Na
contramão do ritmo global, o Brasil terá no biênio 2014-2015 um crescimento
aquém do que o projetado anteriormente, prevê o Fundo Monetário Internacional
(FMI) na primeira atualização do ano do relatório “Perspectivas para a Economia
Mundial” (WEO, na sigla em inglês), divulgado esta manhã na capital americana.
O time de economistas do organismo multilateral ampliou ligeiramente a
estimativa para o crescimento global este ano, de 3,6% para 3,7%, e manteve
inalterada a previsão para 2015, a 3,9%. A atividade brasileira, porém, foi
cortada de 2,5% para 2,3% em 2014 e de 3,2% para 2,8% no próximo ano. Confirmados
os resultados, o Brasil fechará em 2015 meia década com expansão abaixo de 3%,
inferior portanto ao seu Produto Interno Bruto (PIB) potencial - quanto o país
pode crescer sem gerar pressões inflacionárias e gargalos -, geralmente
calculado a 3,5%. Pela análise do relatório, enquanto várias nações ganharam
tração no segundo semestre de 2014 (como os Estados Unidos, os membros da zona
do euro, China e Índia), o Brasil patinou em meio a problemas estruturais.
Avaliando os emergentes de forma geral, o FMI manteve praticamente inalterada a
projeção de crescimento do grupo: 5,1% em 2014 e 5,4% em 2015 (alta de 0,1
ponto percentual). China e Índia se destacam. A economia chinesa se beneficiou
de uma aceleração temporária nos investimentos, em meio ao plano de aumento do
custo do capital e desaceleração do crédito, para favorecer a transição a um
consumo mais intenso das famílias, diz o FMI. Espera-se que o gigante asiático,
segunda maior economia do mundo, apresente expansão de 7,5% este ano (+0,3
ponto) e de 7,3% no próximo (+0,2 ponto). Essa é uma boa notícia, devido à
perspectiva de demanda mais forte da China por produtos importados de terceiros
países. A atividade indiana, por sua vez, vai colher os benefícios de uma boa
temporada agrícola, de um repique das exportações e de recentes medidas de
incentivo ao investimento. O FMI projeta alta de 5,4% do PIB este ano (+0,2
ponto) e de 6,4% em 2015 (+0,1 ponto).
Brasil precisa destravar
freio à economia
Ao
contrário, o Brasil foi relacionado pelo Fundo entre os emergentes com dever de
casa a fazer para destravar o freio de mão que vem operando sobre a economia.
Ao seu lado está a Rússia, parceiro de Brics (grupo dos mais poderosos
emergentes, que inclui ainda China, Índia e África do Sul). A economia russa
teve as piores revisões do relatório de janeiro, com a expectativa de expansão
ceifada em 1 ponto percentual tanto em 2014 quanto em 2015, para 2% e 2,5%,
respectivamente. “Muitos outros mercados emergentes e economias em
desenvolvimento começaram a se beneficiar da demanda externa mais forte em
economias avançadas e na China. Em muitos, no entanto, a demanda doméstica
permaneceu mais fraca do que o esperado. Isso reflete, em vários graus,
condições financeiras mais apertadas e posições de (fomulação de) políticas desde
meados de 2013, assim como incertezas políticas e de formulação e gargalos, com
os últimos afetando particularmente os investimentos. Como resultado, o
crescimento em 2013 ou 2014 foi revisado para baixo comparado com o WEO de
outubro, incluindo Brasil e Rússia”. Em suas últimas apresentações, o FMI tem
alertado para a necessidade de o Brasil implementar reformas estruturais que
favoreçam os investimentos privados, bem como de adotar políticas mais claras
nos campos regulatório e fiscal. O Fundo também vem emitindo sinais amarelos em
relação à persistência da inflação em patamares elevados e ao intervencionismo
estatal excessivo na economia, que abala a confiança de investidores e cria
distorções, como a contabilidade criativa nas finanças públicas e a expansão do
crédito pelos bancos federais.
Fonte: O Globo
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