O Brasil está se distanciando dos países de
mais elevada eficiência na capacidade de produzir nas últimas três décadas.
Isso está limitando o crescimento da economia e os avanços da qualidade de vida
dos brasileiros. Entre 1983 e 2013, a produtividade do trabalhador brasileiro
recuou em relação à do americano. Há 30 anos, cada trabalhador brasileiro
produzia cerca de 25% do que um americano. Em 2013, caiu para 20%. Na China,
Índia, Taiwan e Coreia do Sul por exemplo, ocorreu o oposto. Eles melhoraram
sua eficiência. Na China essa relação subiu de 5% para 20% neste período. Os
dados foram apresentados pelo economista José Alexandre Scheinkman, professor
das universidades americanas Columbia e Princeton. Ele participou de evento
organizado pela revista "Exame", em São Paulo. O economista alertou
ainda que a produtividade total da economia (que inclui o uso do capital, além
do trabalho) também recuou no Brasil nos últimos 20 anos. Nos demais países
citados, ela aumentou. A conclusão do economista é que o Brasil não está
conseguindo absorver as evoluções técnicas globais. Segundo ele, a pouca
educação dos trabalhadores explica parte dessa perda de eficiência. Mas o
investimento também caiu muito.
'DESCULPA
ABSURDA'
Scheinkman criticou o que chamou de
"discurso da desculpa", adotado no Brasil de que o país é muito
complexo e, por isso, não pode crescer mais do que os mais eficientes, como
EUA. "Esse discurso da desculpa é um absurdo", afirma. O Brasil,
disse ele, tem que crescer para melhorar a qualidade de vida da população. Para
ele, não existe discrepância entre buscar o crescimento do PIB e a melhora dos
indicadores sociais. "Não há nenhum choque entre crescer e crescer
melhor", afirmou ele. "Um exemplo é o Bolsa Família, trouxe melhoria
da qualidade de vida sem um custo alto. Pesquisas mostram que países com uma
melhor distribuição de renda tendem a crescer mais. Não há concorrência entre
as duas coisas." Para ele, muitas das famílias que recebem hoje o
benefício poderiam se beneficiar "muito mais" de um crescimento
maior. Scheinkman enumerou algumas medidas para elevar a eficiência, entre as
quais melhorar as regras e o ambiente de negócios. Porém, na sua avaliação, é
relevante uma reforma tributária. "A reforma tributária tinha que estar no
topo da agenda dos candidatos", afirmou. "Quanto mais se aprende
sobre o tema, mais se reconhece que é uma confusão total." Durante os
próximos quatro anos, o Brasil deve crescer abaixo da média da última década, com
inflação superior à meta de 4,5% e juros acima de 10%. O próximo presidente
terminará o período de governo, no entanto, com números melhores do que os
verificados em 2014. Essas previsões fazem parte da pesquisa semanal Focus, do
BC, que reúne as projeções para a economia de cerca de cem analistas de
instituições públicas e privadas.
Fonte:
Folha SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário