Grandes bancos reduzem ritmo de concessão de crédito.


Os maiores bancos do país estão indo na contramão do que deseja o governo federal para acelerar o baixo crescimento da economia. Em vez de aumentar a oferta, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, e até mesmo as instituições públicas, estão reduzindo o ritmo de expansão do crédito. E, segundo os próprios bancos, esse cenário não deve mudar a curto prazo, dificultando o incremento do consumo. A avaliação de bancos e analistas é que há um cenário de incerteza, com eleições presidenciais, baixa expansão do PIB e risco de maior inadimplência. Do lado da demanda, os consumidores estão endividados, com a capacidade de pagamento comprometida. Assim, evitam tomar crédito. — Os bancos estão muito mais conservadores na concessão de empréstimos, para evitar aumento da inadimplência — diz André Riva, analista da corretora mexicana GBM.
DEMANDA TAMBÉM RECUOU
Dados levantados pela Austin Rating, empresa de classificação de risco, mostram que, entre junho de 2010 e junho de 2011, Itaú e Bradesco elevaram em 20% a oferta de crédito, chegando a um estoque de R$ 316,9 bilhões e R$ 250 bilhões, respectivamente. Nos 12 meses seguintes, o ritmo de crescimento do crédito recuou para 12,6% no Itaú e para 11,3% no Bradesco. No ciclo seguinte (até junho de 2013), a desaceleração foi ainda maior: no Itaú, recuou para 6,3%, e no Bradesco, para 9,5%. Os balanços do segundo trimestre de 2014 mostraram aumento da oferta de crédito de 9,4% no Itaú e de 7,6% no Bradesco. Nos números do Santander, a Austin detectou o mesmo movimento. A oferta de crédito, que cresceu 16,6% entre junho de 2010 e 2011, despencou para 3,8% nos 12 meses encerrados em junho de 2014. Também nos bancos públicos, que vinham pisando no acelerador, o ritmo de concessão vem crescendo mais devagar nos últimos 12 meses. No Banco do Brasil (BB), a evolução da carteira cresceu de 17,4% para 25,2%, entre junho de 2010 e junho de 2013. Já nos últimos 12 meses, o crescimento despencou para 12,9%. Na Caixa Econômica Federal, a expansão do crédito caiu de um patamar de 42,5% para 28%, na mesma comparação. Até o fim do ano, o cenário não deve mudar. Bradesco e Itaú esperam crescer ao menos 10% em 2014, mas ambos consideram que será difícil chegar a esse patamar. No BB, a estimativa é de expansão entre 14% e 18%. O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, lembra que, se a oferta de crédito está mais fraca, a procura por novos financiamentos também perdeu fôlego. A alta dos juros tornou os empréstimos mais caros, e o avanço da inflação impacta negativamente a demanda. — A confiança do consumidor está em queda, com perspectiva de crescimento mais fraco da economia, o que pode sinalizar desemprego. O ritmo está mais fraco na oferta e na demanda por crédito, o que tem impacto negativo no crescimento do país — explica Rabi. Nos números da Serasa, a demanda por crédito encolheu 6,2% nos primeiros sete meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Olhando os 12 meses passados, até julho, a queda é de 10,2%. O volume do crédito pode até crescer menos, mas o lucro dos bancos tem subido devido ao aumento dos juros, movimento que ficou mais evidente nos resultados do segundo trimestre. Também pesa o incremento das receitas de serviços, que constituem uma forma de as instituições financeiras elevarem os ganhos com baixo nível de risco, como a oferta de seguros e a anuidade de cartões. Na avaliação de Eduardo Nishio, analista do banco Brasil Plural, o aumento dos juros e das receitas deixam os bancos mais rentáveis, mesmo com o cenário incerto sobre o crescimento da economia. — Essa dinâmica será a mesma até o final do ano — prevê o especialista.



Fonte: O Globo




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