Mercado já discute
se o BC vai aumentar novamente a taxa Selic em 0,25 ponto ou se vai elevar para
0,5 ponto na próxima reunião do Copom.
Uma questão interessante é saber como a
aparente escolha de um caminho ortodoxo para a política econômica no segundo
mandato deve influenciar as próximas decisões do Comitê e Política Monetária
(Copom) do Banco Central (BC). Na próxima semana, o Copom reúne-se e uma dúvida
do mercado é se elevará a Selic novamente em 0,25 ponto porcentual (como no deslanchar
deste ciclo de aperto monetário, ocorrido na última reunião no fim de outubro)
ou se vai acelerar o ritmo para 0,5 ponto porcentual. A Selic está em 11,25%. A
opção de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e de Nelson Barbosa para o
do Planejamento significa que deve ser tentado um consistente ajuste fiscal.
Levy, com sua aura ortodoxa, encarna essa ideia. Barbosa, um heterodoxo
moderado e flexível, deu claras demonstrações nas suas intervenções públicas
desde que saiu do governo Dilma Rousseff de que consertar a política fiscal é
uma de suas maiores prioridades. O Banco Central deve continuar a ser comandado
por Alexandre Tombini. Nos seus quatro anos à frente da instituição, que
correspondem ao primeiro mandato da presidente Dilma, Tombini praticou uma
política monetária que deixou a inflação próxima ao teto do sistema de metas
(6,5%) e desancorou as expectativas, inclusive de longo prazo. Há duas
explicações para esse desempenho - é possível até mesmo que ambas estejam
corretas. Uma é a de que o próprio Tombini como autoridade monetária tende para
o lado “pombo” (“dove” em inglês), isto é, revela-se mais sensível aos riscos
de atividade econômica do que ao risco inflacionário. A segunda explicação é
que ele teria se deixado subjugar por orientações do Palácio do Planalto. De
qualquer forma, é certo que um dos grandes percalços do BC foi a deterioração
da política fiscal, que aumentou o fardo da política monetária. Assim, uma
possível linha de raciocínio agora é de a que, com a perspectiva de que Levy e
Barbosa implementem um ajuste fiscal para valer, retira-se um peso dos ombros
do BC e Tombini pode ficar mais tranquilo para praticar a política monetária
gradualista mais ao seu gosto. Essa hipótese reforçaria a previsão de que o
Copom deverá manter o ciclo de aperto, com aumentos da Selic de 0,25 ponto
porcentual por reunião. “Essa nova equipe econômica é mais fiscalista, e quanto
maior o aperto fiscal, menor precisa ser o aperto monetário”, diz Juan Jensen,
economista-chefe da consultoria Tendências, que prevê que o ritmo da alta
permaneça em 0,25 na reunião da próxima semana. Jensen acrescenta que a
inflação corrente tem surpreendido positivamente, e a trajetória de
desvalorização do real aparentemente foi interrompida, o que pode ter sido
parcialmente causado pela escolha da nova equipe econômica. São outros fatores
a pesar em favor do ritmo de 0,25 ponto porcentual. Ele lembra também que três
diretores votaram pela manutenção da Selic na reunião de outubro, alegando
incertezas que permanecem. Mas há outra corrente que prevê uma aceleração do
ritmo de elevação da Selic para 0,5 já na próxima reunião do Copom. Em texto
divulgado terça-feira, Ilan Goldfajn e Luiz Cherman, economistas do Itaú
Unibanco, reveem suas projeções, prevendo agora altas de 0,5 nas reuniões de
dezembro e de janeiro, com uma elevação adicional em março. A Selic iria até
12,5%. José Márcio Camargo, economista-chefe da gestora Opus, e Carlos Kawall,
economista-chefe do banco J. Safra, já previam a elevação do ritmo da alta para
0,5 na próxima reunião antes da divulgação da nova equipe econômica. Ambos
consideram que os novos nomes reforçam este cenário. A ideia seria a de que a política
econômica como um todo vai caminhar na direção de um ajuste mais decisivo e
menos a conta-gotas.
Fonte:
O Estadão
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