Determinado a impedir o esfriamento da economia e com ele a
redução do nível de emprego e renda no País, o governo tem procurado estimular o
consumo. Desonera a produção de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos
da linha branca, e aumenta a oferta de crédito. A resposta tem sido
insuficiente para que o PIB mostre desempenho mais animador. O que o governo
tem se esforçado para não ver é que há forte impedimento para que de fato
aumente o consumo das classes média e média baixa. E cabe exclusivamente
a ele retirar a trava. Esfolado pelo Leão do Imposto de Renda (IR), o
contribuinte das faixas de renda B e C, camadas da população que o governo diz
ter beneficiado nos últimos anos, nem sempre percebe que é muito maior do que
seria razoável a parcela dos ganhos comprometida com a sustentação do Estado e
seus custosos aparatos. Valendo-se do crônico desinteresse do brasileiro médio
por temas aparentemente complexos, o governo tem usado velho truque para aumentar
ainda mais o valor do imposto, sem alterar as alíquotas. Ocupado com outros problemas,
o trabalhador de carteira assinada muda de canal se o assunto é quanto ele paga
a mais do que deveria ao governo. Não deveria. O truque é praticado em duas frentes.
A primeira tem a ver com a inflação anual, que todo mundo já aprendeu a exigir
que seja compensada na data-base do reajuste salarial. Melhor mesmo parece ser
quando a categoria profissional consegue aumento real. Parece, mas nem sempre
é. Basta que o governo deixe de aplicar ao valor dos tetos da tabela de
descontos do IR na fonte a correção total da inflação para jogar por terra boa
parte dos ganhos. Por exemplo, em 2011, a inflação foi de 6,5%, mas a correção
da tabela foi limitada em 4,5%, mesmo percentual que será aplicado até 2014,
não importando qual venha a ser a inflação: quanto mais alta, mais o governo
tira dos salários e quase ninguém se dá conta. A outra frente de distorção a
favor do governo e contra a renda do trabalhador são os tetos de retenção na
fonte (mordidas antecipadas do Leão). A tabela foi montada em apenas cinco faixas de renda, que começam
em R$ 1.637,12 e vão até R$ 4.087,65. O percentual aumenta conforme a faixa de renda,
variando de 7,5% a 27,5%. Funcionam como corredores de tetos baixos, facilmente
ultrapassáveis por reajustes que reponham a inflação e, mais ainda, se houver
ganho real.
Fonte: JC
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