Economia tem contração 0,5% no terceiro trimestre do ano em relação
ao segundo, o pior resultado desde o início de 2009. A magnitude da queda
superou a média das estimativas dos analistas, na casa do 0,2%. Gastos do
governo aumentam 1,2% e consumo das famílias, 1%.
Depois
de surpreender positivamente no primeiro semestre, a economia brasileira
encolheu 0,5% de julho a setembro deste ano frente o trimestre anterior. Foi o
primeiro saldo negativo e o pior resultado da economia desde o início de 2009, quando
o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ainda sofria com mais intensidade os
efeitos da crise financeira mundial provocada pela quebra do banco americano Lehman
Brothers. O mercado financeiro já esperava desempenho negativo para os dados
anunciados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas
chamou a atenção a magnitude da queda, superando a média das estimativas dos
analistas, na casa dos 0,2%. Na comparação internacional feita pelo IBGE, a
economia brasileira aparece na lanterna de uma lista de 13 países. A piora de
cenário detonou, entre bancos e consultorias, uma onda de revisões para baixo das
projeções para o PIB deste ano e de 2014, movimento que ganhou força também com
a safra de ajustes feitos pelo IBGE em resultados trimestrais do PIB já
divulgados. O crescimento da economia no ano passado passou de 0,9% para 1%. O número
foi bem diferente do antecipado pela presidente Dilma Rousseff na semana
passada. Em entrevista ao jornal El Pais, Dilma afirmou que o dado revisado
subiria para 1,5%. Logo que os dados das Contas Nacionais foram divulgados, o
ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa da presidente Segundo ele, o
número era um "ensaio interno" do governo e a revisão definitiva do
PIB de 2012 pelo IBGE ainda demorará dois para ser concluída. "O que vale
é sempre a última revisão", disse. Para o quarto trimestre, o ministro se
mostrou confiante. Segundo ele, os números do PIB "certamente serão
positivos", com o investimento em trajetória de crescimento. No terceiro
trimestre em relação ao igual período de 2012, o PIB apresentou alta de 2,22%. Pelo
lado da demanda, os gastos do governo foram os que mais cresceram, com expansão
de 1,2% sobre o trimestre anterior, seguido do consumo das famílias, com expansão
de 1%. Já do lado da oferta, o encolhimento do PIB foi puxado pelo segmento
agropecuário, com o fim da safra de soja, cujo peso no setor é elevado. Já a
indústria e os serviços tiveram contribuição quase nula. O fraco desempenho do
setor externo também ajudou a segurar a economia no vermelho de julho a
setembro deste ano. Responsável pela pesquisa, Roberto Olinto, do IBGE, admite que
o resultado pode indicar desaceleração na atividade econômica. No entanto,
pondera, que o dado negativo ainda é pontual e que o PIB acumula alta de 2,4%
no ano até setembro. "Nesse trimestre, você tem um ponto que indica alguma
reflexão", ressaltou.
Investimentos
Os
investimentos lideraram a parada geral no ritmo de crescimento da economia,
quando o PIB é olhado pela ótica da demanda. A Formação Bruta de Capital fixo
(FBCF, como o investimento é medido no PIB, caiu 2,2% no terceiro trimestre em
relação ao período imediatamente anterior, embora ainda haja alta no ano. A
taxa de investimento ficou em 19,1% do PIB no terceiro trimestre, ante 18,7% em
igual período de 2012. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa
precisaria estar em 22% para a economia crescer 3,75%, informou Cláudio
Frischtak, da Inter.B Consultoria. Para os técnicos do IBGE, a variação dos
investimentos na comparação de um trimestre com o período imediatamente anterior
tende a ser muito volátil. Por isso, o ideal seria olhar o acumulado do ano –
de janeiro a setembro, os investimentos acumulam alta de 6,5%. Em 2012, registraram
queda de 4%. Além disso, segundo Rebeca Palis, gerente da Coordenação de Contas
Nacionais do IBGE, a recuperação dos investimentos está beneficiando a produção
nacional de máquinas e equipamentos. "A queda, na ponta da série, nos
investimentos foi influenciada principalmente pela taxa (de crescimento) da
construção civil, que foi menor nesse trimestre também", disse.
Máquinas
Carlos
Pastoriza, diretor da Abimaq, associação dos fabricantes de máquinas e
equipamentos, contradiz a informação.Pelo acompanhamento da entidade, que
trabalha com outra base de dados, o consumo aparente desses produtos se mantém estável
neste ano, mas o faturamento real dos associados amarga queda de 5% no
acumulado do ano até outubro. O cenário de investimentos de julho a setembro
foi influenciado por fatores negativos. Ainda em junho, logo depois de o IBGE
divulgar o PIB do primeiro trimestre (que veio ruim e abaixo das projeções), a
agência classificadora de risco Standard & Poor's (S&P) colocou a nota
do Brasil em perspectiva negativa. Também nessa época foram iniciadas as
manifestações populares nas ruas do País afora. Para Frischtak, esse cenário melhorou
um pouco no terceiro trimestre, mas o maior problema é que há uma percepção no
setor privado de que a política econômica é ruim, com destaque para a política fiscal.
"É preciso haver incentivos econômicos para os investimentos, mas não
basta o governo dá-los se a política econômica é ruim", diz. Já para o
economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, o cenário de 2014 não é tão
pessimista, mas o sucesso dos investimentos depende dos investimentos em
infraestrutura – tanto por parte dos governos quanto por meio das concessões. "A
aposta em infraestrutura está corretíssima", diz Pessoa, criticando a meta
de atingir determinada taxa de investimento, pois, segundo ele, é preciso
investir com qualidade. Frischtak demonstra ainda preocupação com a redução na taxa
de poupança (de 15,3%, no terceiro trimestre de 2012, para 15% em igual período
deste ano). Segundo o IBGE, a redução está associada à alta do consumo.
Fonte: JC
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