O Trio Perverso.

Tudo o mais é consequência da maldade tramada por esse "Trio Perverso", incluindo o baixo crescimento econômico, a inflação em alta, o desequilíbrio das contas públicas, o déficit nas contas externas, a falta de investimentos públicos, o aumento do endividamento governamental e todos os demais sintomas de paralisia e deterioração econômica que vêm sendo mencionados na mídia.

O saudoso Prof. Mário Henrique Simonsen cunhou uma frase de efeito que ficou famosa: “A inflação aleija, mas o câmbio mata”. De certa forma ele tinha razão ao priorizar os cuidados com o câmbio mesmo diante do dragão inflacionário, nosso flagelo de sempre. Só que, na realidade, o que aleija e mata impiedosamente é a conjunção dos três fatores econômicos que assombram a economia brasileira no momento: juros altíssimos, carga tributária estratosférica (e crescendo) e taxa de câmbio apreciada (baixo valor do dólar norte-americano, apesar da valorização de mais de 10% observada nos últimos três meses). Tudo o mais é consequência da maldade tramada por esse “Trio Perverso”, incluindo o baixo crescimento econômico, a inflação em alta, o desequilíbrio das contas públicas, o déficit nas contas externas, a falta de investimentos públicos, o aumento do endividamento governamental e todos os demais sintomas de paralisia e deterioração econômica que vêm sendo mencionados na mídia. Não é a toa que as autoridades fazendárias vêm tendo dificuldade na manutenção do tripé que nos livrou da hiperinflação e possibilitou a retomada do crescimento econômico com o Plano Real: cumprimento das metas de inflação, responsabilidade e equilíbrio fiscal e regime de câmbio flutuante. Acredito que as autoridades fazendárias não sejam avessas, doutrinariamente, a esse “tripé do bem”, só não conseguem mais persegui-lo diante da presença do “Trio Perverso”, o nosso poderoso inimigo do momento. Todas as variáveis econômicas guardam uma estreita correlação mútua, apresentando-se na forma de um sistema muito sensível e que não aceita desaforos sem desandar. Um movimento desastrado em qualquer dessas variáveis costuma comprometer todo o conjunto. Às vezes, de forma irresgatável em prazo curto ou médio. Vamos jogar no lixo a vitória que conquistamos com o Plano Real, depois de dezenas de tentativas fracassadas e dolorosas para os brasileiros? Não podemos. Seria uma total falta de juízo, que a história jamais perdoaria.  Em respeito à prioridade estabelecida pelo Prof. Simonsen, vou abordar, ainda que rapidamente, a questão do câmbio. Se tivéssemos um autêntico regime de câmbio flutuante, não haveria como especular sobre o valor da taxa verdadeiramente boa de conversão entre moedas, já que esta seria estabelecida, em cada instante, pelo próprio mercado, levando em conta, naturalmente, todas as demais variáveis. Mas, não é assim que a coisa tem funcionado no Brasil. Temos um regime de câmbio semi-flutuante, com forte interferência governamental. Atualmente, toda vez que o dólar e outras moedas divisionárias se valorizam (em resposta aos mecanismos do mercado) as autoridades monetárias tentam evitar a depreciação do câmbio com a venda de grandes quantidades de moedas das nossas reservas. Nesse esforço, não há como buscar um câmbio mais competitivo, que poderia ser a saída de muitas das nossas enrascadas. Se for pra intervir, que essa intervenção se faça no sentido favorável (para equilibrar as nossas contas externas e tornar os nossos produtos mais competitivos no exterior). E se, por conta disso, resultar alguma pressão inflacionária, que esse surto seja neutralizado com a redução equivalente dos gastos públicos no custeio da máquina (preservando o pouco investimento em infraestrutura que ainda temos), para que não seja alcançado o patamar de inflação que aleija. A China já aprendeu isso e vem mantendo um câmbio muito depreciado, para bem administrar seu crescimento.



Fonte: R. Menin

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