estribado no Estado democrático de direito. Há quem defenda que não há relação
alguma entre a obrigatoriedade do voto e a qualidade do sistema político, e
vice-versa. Com base no número de países que instituíram o voto obrigatório ou
facultativo, não há conclusão sobre a qualidade da democracia e das instituições
representativas, tampouco sobre a qualidade de vida dos cidadãos desses países.
Brasil, Argentina, Grécia, Bélgica, Austrália, Luxemburgo e Gabão têm voto obrigatório.
Nos Estados Unidos, na Colômbia, na Espanha, na França e em Zâmbia, ele é facultativo.
Quando um país adotado voto obrigatório, a representatividade das diferentes
frações ou camadas da população aumenta, o que garante maior correspondência
entre diversos grupos sociais e a representação político-institucional. Já
aqueles que instituem o voto voluntário apresentam menor comparecimento
eleitoral e, consequentemente, reflexo reduzido entre os diversos grupos
sociais e líderes políticos. Por enquanto, prevalece nos meios acadêmicos e jurídicos
a ideia de que o voto obrigatório — em vigor desde 1934 — deva continuar por
muito tempo ainda no País. Somente com as pessoas mais politizadas,
interessadas em política de forma perene, e não apenas em ano eleitoral,
poderia ser instituído o sufrágio facultativo. O importante para um eleitor
imbuído de clarividência e altruísmo é ir às urnas e exercer o direito/dever de
voto, usando seu poder pleno de cidadão, efetivamente fortalecendo a democracia
brasileira. De resto, é um embate oco, sem lastro
Fonte: JC
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