O
Banco Central anunciou ontem o sexto aumento consecutivo dos juros, que
voltaram ao patamar de dois dígitos – um recuo nas conquistas da equipe
econômica – e deixou aberta a possibilidade de novas altas da taxa básica (Selic)
em 2014. Os juros subiram de 9,5% para 10% ao ano por decisão unânime do Comitê
de Política Monetária (Copom), que só volta a se reunir agora nos dias 14 e 15
de janeiro. Como a decisão já era esperada pela ampla maioria do mercado, a
surpresa ficou por conta do comunicado da instituição. Primeiro, o BC retirou a
frase utilizada nas últimas quatro decisões, na qual afirmava que o aperto
monetário "contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que
essa tendência persista no próximo ano". Além disso, a instituição
acrescentou a lembrança de que o "processo" de ajuste da taxa básica de
juros foi iniciado em abril de 2013. Uma mudança no texto pode indicar que o BC
vai mudar o ritmo de aumento dos juros, que foi de 0,5 ponto percentual nas
últimas quatro reuniões, mas, em abril deste ano, foi de 0,25 ponto percentual.
Antes da reunião do Copom de janeiro, para a qual o mercado espera um novo
aumento de juros, o BC deverá divulgar pelo menos dois importantes documentos que
podem indicador os rumos da política monetária. A primeira é a ata da reunião,
que sai na próxima quinta-feira. No final de dezembro, será apresentado o
Relatório Trimestral de Inflação, com novas previsões para os índices de preços
e para o crescimento do PIB de 2014. A última vez em que a Selic – que serve de
referência para o custo do crédito bancário e para o rendimento da maior parte das
aplicações financeiras – esteve em dois dígitos foi em janeiro de 2012 (10,5%),
quando começou o processo de afrouxamento monetário que reduziu a taxa à mínima
histórica de 7,25%. A expectativa agora é que, como a inflação mostra
resistência, a Selic não volte tão cedo ao patamar de um dígito. A resistência
da inflação, que segue bem acima do centro da meta de 4,5% desde 2010, no
entanto, frustrou aquele que era um dos principais objetivos da presidente
Dilma Rousseff. A presidente chegou a dizer que os juros haviam alcançado
patamar "mais civilizado" e que, graças ao "compromisso com a
solidez das contas públicas", havia criado um "ambiente para que a taxa
de juros caísse". A mistura de juros baixos, com a taxa em 7,25% ao ano em
2012, câmbio desvalorizado e aumento do gasto público, no entanto, não
impulsionou o crescimento econômico e os investimentos, mas pressionou a
inflação. No mercado, as previsões são de um Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) mais alto em 2014. As decisões do governo de afrouxar
ainda mais as regras do superávit primário e de mexer na Lei de Responsabilidade
Fiscal (proposta abandonada temporariamente) também contribuem para a
expectativa de mais pressão inflacionária. Outro temor dos analistas são os
efeitos da mudança na política monetária nos Estados Unidos e da piora nas
contas externas brasileiras.
Critica
Se
os analistas de mercado apoiaram a decisão do Copom, os empresários e os
trabalhadores criticaram. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia a
volta da Selic aos dois dígitos, após 20 meses abaixo disso, como algo
“negativo”. “Esse novo patamar inibirá a expansão dos investimentos privados”,
disse a entidade por meio de nota. Além disso, a confederação ressaltou que
essa fixação indica que “o atual ciclo de aumento ainda não terminou”. “A CNI
assinala que os reflexos da elevação dos juros sobre o comportamento da
inflação são defasados, ocorrendo somente no início de 2014. Reconhece,
contudo, que o Copom deve continuar monitorando o processo inflacionário”,
apontou o texto, destacando que o fim das desonerações tende a pressionar os preços
administrados. Do mesmo setor, a Federação e o Centro das Indústrias do Estado de
São Paulo (respectivamente Fiesp e Ciesp) chamou o aumento da Selic para 10% de
equivocado. “Essa política econômica freia o crescimento e já não funciona
mais”, disse o presidente Paulo Skaf. A nota única das duas entidades pontuou
que, enquanto outros países emergentes devem registrar crescimento econômico na
faixa dos 4,5%, o Brasil não vai passar de 2,5%. “Isso é muito menos do que
precisamos”, destacou Skaf, lembrando que é preciso agora maior controle dos
gastos, mais investimento público, mais concessões e menores taxas de juros. A
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) afirmou em nota
que o retorno da Selic aos dois dígitos é uma péssima notícia para o Brasil. “Dificultará
ainda mais a retomada do crescimento, principalmente se levada em consideração a
perspectiva de redução da liquidez internacional em um horizonte próximo,
quando o aumento do diferencial de juros exigirá novos aumentos dos juros básicos
brasileiros”. Soma-se a isso, segundo a Firjan, uma inflação persistentemente elevada
e um contínuo aumento do déficit em conta corrente, que já se encontra no maior
patamar dos últimos 11 anos. “Nessas condições, fatalmente a economia
brasileira continuará fadada a baixas taxas de crescimento. Por isso, o Sistema
Firjan insiste em uma urgente mudança de estratégia no sentido de um superávit
primário maior em 2014, obtido através da contenção dos gastos correntes”, conclui
a nota.
Emprego
A
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), por sua
vez, disse que a correção da taxa básica de juros só beneficia o mercado
financeiro. “O Copom mostra que é surdo, pois não ouviu o clamor das centrais
sindicais, que ontem (terça-feira) mobilizaram 3 mil trabalhadores em frente ao
Banco Central e cobraram menos juros e mais emprego”, comentou Carlos Cordeiro,
presidente da Contraf-CUT, também por meio de nota. O líder da entidade de
classe destacou que não há justificativa plausível para um maior aperto monetário.
“A inflação está controlada e o câmbio, estável. Também não há motivos
consistentes para avaliações pessimistas sobre os rumos da economia em 2014,
como alguns setores econômicos têm feito para pressionar o governo e levar vantagens.”
(Com agências)
Fonte: JC
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