Rio+20 e o mundo real


Nem os conservadores mais empedernidos nem aqueles que se movem exclusivamente por ideologias que fizeram sucesso há mais de um século deixarão de atribuir importância histórica ao evento a ser oficialmente aberto hoje no Rio de Janeiro: a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Erra quem tentar medir o evento pelas presenças ou eventuais ausências desse ou daquele chefe de Estado. Pior ainda farão os que se limitarem à fria contabilidade do não cumprimento das metas estabelecidas na Rio 92, o similar evento precedente: apenas quatro das nove dezenas de metas então aprovadas registraram avanços. Em algumas frentes houve até mesmo algum retrocesso. Lideranças ambientalistas de todo o mundo certamente cumprirão o papel de mostrar o mau desempenho como ponto de partida para cobrar mais comprometimento e responsabilidade dos representantes de 110 nações que vão participar da conferência. Mas nem por isso deixará de ser um equívoco negar o sucesso daquele evento, que cumpriu nos últimos 20 anos a sua principal função: a de plantar na cabeça das pessoas nova consciência para que elas passassem a influenciar os governos e as empresas. O mundo, é forçoso reconhecer, mudou pouco. A degradação ambiental continua grave e o tema central da Rio 92, o clima, continua  afetado pelo aquecimento global, alimentado pelas emissões de gases do efeito estufa. Mas é também inegável que o tema entrou definitivamente na vida das pessoas — contribuintes, eleitores e, principalmente, consumidores. E o melhor: hoje, é difícil encontrar alguém com menos de 20 anos que não tenha abraçado sinceramente a causa. É, portanto, considerando esse patamar conquistado que se chega à compreensão de que a Rio+20 é, antes de tudo, mais um passo à frente. É claro que não faltarão os ingênuos nem os que veem em tudo motivação ideológica. Ambos se frustrarão. Os primeiros, ao perceberem o risco de o evento terminar sem que novas e ainda mais avançadas metas sejam acordadas. Os outros, por verem mais uma vez a inutilidade de se fantasiarem de verde para atacar o capitalismo, como se produzir alimentos  em larga escala e gerar energia fosse atividade própria desse ou daquele sistema. Para todos será proveitoso o contato com a dureza do mundo real. Afinal, a atual conferência se dará em meio a uma das crises econômicas mais severas dos últimos  90 anos , da qual as principais nações nem sabem ainda como sairão. É quando os governantes cuidam primeiro dos próprios países e recrudescem as preocupações com o curtíssimo prazo. É nesse ambiente que a Rio+20 terá de cumprir sua principal e inadiável proposta: harmonizar o crescimento econômico com a redução das assimetrias sociais no mundo e com a preservação dos recursos ambientais do planeta. O recado é que não se trata de uma opção. Simplesmente não há mais saída senão a persistente busca da sustentabilidade, o que implica mudar comportamentos e inovar sistemas de produção. Se a Rio 92 nos ensinou que tal mudança só se fará lentamente, a começar pela formação  de  uma consciência coletiva, também demonstrou que realizá-la é possível — desde que se dê o primeiro passo. Hoje, ele começa a ser dado.


Fonte: JC

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