Em resposta às críticas do governo, instituições
admitem reduzir encargos do crédito rotativo, mas prometem acabar com a compra
parcelada em até 24 meses sem juros.
Os
bancos querem suspender o parcelamento, sem juros, de compras efetuadas por meio
e cartões de crédito. Essa será uma das condições impostas ao governo pelas
instituições financeiras para que reduzam os encargos cobrados no crédito
rotativo, que, em média, estão em 10,7% ao mês ou 238% ao ano. Segundo
representantes do setor, o parcelamento é definido livremente pelos lojistas e
os prazos, de até 24 meses, para pagamento impõem um custo pesado às administradoras
de cartões. Para convencer o governo de que não estão restringindo benefícios
aos consumidores, os bancos sinalizarão, em encontros com representantes do Banco
Central e do Ministério da Fazenda nos próximos dias, que os juros do rotativo
podem cair, gradualmente, para cerca de 6% ao mês. O sistema financeiro passou a
se movimentar nos últimos dias para estancar as críticas disparadas pelo
governo contra os cartões de crédito. Primeiro foi a presidente Dilma Rousseff,
em rede nacional de rádio e tevê, a gritar contra os juros excessivos cobrados
pelos bancos nesse sistema de pagamento. Ele foi taxativo: "Não vou
descansar enquanto os juros dos cartões não caírem para níveis
civilizados". Depois, foi a vez do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini,
ressaltar os exageros praticados pelo sistema financeiro. Por último, o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou serem inaceitáveis os "juros
escorchantes" dos cartões. Os bancos decidiram se antecipar a uma pesada
intervenção do governo no mercado, "baixando juros por decreto", e
procuraram os diretores do BC Aldo Mendes (Política Monetária) e Luiz Pereira
(Regulação do Sistema Financeiro e de Assuntos Internacionais), além de
integrantes da equipe do secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, para
negociar. "Já indicamos a esses interlocutores, com os quais temos nos
reunidos com frequência, a nossa disposição para conversar. Admitimos que há
exageros e distorções no mercado de cartões, mas estamos dispostos a
corrigi-los. E isso passa pelo fim do parcelamento sem juros, que compromete capital
por um longo período, e pela redução das taxas do rotativo", disse um
executivo envolvido com o tema. "Mas que fique claro: não vamos mexer no
prazo de até 40 dias para pagamento das faturas, sem juros. Isso será mantido,
beneficiando quase 80% dos usuários de cartões", acrescentou. Renda
comprometida Na avaliação dos bancos, se quiserem continuar oferecendo
parcelamento de suas vendas, os lojistas terão de recorrer a financeiras, que
cobram taxas entre 3% e 4% ao mês, ou usarem recursos próprios para atender os
desejos dos consumidores. "Queremos dar clareza a todas as operações, pois
sabemos a importância do cartão de crédito como instrumento de pagamento.
Estamos falando da segunda modalidade de financiamento do país, atrás apenas do
crédito à compra de automóveis", destacou dirigente de banco. "Muita gente
não sabe, mas o BC não inclui os débitos parcelados no cartão no cálculo do
nível de endividamento das famílias. Ou seja, o comprometimento de 43% passaria
de 50%". Os responsáveis pelas áreas de cartões de crédito dos bancos já
apresentaram ao BC e à Fazenda dados mostrando que o crédito rotativo, o mais
caro do País, representa apenas 8% do total das operações. Dos que estão
pendurados, rolando as dívidas todos os meses, 30% já caíram na inadimplência,
não pagam mais nada por total incapacidade. Os bancos não querem, porém, que o
BC aumente o limite mínimo para pagamento das dívidas, hoje em 15%,
possibilidade que foi aventada por Alexandre Tombini em recente depoimento no Senado.
Acreditam que precisam ter mais débitos pagando juros, mesmo que menores, para
financiar os 40 dias sem encargos dos que pagam integralmente as contas todos
os meses.
Fonte: JC
Nenhum comentário:
Postar um comentário