Copom eleva Selic a 12,25%.

Aumento de 0,5 ponto percentual, a terceira alta consecutiva da taxa básica, foi decidido por unamidade. No curto comunicado ao mercado divulgado ao final da reunião, foi retirada a expressão ‘parcimônia’, indicando ação mais enérgica do BC no combate à inflação.

O Comitê de Política Monetária decidiu ontem, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros para 12,25% ao ano. Pesquisa do Jornal do Commercio e da agência Bloomberg, publicada na edição de segunda-feira, mostrou que as expectativas dos analistas do mercado eram praticamente unânimes de alta de 0,5 ponto da Selic, diante do quadro de inflação elevada e de um cenário cada vez mais claro de estagnação econômica. No enxuto comunicado divulgado após a reunião, a primeira de 2005, foi retirada pelos diretores do Banco Central (BC) a expressão "parcimômia". Segundo o texto, "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,5 p.p., para 12,25%, sem viés". A expectativa é que na quinta-feira da semana que vem a ata do encontro de ontem aprofunde os motivos que levaram o colegiado a tomar essa decisão. A próxima reunião está marcada para os dias 3 e 4 de março. A terceira elevação consecutiva dos juros pelo BC se dá logo depois de um anúncio de alta da carga tributária e faz com que a taxa atinja o maior nível desde julho de 2011, quando estava em 12,5% ao ano. Em março de 2013, a Selic foi fixada em 7,25%, seu menor nível histórico. De lá para cá, ela foi majorada 12 vezes. A decisão de ontem foi tomada dois dias depois que o Ministério da Fazenda aumentou impostos de importação, sobre o crédito, sobre o setor de cosméticos e sobre os combustíveis, além de anúncios de reajustes nas contas de luz. As medidas podem ser um agravante para a já esperada estagnação da economia este ano. Mais cedo, na Suíça, onde está para o Fórum Econômico Mundial, o titular da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o Brasil poderá ter Produto Interno Bruto (PIB) negativo em algum dos trimestres de 2015 e que o desempenho da economia estaria próximo a zero. Apesar disso, as ações do governo foram bem recebidas pelo mercado porque significariam maior austeridade, ajudam na eficácia da política monetária e auxiliaram até na valorização do real, o que é um problema a menos para a inflação que o BC promete controlar. A questão é que, ao mesmo tempo, esse aumento da carga gera outras pressões sobre os preços, principalmente os administrados pelo governo, que já estão mais sobrecarregados este ano. O BC vem alertando desde o final do ano passado que a inflação do começo de 2015 será elevada – no relatório de mercado Focus, a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, por exemplo, está em 1,1%. O presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, porém, afirma que entregará a inflação na meta de 4,5% no encerramento de 2016, num processo de desaceleração que começaria
ainda este ano.
Acima do teto
Depois do anúncio de mais impostos na segunda-feira, no entanto, as estimativas para a inflação deste ano subiram e já indicam que o IPCA vai romper o limite superior de tolerância de 6,5%. Já é esperada taxa acima de 7%, o que seria a maior desde 2004, quando ficou em 7,6%. O discurso da autoridade monetária, no entanto, é de que ao longo do ano haverá enfraquecimento das taxas a ponto de permitir que o BC entregue a inflação no centro da meta de 4,5% em 2016. As incertezas internacionais também formaram um cenário de fundo para a decisão da diretoria do BC. Há expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) adote em breve um relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) já testado pelos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, o preço do petróleo está cada vez mais baixo e o franco suíço acumula uma valorização de quase 40% em uma semana. Para discutir as transformações econômicas globais de perto e levar uma mensagem de confiança sobre o Brasil aos investidores internacionais, o presidente do BC, Alexandre Tombini, embarca para a Suíça e se junta a Levy em Davos. O economista do banco Barclays Bruno Rovai acredita que o curto comunicado do BC indica que o Copom pode adotar mais dois aumentos de juros nas reuniões de março e abril, em razão do cenário menos favorável para a inflação no primeiro semestre. "A mensagem do BC deve ter sido influenciada por uma condição mais difícil para o IPCA até junho, especialmente com maiores pressões de alta dos preços vindas sobretudo de aumentos de gasolina e de eletricidade", comentou.
Mudança
Rovai avaliava, antes do comunicado divulgado pelo BC, que o terceiro ciclo de aperto monetário do governo Dilma Rousseff, iniciado em outubro, seria encerrado no dia 4 de março, quando a taxa básica avançaria de 12,25% para 12,5%. Contudo, ele pondera que mais uma elevação poderá ser adotada no dia 29 de abril. E acredita a Selic encerrará o ano em 12,25%, pois estima que o Copom voltará a cortar a taxa no dia 25 de novembro, quando será encerrada a última reunião de 2015. Com a confirmação da elevação em 0,5 ponto percentual da Selic, a agência classificadora de risco de crédito Austin Rating projeta que o BC deve realizar mais dois aumentos de 0,5 ponto nas reuniões de março e abril, encerrando o ciclo de alta de juros iniciado em outubro de 2014. De acordo com o economista-chefe da Austin, Alex Agostini, essa projeção leva em conta um cenário marcado por uma inflação alta e que, portanto, ainda exigirá uma "ação enérgica" do Banco Central por meio da política de juros. O analista pondera, contudo, que trabalha com um cenário alternativo, caso os indicadores de inflação arrefeçam, com altas de 0,5 ponto em março e de 0,25 ponto em abril. "Depois disso, a Selic ficaria um tempo estável até ao menos o final do ano. Seria aquela parada técnica do Banco Central para avaliar os efeitos do aumento de juros", afirmou Agostini. Diante desse cenário e com o recente aumento de impostos anunciado pelo governo, a Austin Rating projeta que o IPCA deve encerrar 2015 em 7%, ante previsão anterior de 6,8%. Na avaliação da economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, o comunicado divulgado pelo Copom deixa espaço para diferente movimentos na política de juros no futuro. "É um comunicado que deixa espaço tanto para redução de ritmo do aumento de juros ou manutenção. Não é um comunicado que dá muitas pistas", afirmou. A economista destacou que a decisão ficou em linha com o consenso do mercado e que também era esperado que houvesse essa alteração no comunicado. Mesmo com o conteúdo mais sucinto do comunicado do Copom, Alessandra disse que mantém inalterada a sua previsão para a trajetória da Selic nos próximos meses. "Em março, acreditamos em mais uma alta de 0,5 ponto e uma alta derradeira de 0,25 ponto em abril", afirmou.
Indústria
A Confederação Nacional da Indústria criticou a decisão do Copom. Segundo a CNI, o aumento dos juros dificultará recuperação da economia, pois os efeitos diretos da elevação dos juros são o aumento dos custos dos financiamentos, a dificuldade de acesso ao crédito e a consequente redução do consumo das famílias e dos investimentos das empresas. De acordo com a entidade, manter a estabilidade e buscar o ajuste fiscal é importante para criar um ambiente de credibilidade e confiança no País, que estimule os investimentos e a competitividade da indústria brasileira. Para a Força Sindical, a alta da Selic vai deprimir ainda mais a economia, que cresceu muito pouco no ano passado, e vai agravar a situação da indústria. Em nota, a entidade diz que a medida é contrária a qualquer projeto de desenvolvimento para o País. "Esta medida nefasta, além de manter a taxa Selic em patamares proibitivos e colocar à mostra a insensibilidade do governo ante as demandas da classe trabalhadora, impede o crescimento da produção, do consumo e a geração de empregos", cita a nota da Força Sindical, assinada pelo presidente da entidade, Miguel Torres. (Com agências)






Fonte: JC

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