Alta de preços controlados pelo governo pesará na inflação em 2015.

Analistas preveem que preços administrados, como energia e gasolina, subirão mais que os livres.

O “tarifaço” dos preços controlados pelo governo será o principal foco de pressão inflacionária em 2015 e deverá manter o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima de 6%, segundo consultorias econômicas ouvidas pelo GLOBO. Na previsão dos economistas, esse conjunto de itens, que inclui energia, gasolina e tarifas de ônibus, subirá quase 8%, superando o reajuste dos preços livres, que deve ficar em torno de 6%. Desde 2009, ano posterior à crise internacional, os preços administrados não sobem mais do que os livres no Brasil (4,5% frente a 4,25% dos livres). Se a alta for confirmada, será o maior reajuste dos preços administrados desde 2005, quando este grupo subiu 8,98%. Os preços controlados pelo governo respondem por quase um quarto do IPCA.
— Energia e gasolina terão o maior peso no aumento dos preços administrados. O da gasolina está defasado, mas não acreditamos em reajuste este ano, por causa da impopularidade da medida. Mas em 2015, nossa previsão é de aumento de 10% nas bombas e 15% nas refinarias. Para a energia, de 17% — explica Adriana Molinari, analista de inflação da consultoria Tendências. Nas contas da Tendências, os preços administrados subirão 7,8% em 2015, frente aos 5,82% previstos para os livres. Já o IPCA fechará 2015 em 6,3%. Além da conta de luz e dos combustíveis, outro item que vai pesar no bolso dos brasileiros é a tarifa de ônibus. A previsão de reajuste em 2014 é de 8,8%, na média.
— No Rio de Janeiro, a passagem já subiu 9,1% este ano, mas em São Paulo não houve reajuste depois das manifestações de rua. E São Paulo tem peso importante no cálculo do IPCA — afirma Molinari.
ÁGUA TAMBÉM FARÁ PRESSÃO
Na estimativa da LCA, a conta de água (outro item administrado) também será um fator de pressão para a inflação em 2015. A consultoria prevê um reajuste de 12,3% na conta de água e esgoto, frente a uma queda de 0,96% este ano.
— O programa de descontos na tarifa para quem economizar água, introduzido pela Sabesp, termina em janeiro de 2015. Essa redução foi incorporada no cálculo do IPCA. Para o ano que vem, os reajustes voltam neste item — diz o economista da LCA Étore Sanchez, que calcula um aumento de 6,75% nos preços administrados e 6% para os livres no ano que vem. A economista Camila Abdelmalack, da CM Capital Markets, prevê que o novo governo, seja qual for, não vai conseguir adiar o aumento da gasolina, o que seria prejudicial às próprias contas.
— O Planalto precisará incrementar suas receitas, após uma série de medidas para incentivar a indústria — afirma ela, que prevê inflação de 6,4% em 2015 e alta de 7,08% nos preços administrados. Na previsão de consultorias ouvidas pelo GLOBO, o Banco Central (BC) terá que fazer novas elevações da taxa básica de juros (a Selic) para evitar que a inflação oficial supere o teto da meta estabelecida pelo governo. E mesmo com essa mexida nos juros, a expectativa é que o IPCA se mantenha pressionado em 2015, e encerre o ano acima de 6%. Na contas da Tendências, o governo elevará os juros até 12,5% no ano que vem, enquanto a LCA e a CM Capital Markets esperam que termine 2015 em 12%. Para a LCA, a primeira elevação de 0,25 ponto percentual já acontecerá na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para 20 e 21 de janeiro, já sob o novo governo. O economista Étore Sanchez, para quem a inflação fechará em 6,1%, lembra que os preços administrados, que vão pressionar o IPCA ano que vem, não são afetados pela Selic mais alta, como os preços livres. Juros elevados desestimulam o consumo, o que segura a alta de preços no comércio e nos serviços.
— Mas os preços administrados são regidos por contratos estabelecidos, e não caem com os juros mais altos. A Selic na casa dos 12%, em 2015, deve reduzir ainda mais a atividade econômica e, por isso, os preços livres subirão menos. Mas o IPCA se manterá próximo ao teto exatamente pela pressão dos administrados — diz Sanchez. Além das variáveis econômicas, a incerteza sobre o resultado da eleição presidencial também pesa nos cálculos. A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, negou que fará um “tarifaço” no setor de energia caso vença. Já os candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), vêm sinalizando que será preciso elevar consideravelmente o preço da conta de luz.




Fonte: O Globo



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