O
aumento da desconfiança internacional com o Brasil começa a se traduzir nos
indicadores. Diante do desconforto com a economia brasileira, que culminou na
recente piora da perspectiva da avaliação brasileira, o risco-país passou a
crescer rapidamente nas últimas semanas. Levantamento mostra que o índice que
mede a desconfiança internacional com o Brasil voltou à casa dos 200
pontos-base e, agora, está no maior patamar desde junho de 2012. Calculado pelo
banco JP Morgan, o índice Embi+ aponta a diferença de rentabilidade entre os
papéis da dívida de um país na comparação com os Estados Unidos. Quanto pior a
desconfiança dos investidores com um emissor, maior será o juro exigido para
emprestar e, por isso, mais elevado será o risco-país. No caso brasileiro, o
indicador está em clara tendência de alta. Passou de 173 pontos-base em 30 de
abril para 202 pontos em 31 de maio, 210 pontos em 6 de junho (data do anúncio da
mudança de perspectiva pela agência Standard & Poor’s) e 218 pontos na
sexta-feira passada, dia 7. É o maior patamar desde 28 de junho do ano passado,
quando o índice havia fechado aos 219 pontos. Apenas na quinta-feira, dia 6, o
risco-Brasil subiu 2,4%. No acumulado da semana passada, a alta é de 8% e a
valorização alcança 25% no acumulado de 30 dias. Em pouco mais de seis meses de
2013, a alta atinge 47%. O movimento de piora do risco-País, porém, não é uma
exclusividade brasileira e outros emergentes têm movimento idêntico. No
acumulado de 30 dias até a quinta-feira passada, dia 6, o risco subiu 45% para
a Colômbia, 35% para o Peru, 31% para a África do Sul, 26% para o México e 19%
para a Rússia. Economistas dizem que há duas razões para a trajetória. A primeiro
e mais importante é global e se relaciona à perspectiva de mudança da política monetária
dos Estados Unidos. Após anos de liquidez fácil e juros baixíssimos nos EUA, a
abundância de dinheiro ao redor do planeta fez com que as taxas caíssem nos
principais mercados internacionais, ajudando na tendência de queda do
risco-país pelo planeta nos últimos anos. Agora, com a recuperação da economia
norte-americana, a oferta de dinheiro barato tende a diminuir, o que já parece
influenciar a oferta de financiamento aos emergentes. Nas últimas semanas, foi
observada migração de recursos que estavam alocados em vários países em direção
aos EUA. Nesse movimento, a venda de títulos em mercados como os emergentes
reduz o preço desse papéis e, consequentemente, aumenta o juro pago nessa
dívida. Em contrapartida, a busca pelos EUA aumenta o preço de ativos naquele
mercado e, no caso da renda fixa, reduz o juro. Ou seja, a diferença entre a
rentabilidade paga pelos EUA e os demais países cresceu na esteira da migração
de capitais. "Para muitos participantes do mercado, a principal vítima de
uma reversão da liquidez global serão os mercados emergentes", dizem os
analistas do Morgan Stanley Research. Quem também observa o fenômeno é o
economista do Deutsche Bank, Jim Reid. "No mercado de dívida, os CDS
(seguro contra calote) de países asiáticos estão subindo com o enfraquecimento dos
bônus e a continuidade da busca por moeda forte", diz, ao comentar que os EUA
têm sido o destino preferencial desses recursos. A outra razão é interna. A
China, por exemplo, tem apresentado dados econômicos aquém do esperado e alguns
economistas começam a trabalhar com a hipótese de que o país crescerá menos de
7% este ano. A frustração pode afastar o capital externo do país. No caso do
Brasil, como destacou a própria S&P na semana passada, os motivos são velhos
conhecidos: as principais ameaças são o fraco crescimento da economia e a
deterioração das contas públicas.
Fonte: JC
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