Se
o Brasil estancou, a farra nas contas públicas, não conseguiu dar passos
importantes para consolidar os ganhos trazidos pelo ajuste fiscal, por ter
abandonado reformas importantes, como a da Previdência, que continua a minar as
finanças do Tesouro, com rombos anuais próximos de R$ 50 bilhões. Para os
especialistas, em vez dos pleitos com o intuito de ampliar a gastança e o
endividamento, os governos deveriam aproveitar o momento de crise, de baixo
crescimento, para pregar uma revolução no setor público, com gestão eficiente e
maior foco nas despesas. O Brasil, acreditam eles, ficou no meio do caminho,
mesmo tendo incluído, ao longo dos últimos dez anos, mais de 40 milhões de
pessoas no mercado de consumo. Essa
inclusão social só foi possível graças ao controle da inflação. Depois de uma
lista de programas de estabilização econômica fracassados, o País entendeu que
só se livraria dos males da corrosão do poder de compra se consertasse o
descalabro nas contas públicas. O processo de ajuste foi longo e obrigou o
governo federal a assumir dívidas regionais, a criar impedimentos para que
prefeitos e governadores emitissem títulos públicos e passou pela criação de
uma moeda forte. O Plano Real, em 1994, desnudou os rombos e tirou do armário
esqueletos que ainda hoje assombram governos. Os anos seguintes à estabilização
da moeda impuseram um motivo a mais para a necessidade de solidez das contas:
as crises financeiras globais do México, em 1995; da Ásia, em 1997; e da
Rússia, em 1998. Para especialistas, a raiz dos problemas fiscais se explicava pela
fraca tradição de planejamento e deficiências na elaboração do Orçamento. A
lógica econômica criava uma estrutura administrativa complexa. Dados do Tesouro
mostram que os gastos eram elevados, sobretudo com o funcionalismo. Os
desembolsos cresciam sem uma previsão adequada de aumento de receitas. Os entes
da Federação dispunham de independência maior do que a de agora e isso
dificultava o controle pela União. “Ninguém tinha ideia do tamanho do problema fiscal
e das influência dele sobre a estabilização da economia. Só perceberam isso
quando os planos econômicos do governo José Sarney (1995-1990) fizeram água e a
inflação disparou de vez”, relembra Pedro Paulo Silveira, diretor da Vetorial
Asset. O processo de ajuste começou com a criação da Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), em 1986, quando o Estado passou a separar o orçamento fiscal, e
terminou com a formulação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em 2000. “A
lei foi uma tentativa, em tese bem-sucedida, de não repetir os mesmos erros do
passado”, diz o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) José Roberto
Afonso, um dos idealizadores da LRF. “Se estamos discutindo isso hoje, é porque
precisamos reforçar a lei”, emenda.
Fonte: JC
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