Cenário sem foco


O primeiro mês de 2013 praticamente se foi sem que as expectativas tenham melhorado em termos de crescimento, investimento e inflação, afunilando a margem da política econômica para tentar influenciar a cabeça do empresariado e dos investidores por meio de incentivos. A disparidade de percepções tem potencial desestabilizador, já que a presidente continua bem avaliada pelos eleitores — e sua aprovação deve ter crescido mais um pouco com o corte das tarifas de energia elétrica —, enquanto o sentimento do mercado, compilado semanalmente pelo boletim Focus, do Banco Central, não para de piorar. A percepção de bem-estar social e a expectativa dos investidores e do empresariado deveriam andar juntas. Na teoria, tais indicadores, apesar da subjetividade metodológica, são interdependentes. A coisa começa a preocupar quando os resultados efetivos negam, por um prazo longo, os cenários otimistas do governo e das consultorias, ao menos daquelas alinhadas com os pressupostos oficiais. E tende a complicar, se a média da opinião pública não entende os motivos do pessimismo do mundo dos negócios. Nem teria como entendê-los, com o desemprego no menor nível histórico e a renda crescendo. Esta semana, por exemplo, o IBGE divulgará a taxa de desemprego de dezembro, na quinta-feira, que deve ter recuado para apenas 4,6% da população ativa na serie sem ajuste sazonal — resultado fantástico tanto à luz do baixo crescimento projetado da economia em 2012, em torno de 1%, como da recessão da produção industrial (cuja evolução no ano será anunciada pelo IBGE no dia seguinte). A previsão é de que a indústria teve outra queda no mês e na comparação interanual. Essa desconexão entre o emprego e os resultados empresariais levou a equipe econômica do governo, do Banco Central à Fazenda, em 2012, a ser pega de calça curta com o desempenho especialmente fraco do PIB (Produto Interno Bruto) e tão resistente da inflação. O grosso do mercado, com raras exceções, foi atrás e também quebrou a cara. Já não há, hoje, a mesma indulgência. Conforme o Focus da semana passada, a média das projeções da centena de economistas de bancos, consultorias, universidades e entidades empresariais indicou nova piora dos cenários. E tais projeções costumam ser suavizadas.


Fonte: JC

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